“Águas que Unem” é o tema de Jorge Mangorrinha que assinala 20 anos de geminação entre cidades-irmãs
Celebram-se, este ano, os 20 anos da geminação entre as Caldas da Rainha e a localidade brasileira de Poços de Caldas. As cidades-irmãs são termais e, como tal, Jorge Mangorrinha decidiu escrever uma canção para assinalar a efeméride.
O autor de “Águas que Unem” criou um tema que aborda a ideia de aproximação, através das águas. “Imagine-se que as águas termais das duas cidades correm para um oceano que não separa, mas une, e que um navio, carregado de lembranças, nos liga permanentemente de cá para lá e de lá para cá”, contou o autor da canção que considera que é uma balada, “com ressonância na música brasileira e uma estrutura jazzística no seu final”.
O autor enviou, no início do ano, o poema (ver texto ao lado) alusivo às duas cidades para o músico brasileiro Lorinho Fonseca. Este último, “em poucos dias, musicou e gravou, num dueto, ele e Cassinho da Rocha”, explicou Jorge Mangorrinha.
A canção já corre nas redes sociais, nomeadamente no Soundcloud, mas o caldense considera que “seria muito interessante que a Câmara Municipal das Caldas da Rainha “pudesse criar condições para apresentá-la ao vivo, neste ano”, quando a pandemia se dissipar.
E até sugere a participação da Banda Comércio e Indústria “que poderia prepará-la para o efeito, adaptando-a aos seus naipes instrumentais”. A canção poderia ser interpretada por quem já a gravou ou “por uma voz de cá”, sugere.
Jorge Mangorrinha conta que enquanto foi vereador nas Caldas – entre 2002 e 2005 – e que nesses anos o intercâmbio entre as cidades irmãs contou com participações em congressos de cá e lá, “houve uma perspetiva de se criar laços entre as criações artísticas mais importantes dos dois lados, ou seja, a cerâmica e os vidros, aliás, de que fala a canção”.
Também se pretendia apostar num centro de conhecimento em termalismo que, “para além de servir o nosso país, também poderia ter um braço em Poços de Caldas”, comentou o autor. Referia-se, em concreto, à presença de Marcos Untura Filho, na época diretor das Thermas Antônio Carlos e que “é o único doutorado em Hidrologia Médica no Brasil”. Ambos deixaram os cargos que possuíam naquela época. De uma forma geral, Jorge Mangorrinha considera que as geminações “têm servido para visitas, sem deixarem um lastro de intercâmbio económico e cultural para o futuro”.
A sua dedicação às canções começou em 2010. O poema da canção de estreia foi “Passaporte do Fado”, que viria a ser gravada no seu primeiro disco.
Em 2015, como autor, ficou em 2º lugar no Festival RTP da Canção com “Um Fado em Viena”, cantado pela nazarena Teresa Radamanto. Desde então, já gravou dois discos, com letras suas e com compositores e cantores do panorama musical português e até a nível internacional, nomeadamente Ivan Lins, que canta uma letra do caldense, “Fado Irmão”, musicada e “também cantada por Paulo de Carvalho”.
Os dois discos são “Viagens do Fado”, em 2016, em que escreveu 14 poemas de uma viagem do fado por outras sonoridades, pelo país e pela lusofonia. Já o segundo disco “Fado à la Carte”, de 2019, inclui uma dezena de poemas dedicados a uma refeição completa à portuguesa. Estes foram “musicados e cantados, magistralmente, por Tiago Machado e FF, respectivamente”, acrescenta.
Recentemente, Jorge Mangorrinha tem tido encomendas de compositores conhecidos e, até nesta semana, o compositor de “Águas que Unem” pediu-lhe para escrever a partir de composições suas em arquivo lá do Brasil.
“Sem criação, sem música, a vida é um aborrecimento”, refere o compositor, que mantém as suas atividades profissionais na Câmara Municipal de Lisboa e ainda como coordenador do curso executivo Turismo de Saúde e Bem-Estar, na Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste. ■
O arquiteto
e compositor caldense
já gravou
dois discos com temas
da sua autoria
Águas que unem
– Às cidades-irmãs de Poços de Caldas e Caldas da Rainha
Águas que correm de cada cidade curam os corpos e adensam o mar que, de cada lado, sente amizade e razão de nos podermos tocar.
Entre os azuis navegantes
de céu – e espelho seu com vendavais –,
vai navio como dantes
a unir os nossos cais!
Lá longe o finito e perto o mesmo navio.
– O mar é o lençol em que não há desvio!
Por dentro clareio o incerto que não prevejo.
– A luz é o guião que traduz o desejo!
Navio de tantos mares,
golfos, baías e estreitos,
vai soprado pelos ares
que te afagam os teus feitos!
Navio de tantos sonhos
que transportas na bagagem,
faz dos olhos tristonhos
os sorrisos da viagem!
Navio dos dois países
trazidos por ti na proa,
és feito com as raízes
nascidas da terra boa!
Navio destas andanças
com os barros e cristais,
és a barca das lembranças
de que não se esquece mais!
Poços de Caldas – Caldas da Rainha
são cidades-irmãs à nossa mão,
que se unem no destino, em cada linha, dos versos compostos desta canção.
Navio da saudade
de quando sais pelo mar,
leva contigo a “irmandade”
num poema a navegar!
Jorge Mangorrinha