Season Impulso abriu no feminino e com muito talento

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A Garota Não apresentou nas Caldas o álbum 2 Abril, considerado um dos melhores de 2022

Foram mulheres, as primeiras a subir ao palco do CCC. Femme Falafel e A Garota Não são projetos para acompanhar

O que têm em comum uma caldense de coração e uma setubalense? Muito talento e algum ativismo caracterizam Femme Falafel e A Garota Não, artistas que fizeram o primeiro espetáculo do Season Impulso, a 17 de fevereiro, no CCC. Com casa cheia, ambas arrancaram aplausos das centenas de pessoas que se reuniram para ouvir as amarguras, algumas bem sarcásticas, de Femme Falafel, o projeto de Raquel Pimpão, artista que passou infância e juventude nas Caldas. Seguiu-se A Garota Não, projeto da cantautora Cátia Oliveira que trouxe ao palco maior das Caldas o seu disco “2 de Abril”, considerado o melhor de 2022 por vários jornais e revistas.
Antes da atuação, as duas artistas conversaram com Gazeta das Caldas. Raquel Pimpão, de 27 anos, contou que este seu projeto, pop e com um pouco de disco, e cantado em português, já vem desde os tempos em que estudava piano jazz. Até aos 18 anos, viveu nas Caldas e frequentou o Conservatório local. “Já gravámos os temas que eu gostaria de lançar até ao final do ano”, disse Raquel Pimpão que já tem outro concerto marcado, para março, em Lisboa.
A artista tem saudades das Caldas e até pensa em regressar. “Gosto bastante de ir ao Parque”, referiu a autora que quer viver da música e que também se dedica ao ensino. Raquel Pimpão, que já tinha atuado no CCC com Fumo Ninja e com Nádia Schilling, foi agora acompanhada por Francisco Santos na bateria, Tiago Martins no baixo e Lana Gasparotti nas teclas e sintetizadores. Em nome próprio, a cantora apresentou temas como “Depressão”, “Eletrocardio Drama”, “Mitra Indie” e “Rio” que revelam uma artista observadora da realidade e que gosta de a descrever com humor e sarcasmo.
Cátia Oliveira partilhou que A Garota Não está a viver uma fase onde está a colher o que semeou. Numa só semana, a artista tocou com dois dos seus ídolos, Sérgio Godinho e Jorge Palma. “Sou uma miúda da rua que gosta de música”, disse a artista setubalense que não teve aulas de canto, apesar de tocar alguns instrumentos, até para compôr.
Muitos dos seus temas são de intervenção e a de ativismo e nas Caldas, não foi exceção. “Mesmo quando são canções de amor procuro uma escrita que traga alívio e alguma aprendizagem”, disse a cantautora que vai continuar em digressão com 2 de Abril e está a preparar um novo álbum “Ensaios” para apresentar ainda em 2023.
No palco do CCC, Cátia Oliveira foi acompanhada por Sérgio Mendes (guitarra) e por Diogo Sousa (bateria). Com grande à vontade, a artista foi conversando com o público sobre canções que se estreavam em palco como foi o caso de “A Vida é Hoje” e sobre os próprios temas como “422” (milhões de euros), o número referente aos lucros da Galp, no primeiro semestre de 2022. Com “Mulher Batida”, Cátia Oliveira falou sobre a violência doméstica e mostrou, num grande caderno de argolas, todos os nomes das 28 mulheres que foram mortas em 2022 pelos companheiros.
Tempo ainda para homenagear os Sem Terra do Brasil com uma versão de “Morte e Vida Severina” e de uma reflexão para a falta de investimento e investigação sobre doenças como a esclerose lateral amiotrófica, que vitimou a mãe da cantora. E que é expresso no canção “A morte não sabe contar”.
Além das canções de 2 de Abril o bairro onde viveu infância e juventude, Cátia Oliveira interpretou canções do primeiro trabalho, “Rua das Marimbas” como “Mundo do Avesso” e ainda “No dia do teu casamento”. Esta última foi um dos encores, aplaudidos de pé.
A programação do Impulso continuará com NICØ, Marina Herlop e Expresso Transatlântico a 24 de março. Além dos concertos, o Impulso contará com exibição de filmes e exposições em parceria com entidades como o Doc Lisboa e com a ESAD.CR. ■