Tiago Mileu – o pianista que surpreende o público nos seus recitais no Museu Malhoa

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Gazeta das Caldas
Tiago Mileu tem tocado no Museu Malhoa e vai passar a dar concertos no CCC
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Chama-se Tiago Mileu, tem 25 anos, é pianista e tem vindo a surpreender toda a gente com o seu virtuosismo nos recitais que dá aos domingos no Museu Malhoa. Aos 14 anos este jovem foi considerado uma grande promessa nacional do piano, mas a sua carreira sofreria um sério revés devido a uma depressão, de que viria a recuperar, sobretudo depois de ter vindo morar para a Foz do Arelho em 2014.
Actualmente é professor na Academia de Música.
Gazetadas Caldas foi conhecê-lo e traça o perfil deste músico, que no próximo mês vai começar a dar concertos no café-concerto do CCC.

Tiago Mileu tinha apenas oito anos quando entrou para o Conservatório Regional de Portalegre e os primeiros anos de aprendizagem serviram para explorar o piano, por incentivo da mãe. Aos dez anos percebeu que a sua ligação à música era séria. Aos 11 interpretava já temas de Chopin, Fragoso e Schuman para a Antena 2 e a partir daí começou a apresentar-se em eventos culturais na sua terra natal. Era chamado, por exemplo, para actuar em homenagens ou apresentações de livros.
Aos 12 anos Tiago Mileu foi viver com a sua mãe (separada do pai desde que Tiago era pequeno) para o Fundão com a perspectiva de entrar para a Academia de Música.
Segundo o próprio, a vida nessa altura não era nada fácil e mãe e filho viviam com dificuldades financeiras.
“Era um meio mais pacato e no início tudo corria bem pois esperava ter o acompanhamento com uma professora russa”, disse o músico, que integrou aquela academia em 2004 e começou logo a dar nas vistas, dada a maneira como tocava piano. Surgiram os convites e Tiago passou a actuar nos melhores palcos nacionais, desde o Centro Cultural de Belém até ao Teatro S. Luiz. As distinções não tardaram a chegar, até mesmo a nível internacional: obteve o 1º prémio do Concurso Internacional de Piano de San Sebastián (2005), o 2º prémio do Concurso Alexandre Scriabin (Paris, 2005) e o 1º prémio do Concurso de Piano Compositores de Espanha (Vigo, 2005). Foi também premiado na Polónia.
Tiago Mileu possui ouvido absoluto, isto é, reconhece de imediato as notas musicais.

NA FOZ DO ARELHO

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Aos 14 anos, Tiago Mileu vivia o auge da sua então curta carreira e chamou também a atenção da viscondessa de Morais, que morava no palacete em frente à praia da Foz do Arelho. A viscondessa era melómana e reconheceu o virtuosismo de Tiago Mileu, através das suas gravações feitas para a Antena 2.
Soube então que o jovem, que vivia apenas com a mãe, tinha dificuldades financeiras, não conseguia prosseguir os seus estudos e prontificou-se a ajudar.  “A Viscondessa queria ouvir-me em sua casa”, disse Tiago Mileu, que até gostaria de ter tocado para a viscondessa, mas a sua mãe não achou boa ideia, dado que não conseguiu falar pessoalmente com a futura mecenas. É que havia intermediários interessados em servir de agentes do jovem músico e a mãe de Tiago não confiava neles. “Havia muitos interesses à minha volta, pessoas que a minha mãe não conhecia e ela preferiu dizer que não”, contou Tiago Mileu.
“Lembro-me bem de uma entrevista que a viscondessa de Morais deu à Antena 2 onde a questionavam sobre o que é que ela mais valorizava na arte e nos artistas”, recordou Tiago Mileu. A viscondessa terá respondido: “a autenticidade”. E isso foi algo que o marcou pois concorda inteiramente com ela. “Foi um momento que me deu uma certa força quando precisei e vou continuar a procurar ser o mais autêntico que puder”, acrescentou o intérprete.

A DEPRESSÃO

O grande frenesim em sua volta, a projecção que estava a obter e a responsabilidade que isso acarretava, fizeram com que o talentoso pianista começasse a deprimir. Tinha então 16 anos. Também por esta altura, a mãe foi hospitalizada, tendo-lhe sido diagnosticada uma doença autoimune (Sarcoidose).
Fragilizado, Tiago Mileu vê-se sozinho e isola-se do mundo. A depressão implicou várias estadias na ala psiquiátrica do hospital da Covilhã.
Lentamente, a mãe de Tiago Mileu começa a recuperar, assim como o seu filho músico e, em 2014 (seis anos depois) vêm morar para a Foz do Arelho. Junto ao mar, ambos adquirem as necessárias forças para se restabelecerem e iniciarem a procura de emprego. A mãe do pianista, com 60 anos, que antes foi funcionária pública, trabalha actualmente no INATEL da Foz do Arelho.

 Actuações no Museu e no CCC

Tiago Mileu já tentou de tudo. Procurou emprego em vários locais, mas acabou por desistir porque, afinal, o que queria era centrar-se na música. E assim fez. Em 2016 pediu que o deixassem ensaiar no piano do Museu Malhoa para não perder a prática. O pedido foi aceite e há praticamente um ano que Tiago Mileu ensaia e actua, aos domingos, naquele espaço museológico. Sempre se centrou na música clássica apesar de também conhecer o reportório contemporâneo. Bach, Beethoven, Mozart, Schubert e Chopin são os seus compositores favoritos.
O jovem é um interprete de excepção e um grande conhecedor do mundo da música, descrevendo a história de vida de cada um dos compositores, situando-os temporalmente, sem a mínima dúvida ou hesitação. Gosta também de ensinar e agarrou a oportunidade que lhe foi oferecida pela Academia de Música das Caldas, onde desde há alguns meses é um dos professores de piano.
Tiago Mileu, que agora vive nas Caldas, está disponível para dar concertos e diz que fará tudo o que estiver ao seu alcance para concluir a sua formação superior em piano. Neste momento tem concluído o 6º grau e a frequência de algumas disciplinas do 7º e do 8º grau.
Um dos seus objectivos é poder adquirir um piano digital, dado que é mais fácil de transportar e assim agilizar a realização de concertos. Precisa também de um equipamento de gravação para poder dar a conhecer o seu trabalho de intérprete.
No próximo mês será possível ouvi-lo também no café-concerto do CCC.

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