A Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM) está a cumprir o 20º aniversário da sua fundação. Este estabelecimento de ensino, que começou com instalações modestas e cerca de 50 alunos, é hoje uma referência na educação ao nível do desporto a nível nacional, com mais 1.800 diplomados, cerca de 950 estudantes por ano lectivo e instalações ao nível do melhor que há no país na sua área.
A escola tem tido um papel importante no desenvolvimento do desporto na região, não só ao nível da competição, mas também noutros sectores, como o do bem-estar e no aproveitamento dos recursos existentes para o desporto de natureza.
Embora localizada em Rio Maior, a ESDRM tem uma grande influência no concelho das Caldas da Rainha, pois há muitos caldenses entre a comunidade académica, tanto ao nível dos alunos, professores e pessoal não docente, como na formação de muitos profissionais e empreendedores na área do desporto.
A Escola Superior de Desporto de Rio Maior foi criada a 5 de Dezembro de 1997 como unidade orgânica do Instituto Politécnico de Santarém, tendo como um dos seus grande impulsionadores o então presidente da Câmara de Rio Maior, Silvino Sequeira. A ESDRM era mais uma das valências com as quais Rio Maior se queria afirmar como Cidade do Desporto.
O início das actividades lectivas teve lugar em Setembro de 1998, sob a direcção de José Rodrigues, com 11 docentes, um não docente e 51 alunos. Funcionava em instalações provisórias, cedidas pela autarquia local, utilizando as instalações desportivas da cidade. Os cursos iniciais foram os de condição física e de treino desportivo de alto rendimento em futebol, natação e atletismo.
João Moutão, actual director da ESDRM, lembra que o ideal que moveu os fundadores foi o de “fazer uma escola de desporto diferente do que existia, formando profissionais em áreas emergentes e alternativas ao que existia até essa altura ao nível da formação, que era só em educação física”, acrescentando que isso é algo que a escola conseguiu cumprir.
Nestes 20 anos a ESDRM já formou mais 1.800 profissionais que estão a capacitar “o sistema desportivo nacional em todos os domínios, não só no treino desportivo de alto rendimento”, realça João Moutão. É que, hoje, a instituição forma em mais quatro eixos distintos: fitness, desporto de natureza associado ao turismo, gestão desportiva e, mais recentemente, actividade física e saúde. Esta última oferta formativa veio enquadrar-se com a estratégia nacional de promoção de actividade física e estilos de vida saudável.
Vinte anos após a fundação, a realidade da ESDRM é bastante distinta. No corrente ano lectivo estão em formação 950 alunos, contando com cerca de 3.000 protocolos com entidades só na região à sua volta e coloca 140 alunos em estágios profissionais todos os anos, “maioritariamente na região”, sublinha João Moutão.
Já as instalações definitivas, inauguradas em 2013, depois de ter passado por um antigo edifício dos bombeiros e pelo pavilhão multiusos de Rio Maior, “são uma referência na área da formação do desporto”, observa.
“Se há 20 anos me colocasse no lugar das pessoas que idealizaram esta escola, penso que estaria muito satisfeito com o percurso que teve e com o que é hoje”, acrescenta. Um percurso que atribuiu a toda a comunidade académica mas também à região em que a ESDRM está inserida. “É uma escola que trabalha com a região e também beneficia dessa generosidade das entidades”, acrescenta.
PRIMEIRA ESCOLHA
No ano lectivo que está a terminar a ESDRM preencheu, novamente, todas as vagas atribuídas pelo Ministério da Educação, num total de 263.
Os alunos vêm de um pouco por todo o país, embora a maioria, cerca de 75%, tenham origem num anel que circunda a área metropolitana de Lisboa, a região Oeste e a Lezíria do Tejo até Setúbal. Há muita procura também dos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Em 2017/18 as vagas foram ocupadas na totalidade na primeira fase, o que João Moutão atribui à qualidade e à atractividade da própria escola, conseguida pela aposta na capacitação do corpo docente através de doutoramentos e especializações.
Agora o objectivo passa por atrair mais estudantes de primeira opção e com médias mais elevadas.
Outro objectivo da ESDRM para continuar a ser atractiva é a construção de residências académicas, o que também contribuiria para combater uma das principais causas de abandono, que estão relacionadas com o custo do aluguer de quartos, sobretudo para os alunos das famílias com mais dificuldades.
