O Festival Literário Internacional de Óbidos – Folio irá decorrer entre 19 e 29 de Outubro e terá por temática as “Revoluções, Revoltas e Rebeldias”. A diminuição do apoio do Turismo do Centro a esta iniciativa obrigou o evento a reinventar-se, contando agora com mais parcerias e tornando-se mais internacional.
Na primeira apresentação pública desta edição, que decorreu no passado dia 9 de Junho em Lisboa, foram confirmados vários autores e artistas de 14 nacionalidades e que representam os cinco continentes. Haverá concertos produzidos exclusivamente para o festival, exposições, mesas redondas, cursos e também um espectáculo de rua criado de raiz para o Folio pelo actor Pedro Giestas que assinala os 35 anos do livro Memorial do Convento.
O Museu do Aljube, em Lisboa, (antiga prisão política da ditadura) foi o local escolhido pela organização do Folio para apresentar a sua terceira edição, dedicada às “Revoluções, Revoltas e Rebeldias”. A temática vem já da edição anterior e foi sugerida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aquando de uma das suas visitas ao evento no ano passado.
Este ano o festival “reinventou-se” e terá um modelo diferente, na sequência da diminuição do apoio do Turismo do Centro (que no primeiro ano foi de meio milhão de euros). De acordo com a vereadora Celeste Afonso, esta edição é muito mais participada, contando com programação também dos parceiros. Por exemplo, a Fundação Inatel garante grande parte da programação ao nível da música e as editoras trazem a Óbidos os seus autores.
A também directora do Folio salientou que este será o mais internacional de sempre, estando já confirmada a presença de pelo menos 27 autores de 14 nacionalidades e de cinco continentes. As cidades criativas da Unesco, Granada (Espanha) e Heidelberg (Alemanha) trazem uma programação que mistura música e literatura, enquanto que Montreal (Canadá), classificada como Cidade do Design, trará vários autores a Óbidos.
De acordo com José Pinho, responsável da Ler Devagar e coordenador do festival, este ano haverá mais actividades, mais autores e mais música. “Houve um aumento do programa, mas cabe-nos gerir menos pois os nossos parceiros estão a ajudar-nos”, explicou. Os números do orçamento para esta edição ainda não estão fechados, mas Celeste Afonso estima que a sua produção ande na casa dos 200 mil euros, o mais baixo para a autarquia.
O ano passado o orçamento total foi de mais de um milhão de euros, sendo 595 mil euros da Câmara e quase meio milhão de fundos da União Europeia. Os organizadores dizem que o orçamento total deste ano não será menor, mas que estará dividido pelos vários parceiros, que suportam as iniciativas. “Não conseguimos contabilizar o apoio que os nossos parceiros nos dão. Provavelmente o orçamento total é superior ao do ano anterior”, concretizou José Pinho.
O modelo do festival também muda nesta edição, que deixará de contar com a curadoria do escritor José Eduardo Agualusa no Folio Autores e da jornalista Anabela Mota Ribeiro na Folia. Celeste Afonso explicou que “não havendo um orçamento definido para cada área, não havia uma programação para curar”. Mantém-se no Folio Educa a curadoria de Maria José Vitorino, que este ano propõe tertúlias, workshops e mais um seminário internacional, que contará com especialistas da Austrália, Espanha, Itália, Estados Unidos e Portugal. Também a livreira Mafalda Milhões continua a fazer a curadoria do Folio Ilustra, que contará com a presença de ilustradores nacionais e internacionais.
A deputada municipal do PS em Óbidos, Cristina Rodrigues, fez questão de estar presente na apresentação do Folio para manifestar o apoio da oposição junto das entidades presentes. “Isto é um trabalho conjunto e nós queremos estar convosco nesse processo”, disse.
A dirigente socialista reconheceu que nem sempre concordam com os eventos que decorrem em Óbidos, mas que foram desde sempre apoiantes deste festival e manifestou a sua satisfação com a “abordagem que fizeram e com as pessoas que vão conseguindo trazer”.
Esta edição irá decorrer em Outubro, já depois das eleições autárquicas, que se realizam a 1 de Outubro.
Presentes na conferência de imprensa estiveram jornalistas de vários orgãos de comunicação social, nacional e regional, nomeadamente da Antena 1, Rádio Renascença, Lusa, Diário de Notícias, Jornal das Caldas, e de vários blogs ligados à literatura, que já produziram diversas peças sobre o festival.
Espetáculos inéditos
O músico e compositor Rodrigo Leão estreará no Folio uma nova versão do espectáculo “A vida secreta das máquinas” e Maria João apresentará, pela primeira vez em Portugal, o seu espetáculo com leitura musical da obra do brasileiro Aldir Blanc.
A fadista Aldina Duarte dará um espectáculo, que contará com a participação especial de Carlão. Durante os 11 dias de festival irão também actuar Vitorino e Chullage, Norberto Lobo e Cante Alentejano, Sterossauro e um grupo de cantadeiras, e o espanhol Luís Pastor com um concerto de canções de intervenção.
De Moçambique chegará “O Aceitador do Medo”, uma exposição de Gonçalo Mabunda, artista que se destaca pelas esculturas construídas com arsenal bélico desactivado. Da Rússia virá um concerto, cinema e teatro. O actor Pedro Giestas está a preparar um espectáculo de rua, com a comunidade, que assinala os 35 anos da primeira edição do Memorial do Convento, de José Saramago.
O escritor Gonçalo M. Tavares estará em Óbidos para dar um curso de literatura, artes e cultura contemporânea, haverá aulas sobre Camilo Pessanha e debates sobre Cervantes, autoras feministas do século XIX e o futurismo.
Haverá também o lançamento de livros como “Na vanguarda da luta armada”, de Isabel Carmo, a reedição de “O Mal”, de Paulo José Miranda, e debates temáticos, de que se destaca as contra-revoluções, os serviços secretos e a revolução, a revolução islâmica, bem como o lançamento de uma Granta Folio, com música, conversas, apresentações de livros e tertúlias.
Um vasto leque de escritores
Os vencedores do prémio Camões de 2017 e de 2016, respectivamente Manuel Alegre e o brasileiro Raduan Nassar, estarão presentes no Folio, que tem já confirmados perto de 30 escritores de oito países (Portugal, Canadá, Croácia, Brasil, França, Hungria, Colômbia e Espanha). Nomes sonantes da literatura portuguesa como Mário de Carvalho, Dulce Maria Cardoso, Mário Cláudio, Henrique Monteiro, Anabela Mota Ribeiro, Pedro Norton, Valter Hugo Mãe, José Milhazes e o caldense Carlos Querido também marcarão presença.
Do Canadá estão confirmados os nomes de Anaïs Barbeau-Lavalette, Joseph Boyde, Rosemary Sullivan e Patrice Lessard, no âmbito da parceria com o Festival Littéraire International de Montréal – Metropolis Bleu.
Da Croácia são esperados Sibila Petlevski e Ivana Bodrozic, da Sociedade de Escritores Croatas.
Do Brasil virão Milton Hatoum, Tati Bernardi e António Prata, e de França estão já confirmados os autores Laurent Binet e Maylis de Kerangal. A estes juntam-se o húngaro Viktor Sebestyen e os columbianos Jerónimo Pizarro e Plínio Apuleyo Mendoza.
Da vizinha Espanha virá o premiado Fernando Aramburu, autor de “Pátria”, um romance que fala sobre a acção e o fim do grupo terrorista ETA e que só chegará às livrarias portuguesas em Março do próximo ano. Estará em Óbidos também Dolores Redondo, vencedora do Prémio Planeta 2016, J. A. González Sainz e César Antonio Molina, este último ex-ministro da Cultura de Espanha. F.F.