Natural das Caldas da Rainha, cresceu no concelho de Óbidos
e tornou-se na Maia campeão da Europa e vencedor da Taça do Mundo de ginástica acrobática. A história já era extraordinária, mas ganha outros contornos sabendo que tudo se desenrolou em poucos meses e começou com uma paixão pelo… circo
A ligação de Frederico Silva à ginástica começou em criança e nos trampolins, no Acrotramp Clube das Caldas. Porém, essa experiência acabou cedo, devido a um problema lombar. “Apesar de manter o bichinho, era algo do passado que pensei que tivesse ficado resolvido”, conta o ginasta à Gazeta das Caldas. Mas não estava.
Foi já na adolescência que o seu percurso começou a tomar forma, mas ainda longe de imaginar que o levasse de volta à modalidade. No 10º ano ingressou no curso de comunicação da Escola Bordalo Pinheiro, mas a paixão pelas artes falava mais alto.
“Logo nas primeiras semanas, a directora de curso, a professora Maria José, percebeu que eu não estava feliz e falou-me de numa escola de artes em Lisboa, o Chapitô”, recorda. Tentou a sorte, fez audições e entrou.
Foram três anos de formação para se tornar acrobata aéreo. Seguiram-se mais dois na SALTO – International Circus School, na Maia, que lhe deu o nível superior.
E foi aí que tudo começou a mudar. A escola partilha espaço com o Acro Clube da Maia. “Olhava para os ginastas e pensava: quem me dera ter começado mais cedo para poder ser como eles”, conta.
E a oportunidade acabou por surgir. Depois de concluir os estudos, foi passar o Verão a Barcelona e, depois, colocou mochila às costas e partiu para uma viagem à Ásia com amigos, longe de saber que não a concluiria.
“Recebi uma chamada do Lourenço França [seleccionador nacional] a dizer que precisava de um atleta para a selecção nacional, porque um dos bases da quadra masculina tinha saído”, conta Frederico Silva.
“Era um desafio muito grande, tinha medo de não estar à altura daqueles miúdos que treinam desde muito novos”, descreve. Mas tinha o sonho da acrobática e uma condição física já bastante boa, decidiu aceitar, persuadido também pelo convite para dar aulas na escola de circo.
CINCO MESES PARA CHEGAR AO TOPO
Estávamos em Outubro de 2016 e Frederico Silva, então com 21 anos, tinha até Março do ano seguinte para atingir o nível exigido para uma Taça do Mundo, que se realizava na Maia.
“Foram meses muito duros, com 8h30 de treino por dia, em que tive que abdicar de muita coisa”, salienta. No processo teve dúvidas se conseguiria, “mas sempre quis muito e, ao querer, sempre acreditei”.
O sucesso foi imediato. A quadra que forma com Henrique Silva, Henrique Piqueiro e Miguel Silva venceu, logo nesse mês de Março de 2019, a prova da Taça do Mundo realizada na Maia. O segundo lugar na etapa de Las Vegas e o terceiro na Bélgica garantiram o título de campeões da Taça do Mundo. A esse, juntou-se o de Campeões da Europa, em Novembro, no esquema dinâmico, com segundo lugar no combinado e terceiro no esquema de equilíbrio. “Foi algo incrível em tão pouco tempo”, sublinha.
Frederico explica a paixão por esta modalidade pela sua beleza estética: “é uma modalidade completa e bonita de se ver”. Praticá-la exige uma relação de grande confiança e cumplicidade entre os membros do conjunto, porque envolve grandes riscos. “Quem corre mais perigo é o volante, mas as bases também”, refere. De resto, Frederico Silva já partiu um dedo para amparar o seu volante – o elemento mais leve da equipa -, quando este caía de cabeça.
Além disso, a modalidade exige grande disciplina. Os pesos dos elementos têm que ser progressivos conforme a posição que ocupam e não pode haver oscilações. Além do treino de grupo, a modalidade exige muito treino individual de acrobacia de chão, assim como aulas de dança, ballet e a parte coreográfica.
Mais dois anos de carreira e a ambição de chegar ao Cirque du Soleil
A ascensão de Frederico Silva no panorama da ginástica de competição foi meteórica e o ginasta também já vê um final possível para a carreira num horizonte relativamente próximo, mais precisamente o ano de 2022.
As metas estão bem focadas na mente do atleta e há duas provas nas quais pretende representar Portugal, ao mais alto nível, antes de regressar à arte para a qual estudou e com a qual todo o seu percurso começou.
A primeira prova teria tido lugar no fim-de-semana que passou, na Suíça, e era o Campeonato do Mundo da Federação Internacional de Ginástica (FIG). A competição foi adiada para o próximo ano.
Depois, no horizonte de Frederico Silva estão ainda os World Games, um género de Jogos Olímpicos para as modalidades não olímpicas, que terão lugar em 2022 em Birmingham, Estados Unidos da América.
“Representar o meu país é orgulho imenso”, realça.
Isso significa que o ginasta terá 25 anos quando deixar a modalidade em termos competitivos. E depois? “Quero regressar às artes de circo”, responde.
“Em Portugal ainda não existem saídas para a minha profissão, tenho ambição muito grande de ir para o Cirque de Soleil, ou para outra grande companhia de circo nos EUA, ou na China”, acrescenta.
Uma ambição que a ginástica pode ter contribuído em definitivo para que possa ser atingida. “Fez-me acreditar cada vez mais nisso e abriu-me portas”, realça.