Verbas da Regeneração Urbana permitem ampliação da Misericórdia das Caldas

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Os 84 anos da Misericórdia das Caldas começaram a ser celebrados a 22 de Junho com o lançamento da primeira pedra das obras de ampliação das suas instalações, na presença do secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, Marco António Costa, e terminam amanhã, 30 de Junho, com um arraial popular no terreno que será ocupado pelo novo edifício.
Esta era uma obra esperada há muito tempo, tendo sido comprado o terreno nas traseiras da Misericórdia há cerca de 25 anos. “Conseguimos concretizar uma ambição que tínhamos”, salientou no seu discurso o provedor da Misericórdia caldense, Lalanda Ribeiro. “Foi um processo complicado”, primeiro por causa dos obstáculos levantados pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) por causa da existência do chafariz do outro lado da estrada (embora anos antes tenham sido construídos vários edifícios em volta).
Segundo o provedor, o projecto foi aprovado devido às conversações mantidas entre os responsáveis do IGESPAR e o então vereador Jorge Mangorrinha.
A segunda dificuldade no avanço da obra deveu-se à dificuldade em obterem financiamento. Houve duas candidaturas ao programa PARES (Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais) que não foram aceites e só através do programa de Regeneração Urbana é que acabaram por obter apoio do QREN.
A obra foi posta a concurso por 2,1 milhões de euros e foi adjudicada por 1,38 milhões de euros à Imosoudos S.A., Construção Civil e Obras Públicas, com sede em Cascais. Como foi incluída no programa de regeneração urbana, a ampliação da Misericórdia terá um financiamento comunitário de 1,1 milhões de euros. O prazo de execução da obra é de 10 meses.
Segundo Lalanda Ribeiro, ainda não está decidida nenhuma comparticipação financeira da Câmara das Caldas “mas sempre que pedimos a autarquia apoia-nos”.
A ampliação vai permitir a criação de novas instalações para 20 idosos “que neste momento estão alojados em condições que não são as melhores”, explicou Lalanda Ribeiro à Gazeta das Caldas. Estes serão transferidos da Casa de Repouso, “onde não estão mal, mas irão passar a ter boas condições”.
Neste momento estão 17 idosos na Casa de Repouso e a Misericórdia irá aumentar a sua capacidade para 20 pessoas. “Temos cerca de 400 pessoas em lista de espera”, comentou.
Para as novas instalações serão também transferidos o Internato Feminino (que está no edifício central da Misericórdia) e o Centro de Acolhimento Temporário (num apartamento na Praça 5 de Outubro). A Misericórdia local irá passar a ter novas câmaras frigoríficas e lavandaria.
A Misericórdia das Caldas emprega 110 pessoas, tem 67 utentes no Lar de Idosos e presta apoio domiciliário a 60 pessoas.
Lalanda Ribeiro referiu-se ainda ao Internato Feminino, onde estão 15 jovens “que nos enchem de orgulho”. O provedor informou que algumas dessas jovens estão já a frequentar o ensino superior e há mais algumas que o vão fazer no próximo ano, para além das que estão nas escolas técnicas da região.
O secretário de Estado elogiou “o cuidado e carinho” da instituição em garantir boas condições aos jovens e a todos os utentes. O governante anunciou que nos próximos anos as prioridades serão as áreas da infância e da deficiência “onde existe uma grande ausência de respostas estruturadas”.