“Somos das poucas instituições de ensino superior sem residências de estudantes”, observa João Moutão. Os apoios sociais para o aluguer de habitação que existem não estão a ser suficientes para os estudantes, sobretudo numa altura em que a procura tem inflacionado os preços. Além disso, Rio Maior tem, nesta altura, esgotada a sua oferta de quartos, acrescenta.
Já estão em marcha diligências para se avançar com uma residência de estudantes, um processo que passa agora pela direcção do Politécnico de Santarém, pelos serviços sociais do Estado e pela autarquia de Rio Maior.
Manter a ESDRM na vanguarda do ensino académico passa também por uma aposta na inovação ligada ao desporto. “Precisamos de fazer uma aproximação ao tecido empresarial do sector tecnológico da região, para constituir uma plataforma de desenvolvimento de produtos na área do desporto”, adianta o director da ESDRM.
Dessa aproximação deve resultar inovação no ensino e também instrumentos ligados a actividades profissionais capazes de gerar oportunidades de negócio e novas saídas profissionais para os estudantes.
A inovação no desporto, ligando-o a diversos sectores de actividade, tem sido justamente um dos caminhos trilhados pela instituição ao longo destes 20 anos.
João Moutão observa que a região tem tido ganhos no seu movimento desportivo de competição, através da capacitação de treinadores para as várias modalidades. Mas o ganhos para a região são mais extensos que os desportivos.
São exemplo os mercados do fitness, que tem estado em crescimento, as empresas de desporto de natureza, que têm importância na indústria do turismo, por exemplo, através das actividades náuticas. “Temos muitos jovens diplomados com negócios nesse sector”, afirma João Moutão. Muitos desses jovens vêm de fora e fixam-se na região, o que também ajuda a combater a desertificação e o envelhecimento.
A presença da escola tem ainda impactos sociais a vários níveis. Em Rio Maior está a emergir o projecto-piloto Diabetes em Movimento, destinado à comunidade, que poderá ser expandido a outras cidades da região em rede com os centros de saúde.
Grande afinidade com as Caldas
Apesar de estarem em distritos diferentes há uma grande proximidade entre Caldas da Rainha e Rio Maior, pois distam apenas 20 km com ligação por auto-estrada, e isso tem reflexos na afinidade entre a Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM) e a cidade termal, que se sente aos mais diversos níveis.
João Moutão, director da ESDRM, diz que a afirmação das Caldas como uma cidade com qualidade de vida, eventos culturais e estabilidade económica é um ponto importante. Cerca e 90% dos docentes não são da região, mas muitos deles acabaram por se fixar, uma parte nas Caldas da Rainha e outros em Santarém e Rio Maior. Também há docentes naturais das Caldas, assim como não docentes formando uma das maiores comunidades de alunos. No concelho a escola tem diversas parcerias ao nível dos estágios, incluindo clubes e a autarquia.
“E depois também existem outras proximidades nas relações institucionais e pessoais, que estão no limiar da perfeição”, observa João Moutão. Um dos exemplos disso é o atual vereador do município caldense Pedro Raposo, docente da escola destacado para exercer funções no desporto, entre outros pelouros.
“Outro exemplo de sucesso da ligação com as Caldas da Rainha é o treinador do Caldas, o José Vala”, aponta João Moutão, elogiando o percurso do clube caldense na Taça de Portugal.
Ambos foram colegas de curso no primeiro mestrado que foi leccionado na ESDRM. “Ele é um exemplo e é algo que nos deixa com muito orgulho”, afirma. Além do treinador principal, o clube tem vários alunos a estagiar no clube, tanto na equipa principal como na formação.
José Vala recorda esse mestrado como uma experiência “muito boa”. Formado em Educação Física, disciplina da qual é professor, conta que sentiu que aquele mestrado, na área da psicologia, seria útil para a actividade de treinador.
“É muito difícil que a qualidade dos professores daquele mestrado se volte a repetir hoje em Portugal”, realça José Vala, apontando essa filosofia de disrupção, uma das principais características da ESDRM.
José Vala não tem dúvidas que a instituição tem-se revelado ao longo dos anos importante para os clubes da região. “Coloca lá os seus estagiários, com a sua qualidade, é o caso da minha equipa técnica, que tem dois elementos excelentes e mais um que nos dá uma ajuda”, concluiu.