“O Campeonato do Mundo de Surf fica em Peniche durante os próximos cinco anos”

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O presidente da Câmara de Peniche, Henrique Bertino, não abdica da realização da prova desportiva nas praias do concelho e aumenta apoio financeiro face à diminuição do financiamento da OesteCIM

Qual a sua expectativa para a prova deste ano?
Estamos perante alguns condicionalismos porque o tempo está instável e a organização está a ter em conta as previsões climatéricas e vai decidir esta quarta-feira onde faz a prova e espero que haja condições para ser nos Supertubos. Como é um evento que traz muita gente a Peniche e ao Oeste, pois esperamos a vinda de muitos milhares de pessoas, aguardemos que o tempo se consolide e nos consiga dar condições ótimas para a prática do surf pelos atletas mundiais. A gestão da prova é feita pela WSL [Liga Mundial de Surf] e há um período para a sua realização entre os dias 6 e 16 deste mês.

O envolvimento do Município de Peniche na edição deste ano da prova teve alguma evolução em relação a 2023?
Há uma alteração substancial no apoio à prova em relação à componente financeira, que era suportada essencialmente pela OesteCIM [Comunidade Intermunicipal do Oeste] e, a partir deste ano, uma grande parte do orçamento terá que ser suportado em termos regionais pelo Município de Peniche. Verificou-se um conjunto de alterações. Uma delas tem a ver com o plafonamento das verbas para as candidaturas a fundos comunitários para o Oeste e a distribuição dos valores por cada um dos 12 municípios condicionou os números finais. Tivemos assim que considerar uma alternativa que foi o Município de Peniche, do seu ‘plafound’ para candidaturas, reservar uma parte dos 200 mil euros por ano no âmbito da componente turística e divulgação do território para apoiar esta prova com mais de 100 mil euros. Quanto à OesteCIM, que suportava uma candidatura superior a 300 mil euros, passará agora a assumir um encargo de 75 mil euros.

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Estas mudanças orçamentais vão comprometer de alguma forma a realização plena desta prova?
Não ficou nada comprometido. Vamos fazer uma transição pacífica entre as estruturas e, a partir de 2025, Peniche terá uma outra projeção do evento que não tem este ano e não teve nos anos anteriores. Nós não vamos deixar cair a projeção da imagem do Oeste por esse mundo fora, mas pela alteração dos apoios à prova que foram assumidos com a organização, vamos dizer cruamente que Peniche terá direito a dispor de uma capacidade maior de projeção em relação ao seu território. No início do mandato passado foi-me transmitido na OesteCIM que os apoios estavam garantidos até 2023, pelo que este ano colocou-se esta questão. Temos estado em negociações há alguns meses e chegámos à conclusão que esta era a única solução. A WSL também estava a exigir uma resposta e nós sempre dissemos que, haja o que houver, não será posta em causa a realização desta prova em Peniche. Considero que é o evento mundial de maior projeção para o Oeste. Mas percebi que há presidentes de câmara, do anterior e atual mandato, que questionaram os valores atribuídos pela OesteCIM a este evento.

