O Conservatório das Caldas está a celebrar 20 anos e actualmente possui 400 alunos de todas as idades. Desde 2013 que este estabelecimento de ensino artístico faz parte de um grupo que integra outros conservatórios em Coimbra, Figueira da Foz e Pombal. Entre os alunos que passaram pelo conservatório caldense há músicos, maestros, compositores e docentes (ver caixa), que contam como foi aprender nesta escola de música.
O Conservatório das Caldas da Rainha sucedeu a uma escola particular que existiu na cidade entre 1991 e 1995 designada Loja da Música. Entre 1995 e 1997 passou a chamar-se Lugar da Música, tendo dado origem ao Conservatório que funcionou a partir do ano lectivo de 1997/98. Dez anos depois a qualidade do trabalho ali desenvolvido foi reconhecido pelo Ministério da Educação, que lhe atribuiu autonomia pedagógica.
A escola de ensino artístico desde cedo apostou em concertos e workshops com nomes nacionais e internacionais. Em 1999 iniciaram-se os Concertos de Primavera, que mais tarde deram origem ao Festival de Música das Caldas, o Concerto Anual de Professores, o Curso de Verão Jovens Músicos (1ª edição em Julho de 1996), além de workshops, cursos e masterclasses orientados por músicos de renome como Bernardo Sassetti, Perico Sambeat, José Salgueiro e Armindo Neves.
Em 2005 o projecto do Conservatório agregou o Festival de Música e o Curso de Verão Jovens Músicos, tornando-se o Festival de Verão mais importante da região Oeste.
Em 2013 o Conservatório das Caldas da Rainha foi adquirido por Pedro Rovira e hoje pertence ao grupo de conservatórios de Coimbra e de Figueira da Foz e Pombal.
Músicos dentro e fora de fronteiras
Ao longo destas duas décadas foram vários os alunos do Conservatório das Caldas da Rainha que se destacaram e prosseguiram estudos nas escolas superiores de música. “Temos cerca de 25 alunos que seguiram a música como profissão”, disse Maria João Veloso, da direcção, acrescentando que alguns hoje são compositores, músicos profissionais e maestros. Deste grupo fazem parte Nelson Jesus, de Alvorninha, que é compositor e que este ano “recebeu dois prémios um em Itália e outro no Brasil”, referiu a responsável. Por seu lado, Rui Rodrigues, de Óbidos, trabalha actualmente como pianista acompanhador no Teatro Nacional de S. Carlos, além de fazer direcção de Orquestra. Também já obteve vários prémios na área da composição. Jacqueline Conde prosseguiu estudos na Escola Superior de Música do Porto e encontra-se a dar aulas de piano, numa escola de música no Norte do país.
Ruben Tomé e Simão Fonseca são músicos profissionais e pertencem a diferentes orquestras alemãs. Por seu lado, o guitarrista Francisco Luís, que estuda na Holanda, também já faz recitais.
Actualmente, Andreia Marques, uma das professoras do Conservatório das Caldas que ensina trompete, foi também aluna da própria escola caldense.
“Temos dezenas de antigos alunos que se mantêm ligados a bandas filarmónicas, em coros e em bandas de rock”, comentou a docente, nomeando que só na Banda Comércio e Indústria estão vários músicos formados naquela escola como Beatriz Marques, Ricardo Cipriano, Ricardo Ezequiel, Rafaela Faria, Joana Melo, Tânia Clemente, Mafalda Mil-Homens, Liliana Lucase e os irmãos Mercês: Ana Sofia, Luís e Margarida. Os irmãos Bernardo e Júlia Santos pertencem a uma das bandas da região. A irmã de ambos, Laura, está a prosseguir estudos numa escola superior de música.
“Temos à volta de 50 alunos em várias bandas de toda a região”, disse a responsável. Entre eles destacam-se os irmãos João e Catarina Branco e Nádia Schilling.
Por seu lado, Mariana Julião pertence ao Coro Sinfónico Lisboa Cantat, enquanto que Isabel Monteiro pertence ao coro de Câmara do Conservatório.
ESPECTÁCULOS NO CCC
Este ano o Conservatório já fez dois espectáculos no CCC que assinalaram os seus 20 anos. No primeiro foi feita uma homenagem aos fundadores Marine Vieira Lino e Adelino Mota. “Foi um prazer homenagear os responsáveis pela criação da escola…sem eles o Conservatório não existia”, disse Maria João Veloso, explicando que o CCC é o único espaço onde cabem todos os encarregados de educação.
Parcerias com a cidade
Ao longo do ano lectivo, o Conservatório das Caldas organiza as suas audições das várias classes. Além de ensinarem todos os instrumentos de orquestra, ainda leccionam aulas de acordeão, guitarra portuguesa, guitarra clássica, flauta de bisel e bateria.
A escola tem uma boa relação com outras entidades da cidade e os seus alunos e professores actuam na Biblioteca Municipal, na Escola Secundária Bordalo Pinheiro, e com o Teatro da Rainha, a Banda Comércio e Indústria e em eventos como a Semana da Francofonia com a Alliance Française. Participam igualmente nalgumas apresentações no Museu Malhoa e nos eventos da ACCCRO.
“Estas apresentações são importantes para o conservatório dado que nos reconhecem como escola de ensino artistico e nós temos a possibilidade de colocar os nossos alunos a tocar em público”, diz Maria João Veloso.
Música até para bébés
O Conservatório de Música das Caldas possui 400 alunos divididos pela área livre e a área oficial (2º e 3º ciclo em articulado 258 alunos e o secundário oficial 11 alunos) e têm também iniciações para estudantes com idades entre os seis e os 10 anos.
Já nos seus cursos livres “aceitamos toda a gente que queira aprender música desde os 10 aos 99!”, prossegue a responsável. Também apostam na música na primeira infância, onde as crianças até aos dois anos são acompanhadas pelos pais. Depois têm os programas de música para os mais novos (cujas aulas são leccionadas no Conservatório), assim como nas creches das Caldas e de Óbidos.
Ao todo são 36 os docentes que leccionam no Conservatório. Os seus responsáveis dizem que gostariam de estender o ensino da música às escolas e ao público em geral, mas defrontam-se com o problema dos financiamentos. “Ainda com o anterior vereador Alberto Pereira tentámos, mas não foi possível implementar um projecto que não foi viável por falta de verbas”, disse Maria João Veloso.
Augusto Lino, docente que pertence à direcção, recordou que vários alunos do Conservatório das Caldas participaram no estágio da Orquestra Fernanda Rovira que se realiza entre os conservatórios de Figueira da Foz e de Pombal, e o Conservatório Regional de Coimbra.
“O nosso projecto principal é a formação na área da música”, disse Augusto Lino, acrescentando que o Conservatório das Caldas já tinha os seus próprios manuais, feitos pelos seus docentes “e que acabaram por ser adoptados para as quatro escolas”.
O Conservatório caldense mantém os coros infantil, de jazz e de Câmara e também as várias orquestras de guitarras, de sopros e sinfónica. “Temos feito um esforço para que essas orquestras possam caminhar para a profissionalização”, disseram os docentes, acrescentando que nas Caldas mantêm classes de oboé e de fagote, instrumentos menos conhecidos do público.
Quanto a um possível regresso do Festival de Música das Caldas, Pedro Rovira, proprietário da escola, diz que neste momento não há apoios estatais a estas realizações.
“O Conservatório foi estruturante para a minha vida”
“O Conservatório das Caldas da Rainha foi estruturante para a minha vida pessoal e profissional pois na década de 90 não havia oferta semelhante na cidade. A fundação do Conservatório permitiu que a minha vocação se concretizasse e, por isso, não posso deixar de agradecer aos fundadores Marine Vieira Lino e Adelino Mota.
Fui aluno, professor e director do Conservatório das Caldas, tive o privilégio de ajudar também muitos alunos, jovens e adultos, a estudar e descobrir as várias facetas da Arte da Música.
O meu percurso permite-me hoje trabalhar profissionalmente a fazer música, encontrando-me neste momento a realizar uma banda sonora original para um filme que irá estrear nos cinemas este Verão. É a concretização de um sonho, de há pelo menos 20 anos atrás…”.
“Espero que continue a ser uma referência musical e educacional”
“Entrei como aluno e tive o enorme privilégio de sair como professor, mas mais do que aquilo que aprendi e mais tarde ensinei, o Conservatório de Caldas da Rainha pautou a minha vida sobretudo pelas suas pessoas e pelo que vivi com elas. Professores, alunos e funcionários por quem permanece uma amizade bem guardada no meu coração.
Actualmente tenho o privilégio de continuar a trabalhar com alguns alunos e também ex-alunos do Conservatório e é fantástico perceber a sua evolução, tanto a nível pessoal como artístico.
Desejo sinceramente que continue a ser uma referência musical e educacional como tem sido até agora, e que continue a marcar a vida de muitos jovens e adultos da mesma forma como marcou a minha”.
“Vinte anos depois relembro a casa que foi para mim…”
“O meu percurso no Conservatório de Caldas da Rainha teve início em 1998. Desde então, não existe um dia em que a música não esteja presente.
Desde a minha chegada até à minha partida, sempre me senti acolhida e acarinhada por todas as pessoas – funcionários, professores e colegas. Existia um ambiente muito íntimo porque éramos poucos alunos, muito próximos uns dos outros. Foram anos intensamente vividos.
Relembro os Concertos de Primavera com 1ª edição em 1999, os Cursos de Verão Jovens Músicos, momentos únicos que acolheram nomes tão importantes da música; foram experiências indescritíveis para quem teve a oportunidade delas usufruir.
Desejo que o Conservatório continue a fazer parte da vida musical, educacional e cultural da cidade das Caldas da Rainha, da região, e do país”.
“Uma experiência determinante para avançar com projectos musicais”
“A minha passagem pelo Conservatório das Caldas foi uma daquelas experiências que marcam e acompanham de forma positiva a vida de uma pessoa. Quando comecei a frequentar as aulas deparei-me com alguns professores extremamente talentosos e generosos na partilha do seu conhecimento. Encontrei também, e de forma inesperada, professores e colegas, que se tornaram amigos.
Durante seis anos tive aulas de guitarra clássica, guitarra jazz, técnica vocal, fiz parte do coro jazz, toquei e cantei ao vivo, com outros colegas e com professores, e fiz até parte da organização de duas edições do festival Musicaldas. Foi uma experiência muito completa e determinante para avançar com projectos musicais fora do Conservatório. Depois disso compus músicas para mim e para outros, tive bandas com quem gravei discos e toquei ao vivo, e até tive a oportunidade de lançar um disco em nome próprio que conta com a participação de colegas e músicos de renome do panorama nacional e internacional. Nada disto teria sido seria possível se não me tivesse inscrito Conservatório das Caldas da Rainha.
“Responsabilizo o Conservatório das Caldas por esta minha escolha irresponsável de fazer aquilo que gosto na vida”
“Frequentar o Conservatório das Caldas teve um grande impacto na minha adolescência e na escolha da minha vida futura profissional.
Ao entrar no conservatório foi-me dado a conhecer o universo da música clássica, que me era apenas parcialmente familiar. Gostava muito das valsas do Strauss, mas tinha vergonha de as ter no mp3. Não era nada cool. Durante os primeiros cinco anos, estudei piano clássico, com professoras que desmascararam a minha preguiça e me fizeram entender o trabalho que estava envolvido nesta brincadeira de tocar piano. E a verdade é que o trabalho necessário para tocar e interpretar Liszt, Bach ou Mendelssohn não era de facto para mim. Mas não desanimei. Estava prestes a abrir o curso livre de Jazz e isso entusiasmava-me bastante. Achei eu que era mais divertido e muito menos trabalhoso! É só improvisar!
O meio de jazz era muito pequeno nas Caldas, contudo o curso de verão Musicaldas organizado pelo CCR, ao trazer músicos de renome nacional, desenvolveu um papel importante para o dinamismo do jazz e para a sua educação formal na cidade. O interesse pelo jazz tinha finalmente um espaço para se concretizar.
Tive o privilégio de conhecer e estudar com Carlos Azevedo e com Filipe Melo e ambos inspiraram-me e transformaram a minha mera curiosidade no objectivo (ou mais romanticamente, no sonho) de entrar na Escola Superior de Música de Lisboa. Fiz lá a minha licenciatura em Piano Jazz e de momento estou a fazer o Mestrado em Composição Jazz no Syddansk Musikkonservatorium da Dinamarca.
O meu pai queria que eu fosse engenheira do ambiente, a minha mãe queria que eu fizesse tudo menos isto da música que é uma grande instabilidade e uma carga de trabalhos. Deveriam ter sido mais cautelosos ao perguntarem se eu queria que eles me inscrevessem no Conservatório das Caldas. Saiu-lhes tudo ao contrário, nem engenheira nem médica nem nada. Uma pianista de jazz e agora uma tentativa de compositora. Uma desgraça.
Dito isto, responsabilizo parcialmente o Conservatório das Caldas por esta minha escolha irresponsável de fazer aquilo que gosto na vida”.