Ana Vidigal criou instalação original

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O curador Hugo Dinis e a artista Ana Vidigal junto à instalação que pode ser apreciada até final de Setembro
Bela e Má, assim se designa a instalação de Ana Vidigal, inaugurada a 13 de Julho no Museu Leopoldo de Almeida e que inclui materiais dos acervos dos espaços museológicos do Centro de Artes.
Durante a concepção do site-specific (obra criada para o espaço de exposição), a pintora conversou com Gazeta das Caldas sobre esta criação onde aliou, na sua narrativa estética, estruturas de apoio e moldes de peças de cerâmica que pertencem aos museus caldenses.

A artista Ana Vidigal foi convidada pelo Centro de Artes para realizar uma instalação no Museu Leopoldo de Almeida. “Deram-me carta branca para fazer o que eu quisesse”, contou a pintora que teve acesso ao acervo dos vários espaços museológicos dos escultores António Duarte, João Fragoso, Barata Feyo e de Leopoldo de Almeida.
A artista desenvolveu uma instalação escultórica de grandes dimensões, pensada na relação com o espaço que ocupa e que entra em diálogo com as grandes obras do escultor Leopoldo de Almeida.
Fê-lo recorrendo as estruturas de apoio que têm várias prateleiras e que normalmente servem de suporte às peças de cerâmica que aguardam vez antes de ir para o forno. Da instalação constam ferramentas, mobiliário e outros objectos encontrados nos armazéns dos museus e que pertencem ao espólio das fábricas de cerâmica das Caldas da Rainha.
Ana Vidigal incluiu até moldes que pertenceram à Fábrica Bordallo Pinheiro e apresenta também pequenos montes de gesso que recordam o mundo da cerâmica e também o das esculturas, já que estas últimas são feitas naquele material antes de passar ao bronze.
A autora gostou da proposta que lhe foi feita pelos ateliers-museus pois foi “um verdadeiro desafio”. Referiu-se ao facto de dispor do espólio dos vários museus e de ter trabalhado numa sala de exposições que possui mais de 30 metros de largura.

Revelar e ocultar

O site specific também integra vários objectos que fazem parte do arquivo pessoal de Ana Vidigal: recortes de jornais e revistas, catálogos de tecidos, colagens, dossiers, desenhos e até frases de escritores portugueses que foram inscritas na própria estrutura metálica.
Segundo o curador da mostra, Hugo Dinis, o uso destes elementos “parece promover uma visão sobre a totalidade das linguagens sobre as quais a artista se tem debruçado na sua prática artística”. Na sua opinião, “parece já não ser possível discernir e separar o que se trata de pintura, escultura, desenho ou ‘produção paralela’”.
Para Hugo Dinis, este projecto é uma oportunidade “para rever como os modos de expor e os dispositivos utilizados, através da ideia de revelar pela ocultação, são imprescindíveis para o entendimento das obras expostas”.
O título da instalação, Bela e Má, foi recolhido de uma revista brasileira, publicada nos anos 70, dedicada a relatar casos verídicos. Uma senhora, que foi acusada de um crime, saiu do tribunal com um grande pano sobre o rosto e, essa imagem, inspirou Ana Vidigal. Aquela ocultação recordou que é assim que também se tapam as esculturas quando há intervenções nos museus.
A pintora Ana Vidigal, formada em Pintura na Faculdade de Belas Artes em 1984, está a preparar novas exposições individuais que vai realizar no Porto e em Lisboa em 2020.
Bela e Má poderá ser apreciada até 30 de Setembro no Museu Leopoldo de Almeida.

“Bela e Má” convive com as esculturas de Leopoldo de Almeida
Alguns dos pormenores que podem ser vistos neste site-specific