E até quando está garantida esta prova do Campeonato do Mundo de Surf em Peniche?
O evento está garantido pelo menos durante os próximos cinco anos. Estamos a procurar fazer uma candidatura [a fundos estruturais] para os próximos quatro anos. Depois trabalharemos noutras soluções que possam sustentar e engrandecer o próprio evento e a forma como poderemos respeitar o peso de cada uma das instituições envolvidas. Estamos a encarar este processo com muita tranquilidade, com uma relação muito estreita com a organização da prova e entre nós não há qualquer stress. A Câmara de Peniche desde há 14 anos que tem assegurado uma forte logística que muitas vezes nem é quantificada, mas praticamente paramos alguns setores do município durante quase dois meses, o que não é fácil de assumir mas é estratégico para o concelho e para a região. Encaramos este desafio com determinação, pois não nos podemos esquecer que é a única etapa do Campeonato do Mundo que se realiza neste momento na Europa e que há outros países europeus que gostariam muito de a ter. Temos a grande felicidade de termos uma relação estreita com a organização e as coisas têm funcionado muito bem. Mas o essencial são os atletas e a onda dos Supertubos que não existe noutro ponto da Europa e tem sido determinante para que a prova se tenha mantido entre nós estes anos todos.
Há um ano defendeu que o Governo tinha a obrigação de aumentar o apoio financeiro a esta prova. Foi alcançado este objetivo?
Nestes últimos meses estivemos a aguardar uma definição desses apoios. A verdade é que a alteração política, com a realização de eleições legislativas, mudou um pouco a nossa avaliação. O que temos previsto nesta e noutras áreas é que, passadas as eleições, tentarmos estabelecer os contactos que são necessários para, à luz daquilo que é para mim a alteração substancial dos apoios, que possa ser visto com o Turismo de Portugal, que é por aí que vamos apostar, mas também o Ministério da Economia. Este evento pela projeção que tem para o país tem que ter outro tipo de apoios, tal como já tinha transmitido ao então ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro.

Houve mudança na liderança da Turismo do Centro, que é também responsável pela promoção turística do Oeste. Conseguiu um ganho para a promoção deste evento?
Já abordámos essa questão com a Turismo do Centro e percebemos claramente que a nossa aposta tem que ser no Turismo de Portugal pela capacidade [financeira] que um tem e o outro não tem.

Vê o retorno do investimento no concelho com o acolhimento do Campeonato do Mundo de Surf?
Costumo dizer que Peniche passou a ser um território mais apetecível, porque ocorreu um conjunto de alterações que são significativas a partir da abertura do IP6. A visibilidade que esta prova trouxe a Peniche é determinante para que tivéssemos percebido que, para além do turismo, acrescentou em muito o desenvolvimento económico do concelho. Provavelmente ainda estamos atrasados em relação a uma parte das infraestruturas. Mas temos empresas novas a procurar o concelho e sentimos que a população residente e a que nos procura pelo turismo ligado às praias pelos desportos de deslize, que tem um contacto muito grande nas escolas de surfing, mas também nas concessões de praia, pelo que é transversal a todo o concelho. Temos também um enorme aumento nas dormidas. Temos a certeza que os números não são rigorosos mas em breve iremos estudar a movimentação de pessoas e de viaturas no concelho em locais estratégicos como a zona dos Casais do Baleal e de acesso à praia. Precisamos de estudar os impactos que as pessoas têm na economia com mais rigor, aproveitando a experiência do estudo que o IPL [Politécnico de Leiria] desenvolveu há alguns anos.

Que novos investimentos estão previstos para o concelho na área do turismo?
Nós não potenciamos mais investimentos porque não temos a capacidade suficiente para dinamizarmos o que é preciso em função das alterações que vamos conseguindo. Nunca escondi o desejo de transformar uma parte de um território que passou a ser do município, por via da transferência de competências da zona portuária da Docapesca, para novos equipamentos. Estamos a trabalhar muita coisa ao mesmo tempo, com muitos projetos para a capacidade técnica que a câmara tem. E há um conjunto de interessados que regularmente nos vão pressionando e que estão a aguardar. Ainda recentemente conversei com alguém que me dizia da necessidade de intervir na envolvente da praia do Molhe Leste, proximidades do Estádio Municipal e do outro lado do rio de São Domingos e nas proximidades do restaurante Xákra e dos Supertubos. É uma zona onde pretendemos ordenar e quando conseguirmos fazê-lo ficaremos em melhores condições para dar resposta à dinâmica económica. Aproveitámos este evento para levarmos alguns dos nossos atletas com categoria internacional às nossas escolas. Contámos com o Matias Canhoto, Mário Leopoldo e o Bruno Amado. Espero que alguns deles possam ainda participar, no futuro, na etapa de Peniche do Campeonato do Mundo.■

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