“Há que mudar este hábito de ter o nome dos ministros e secretários de Estado nas placas”

O presidente da Câmara, que ao contrário do que é habitual discursou a seguir ao secretário de Estado, salientou que a Misericórdia caldense é uma instituição de referência na assistência aos mais velhos e aos mais novos “que merece o carinho de tanta gente”, adiantando que “felizmente nas Caldas há muitas outras”.
Segundo o autarca, é importante que “no meio de tantas dificuldades, pelo menos a solidariedade, o conforto e a mão estendida seja uma matriz em todo o lado e especialmente nas Caldas da Rainha”.
Fernando Costa comentou que “o anterior governo foi bom para as Caldas porque fizeram muitas obras no campo social”, mas tem confiança de que o actual também o será e espera que avancem outras obras nesta área que ficaram por fazer. O edil caldense afirmou que esperava que o secretário de Estado voltasse às Caldas para o lançamento da primeira pedra da residência e do centro de formação do Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor.
O autarca acabaria por ironizar, dizendo que “só tenho pena de ter que me ir embora porque gostaria de todos os anos continuar a fazer obras”.
Para terminar, afirmou que gostaria que dentro de cinco anos, Marco António tivesse pelo menos 10 placas a assinalar a sua passagem pelo concelho caldense.
Esta afirmação fez com que Marco António voltasse a intervir para sugerir que as placas tenham os nomes das pessoas que fazem parte dos órgãos sociais das instituições, que fizeram com que fossem possíveis estas obras. “Temos de começar a mudar este hábito de ter o nome dos ministros e secretários de Estado nas placas. Nós não somos ministros, estamos ministros. Vocês é que são os órgãos directivos e deve ficar o vosso nome”, referiu.
Marco António salientou ainda que nenhum membro de um órgão público dá nada do que é seu. “Nós temos a confiança que nos foi dada pelo voto popular para gerirmos o dinheiro que é do povo, que nos foi entregue através dos impostos. Temos o dever de o fazer retornar à sociedade portuguesa com transparência e rigor”, concluiu.
Já anteriormente, o governante tinha referido no seu discurso que aquilo que o Estado investe nestes projectos sociais é apenas uma parte do custo total que a Misericórdia tem para manter em funcionamento estes equipamentos. “É por isso que é uma honra poder estar aqui e associar-me a esta iniciativa”, afirmou.
Marco António disse ainda que existe uma dívida de gratidão muito grande para com as autarquias locais pelo trabalho a que se associam diariamente.
“O presidente da Câmara das Caldas é uma figura nacional e respeitada. É um autarca que, pelo seu comportamento exemplar e atitude impoluta como homem público, é um referencial” que ao mesmo tempo simboliza o poder local.

Contrato Local de Desenvolvimento Social à espera de resposta
O provedor da Misericórdia das Caldas aproveitou a presença membro do secretário de Estado para tentar saber quais eram as intenções do governo em relação ao apoio no âmbito do plano DOM (Desafios, Oportunidades e Mudanças) e dos Contratos Locais de Desenvolvimento Social.
O CLDS das Caldas, denominado Ponto de Ajuda, terminou a 16 de Abril, depois de ter funcionado durante três anos a ajudar cerca de 6700 pessoas no concelho. Segundo Lalanda Ribeiro, este programa foi “um êxito aqui na nossa terra”.
Depois do encerramento do Ponto de Ajuda, a Misericórdia continuou com a Loja Social que apoia “cerca de 280 famílias das Caldas da Rainha”.
Em relação ao DOM, Lalanda Ribeiro comentou que “foi um programa a que aderimos logo de início e temos uma psicóloga que tem tido um trabalho bastante importante com as jovens e as suas famílias”. O responsável lamenta que este apoio psicológico possa ter que deixar de ser prestado pois teve a informação de que este iria terminar no fim de Junho.
Lalanda Ribeiro comentou que a instituição tem procurado pôr em prática os ensinamentos da Rainha D. Leonor, estando sempre disponível para colaborarem em projectos sociais.
Marco António respondeu que quando o Plano DOM acabar, “será substituído por outras soluções e manterá a resposta social” que existe actualmente. “As pessoas que já estão a trabalhar, vão manter-se a trabalhar”, garantiu.
“Até que entre em vigor o novo programa, nós vamos assegurar o financiamento do DOM”, concluiu, deixando bastante contentes os responsáveis locais e os profissionais envolvidos, provocando uma salva de palmas.
Em relação aos Contratos Locais o governante não se pronunciou.

 

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt