
A Unidade de Apoio ao Alto Rendimento Escolar (UAARE) da Escola Rafael Bordalo Pinheiro ajuda os alunos atletas a melhorarem o rendimento na escola e no desporto. Fomos saber como funciona
Foi no ano letivo 2015/16 que a direção da Escola Rafael Bordalo Pinheiro se apercebeu das dificuldades que enfrentavam os alunos atletas de alto rendimento na relação entre a sua atividade desportiva e escolar. E o responsável foi uma figura bem em voga atualmente, o ciclista João Almeida.
A diretora Maria do Céu Santos recorda que a escola nem sabia, na altura, que aquele aluno tinha estatuto de alto rendimento. Soube-o quando João Almeida foi convocado para o Campeonato da Europa e, no mesmo dia da competição, tinha um exame do 12º ano.
“Estudei a situação e encontrei o decreto-lei 275, que protege e ajuda os alunos neste tipo de situação”, recorda a diretora. Apercebeu-se, então, dos apoios que este tipo de alunos tem à disposição, incluindo épocas especiais de exames.
O caso levou a escola apresentar à Direção-geral de Educação uma candidatura ao programa UAARE, através da do professor Manuel Nunes e com o apoio da Federação de Badminton, que providencia, entre outros aspetos, alojamento para os alunos deslocados.
Além de João Almeida, que terminou nesse ano o seu percurso, a escola já tinha mais alguns alunos nas mesmas condições, nomeadamente na modalidade de badminton. Foram referenciados outros atletas na região que pudessem integrar a unidade, que abriu no ano letivo 2018/19 com 24 alunos de 12 modalidades diferentes.
Apesar de se tratar de um grupo de alunos, a UAARE não é uma turma. De resto, os alunos estão colocados em diversas turmas entre o 7º e o 12º ano, nos cursos que escolhem.
Atualmente coordenada pela professora Alexandra Sampaio, o papel da UAARE é gerir a relação dos alunos atletas com a escola, nomeadamente na compatibilização dos horários das aulas com os treinos, mas sobretudo com as provas, que muitas vezes obrigam estes alunos a faltar.
Foi o coincidir de um exame e uma prova internacional do ciclista João Almeida que chamou a atenção para a situação dos alunos atletas
Alexandra Sampaio realça que, se no início este não foi um processo fácil, hoje em dia “qualquer professor da escola sabe o que é a UAARE e o que é um aluno UAARE”.
Quando os alunos estão fora, podem aceder a conteúdos que são disponibilizados online através de equipamentos móveis e da plataforma Teams. “Estes foram os primeiros alunos a terem ensino à distância, ainda antes da pandemia”, nota Maria do Céu Santos.
De volta à escola, estes alunos têm ainda acesso à Sala de Estudo Aprender+, que foi equipada com o apoio da autarquia e tem professores que são destacados para essa tarefa.
Todo o processo é articulado entre a escola, o aluno, os encarregados de educação e a entidade desportiva que representam. De resto, no início do processo todos têm que assinar um documento a assumir esse compromisso.
Maria do Céu Santos destaca que os resultados têm sido muito positivos, tanto a nível desportivo, como académico. “Acima dos 90%. Estes são alunos muito focados e trabalhadores, porque estão habituados a coisas difíceis”, sublinha. De resto, todos os alunos finalistas têm entrado no ensino superior nas suas primeiras opções e na primeira fase.
O desempenho da UAARE da escola caldense tem sido elogiada pelo coordenador nacional, Vítor Pascoal, que este ano lançou um desafio à escola: receber uma aluna de Leiria, que está na Noruega a jogar andebol. Tem aulas síncronas com a restante turma, mas online. Além disso, por se tratar de uma aluna do ensino profissional, terá que realizar prova de aptidão profissional e estágio.
Alexandra Sampaio realça que a UAARE caldense é a única do programa que funciona “à la carte”, ou seja, os alunos podem receber apoio presencial ou online.
Os alunos têm ainda acesso a trabalhar com a psicóloga da escola, Dina Nogueira, que todos os meses reúne com todos os alunos atletas. “É importante perceber as necessidades que eles têm e sentirem-se acompanhados e aprenderem a gerir os objetivos e a ansiedade”, refere a psicóloga.
Atletas valorizam o conforto que a UAARE lhes dá nas duas vertentes
Gazeta das Caldas teve oportunidade de conversar com três dos 20 atletas estudantes que compõem a UAARE no ano letivo corrente, e todas destacam o conforto que integrar a unidade lhes dá tanto no plano desportivo, como escolar.
Madalena Fortunato, atleta de badminton, estuda no 11º ano de Economia e diz que o primeiro impacto positivo são as condições que passou a ter ao nível do treino. “Passámos a ter facilidade de poder treinar de manhã, e de fazer remarcação dos testes. Mesmo que não precise de faltar, se tiver competição e muitos treinos perto do teste posso alterar a data”, afirma.
Mas o que Madalena Fortuna mais nota de diferente é ao nível do apoio. “Agora os professores estão sensibilizados para a nossa vida. Sempre que vou a uma competição tenho professores a perguntar se está tudo bem, ou se preciso alguma coisa”, conta. A atleta realça ainda que, quando vai a competições internacionais, o tempo que está fora pode levar a que se perca um pouco na matéria em relação aos colegas que ficaram. “Mas quando chego temos o apoio dos professores para revermos a matéria”.
Andreia Fialho é atleta de kempo e aluna do 12º ano, no curso CT2 e afirma que tem sido “um grande privilégio fazer parte do grupo da UAARE, pelo grande apoio que temos por parte dos professores”.
Alunas destacam disponibilidade dos professores para os apoiar
A atleta dá como exemplo uma ida a uma competição no estrangeiro no 10º ano que a obrigou a remarcar testes a várias disciplinas. “Os professores deram-me fichas para fazer e, quando voltei, disponibilizaram-se para dar apoios extra para rever toda a matéria. Andreia Fialho realça que esse conforto lhe dá uma “preparação mental muito melhor”, tanto para os momentos em que tem que se focar na escola, como nos que é preciso dar mais atenção à atividade desportiva.
Andreia Fialho já sentiu necessidade de recorrer à sala de estudo Aprender+ num momento em que sentiu dificuldades a matemática e diz que foi uma mais-valia, que lhe permitiu tirar a nota desejada.
Madalena Silva, atleta de voleibol, é colega de turma de Andreia Fialho e diz que a grande diferença que nota é que, antes da UAARE, se sentia “um pouco sozinha nesta reação entre a escola e o desporto”, enquanto agora tanto professores como colegas de turma percebem e apoiam quando as dificuldades surgem.
Tal como Andreia Fialho, Madalena Silva teve necessidade para levantar uma nota, a física e química, e a sala Aprender+ foi uma preciosa ajuda. “Por causa da pandemia, no regresso aos treinos tivemos trabalhar mais, para recuperar o tempo que estivemos em casa. A professora fazia vídeos no Youtube para me explicar, foi bastante interessante, e tive o resultado que pretendia no exame”, conta.
Madalena Silva joga na Lusófona, em Lisboa, quatro vezes por semana mais os jogos. O fato de ter que se deslocar torna complicado gerir os horários, o que acaba por ser bastante facilitado por integrar a unidade.
Os rostos da UAARE

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