Com a peça “Ruy, a História Devida”
O decano do teatro português, Ruy de Carvalho, esteve a apresentar a peça “Ruy, a História Devida” no auditório municipal da Casa da Música, a 25 de junho, no âmbito do festival de Teatro em Óbidos. Pela primeira vez naquele espaço, que considerou “maravilhoso” e o “único teatro” debaixo do solo que conhece, o ator veio contar um cento de histórias acerca da sua carreira, ao lado de Luís Pacheco, colega de palco em “A Ratoeira” (ainda em digressão).
Histórias como aquela que teve lugar no início dos anos 1950, em Castro Verde, durante a tourné que estava a fazer com o Teatro do Povo. A trupe apresentava três peças: o “Auto de Santo António”, de Gustavo Matos Sequeira, “O Jovem Mentiroso”, de Molière e, no último dia, o “Rei Lear”. Na altura, Ruy ainda não era o protagonista da peça de Shakespeare, papel que viria a desempenhar em 1998, e que é um marco na sua carreira. Encarnava Edmundo, o filho bastardo do Conde de Gloucester, que queria acusar o irmão de tentativa de homicídio. “Quando ia a fazer o gesto de cortar o braço, para depois dizer que tinha sido o meu irmão, veio um senhor da plateia e bradou: ‘Alto, que eu mato-o se você faz isso!’. Se não fosse o guarda republicano, tinha ficado esmagado”, contou o ator de 96 anos e 81 de carreira. Mas o caso foi esclarecido. “Sr. Ruy, desculpe, que eu ontem excedi-me. Tenho um caso parecido lá em casa e fiquei muito excitado”, confessou o espectador, que, interpretado pelo ator, fez gerar uma onda de gargalhadas.
O Teatro em Óbidos, que esteve na sua segunda edição, realizou-se entre 4 e 27 de junho. “Estamos muito satisfeitos com o facto das pessoas terem aderido bastante, mas queremos começar a enraizar que junho é o mês do teatro em Óbidos”, esclareceu a vereadora da cultura, Margarida Reis, que acrescentou que houve “mais grupos a participar” em relação ao ano passado. Em cena estiveram os quatro grupos de teatro amador das freguesias do concelho e as turmas dos 3.º e 4.º anos das escolas de Óbidos, que têm a disciplina de teatro.
O festival teve um orçamento situado entre 15.000 e 20.000 euros e voltará para o ano. Mas, até lá, há para apreciar, no Folio, peças de alguns daqueles grupos de teatro, que assim se estrearão no festival literário. ■