Concerto da cantora norte-americana e trio franco-italiano fechou a décima edição num grande auditório do CCC praticamente lotado. Atuações internacionais com cerca de 2.000 espetadores
Foi ao som da voz inconfundível de Samara Joy que se encerrou, no passado sábado, a décima edição do Caldas nice Jazz, num grande auditório do CCC bem composto.
Pasquale Grasso Trio, um trio musical composto por Pasquale Grasso (na guitarra), Dario di Lecce (no contrabaixo) e Steve Brown (na bateria), começou a tocar a todo o gás, abrindo caminho para a voz de Samara Joy, que começou o concerto com um “Boa noite! Estou muito feliz por cantar por vocês pela primeira vez nas Caldas da Rainha”, num Português bastante aceitável e começou a ganhar a plateia. Tal aconteceu quando mostrou a sua voz, mas também o humor e boa-disposição sempre que interagia com o público. E foi assim que quebrou as barreiras e conseguiu a participação do público, quando os colocou a trautear e a cantar. “Estavam hesitantes, mas vocês cantam bem!”, atirou a vocalista.
Num repertório melódico, bastante virado para o romance, foram sendo tocados temas como “Lock my heart and throw away the key”, “Easy to see the problem with me is you” e “I’ll always love you”, que a cantora aproveitou para criar um momento mais intenso na sala: “quero que todos os casais olhem nos olhos um do outro e cantem comigo esta música”, desafiou. O público respondeu e Samara concluiu: “isto foi bonito!”.
A meio do concerto disse também que estavam tristes de ir embora. “Têm que nos voltar a convidar, a comida portuguesa é fantástica”, disse. Já depois de uma grande ovação na última música, houve encore e Samara voltou a mostrar o seu agrado com a vinda a este festival: “bem, cancelem a viagem para Londres, nós vamos ficar em Portugal!”, brincou. E mal começou a cantar, o público fez questão de lhe agradecer o serão, com uma audível salva de palmas, que se repetiria no final do encore.
O último fim de semana do festival arrancou, na passada quinta-feira, com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, que atuou no certame pelo quarto ano consecutivo. “Sentimo-nos em casa”, considerou o maestro Pedro Guedes, que liderou um agrupamento que apresentou “Viagem pelo Jazz Português: Novos Talentos” com Tomás Marques. O jovem saxofonista mostrou grande virtuosismo num concerto que atravessou temas das big bands norte-americanas até alguns temas mais atuais. O envolvimento do público valeu o regresso para um encore, claro está.
Décima edição do festival contou com cerca de dois mil espetadores pagantes nos vários concertos no centro cultural das Caldas
Dez anos de História
Após mais uma edição de um evento que nasceu em 2012, o mentor do Caldas nice Jazz considera que o festival “recomenda-se” e “pode ser uma referência nacional e internacional”. Uma década volvida, Carlos Mota, diretor do CCC, não tem dúvidas em afirmar que “Caldas já está na História do Jazz português dos últimos cem anos”.
O evento tem cumprido a sua função de ter um caráter internacional, mas dando espaço à música portuguesa e que, por outro lado, consiga envolver as estruturas musicais existentes no concelho, nomeadamente as filarmónicas.
A mistura entre o jazz clássico americano e sonoridades portuguesas e europeias, o dar voz às rainhas do jazz e o ter nas Caldas os valores emergentes deste estilo musical foram outras das pretensões atingidas. A tudo isto acresce a vontade de extravasar as fronteiras do centro cultural e envolver toda a cidade, com concertos nos locais mais improváveis, como cafés, escolas, ruas da cidade e até no terminal rodoviário, onde anualmente uma filarmónica do concelho mostra que estas também sabem tocar jazz.
Ao longo dos anos houve várias iniciativas marcantes, como a experiência da Big Band ou o programa “O Jazz vai às Escolas”, que não continuou por falta de apoios, mas que pode ser novamente colocado em prática caso exista interesse.
A edição deste ano ainda esteve sujeita a várias regras de segurança devido à Covid-19, mas foi bastante mais fácil de organizar do que a do último ano, em plena pandemia (porque o festival nunca parou). “Houve duas bandas que estavam previstas para o cartaz deste ano e que não puderam vir, um duo da Colômbia e Suíça e uma banda do Japão”, esclareceu Carlos Mota. Ainda assim, “foi muito mais fácil do que no último ano em que foi preciso reprogramar duas vezes o festival, devido à ausência de bandas internacionais”.
Para o próximo ano, tudo “dependerá das novas estruturas municipais”, mas na cabeça de Carlos Mota o desenho do evento está feito e os concertos internacionais delineados. ■