No recente dia 24 de julho, uma mediana plateia, munida de uma carga enorme de paciência, esteve por quase três horas a ouvir o desenrolar de uma novena antiga, um repisar de promessas do PSD (que foram divulgadas em meros folhetos de campanha, sendo apregoados consecutivamente nestes últimos trinta anos, e que, agora, receberam “um corpo” de mais de cento e quarenta páginas e um nome: “Plano Estratégico de Desenvolvimento das Caldas da Rainha 2030”).
Foi gasta uma pequena fortuna para que uma empresa privada coligisse antigas ideias. Ou seja, um “Plano Estratégico” que já nasceu velho. Como velho, e desgastado, está o PSD das Caldas da Rainha.
Ao analisarmos o tal “Plano”, de imediato, salta-nos à vista as palavras da moda: Atratividade, resiliência, articulação e capitalização. Junto a estas, os temas mais gastos da gestão autárquica PSD: Termalismo/Termas (o cangalhismo que está no poder há muito que enterrou o termalismo. Discutido proficuamente em ano de eleições, criando-se imagens de salvação e de recuperação), Lagoa e Indústria cerâmica (a fábrica Bordalo Pinheiro pertence à Visabeira, no dia que esta empresa decidir sair deste concelho já não teremos “indústria cerâmica”, os pequenos ceramistas existentes não dependem da estrutura autárquica para sobreviver, se dependessem estariam falidos). Temas que raramente mereceram a atenção da autarquia, ou seja, do PSD, nestes últimos trinta anos.
Como se isso não bastasse, possui parâmetros idênticos aos planos da Figueira da Foz, Viana do Castelo, Seia, Sintra, Coruche, Mafra, Lousada, Torres Novas, Pampilhosa da Serra, e mais umas largas dezenas de localidades, com diferenças pontuais entre eles, porque cada região possui as suas características próprias e necessidades. Ou seja: Pagamos caro por uma cópia. Falta ao concelho de Caldas da Rainha algo simples, condensado em uma só palavra: Planeamento!
A gestão do planeamento municipal passa por uma acentuada organização no transporte público, com parques de estacionamento distantes do centro histórico e um perfeito sistema que transporte a população dentro da área mais nobre da cidade. Passa também por mais espaços verdes ordenados, limpos e livres de poluição visual que os descaracterize. Passa por um respeito enorme para com os seus meios naturais (por exemplo, o rio da Cal). Passa por uma organização realista do comércio e da indústria, criando verdadeiros dispositivos para o seu desenvolvimento (e não ficar investindo em ideias que servem apenas para encher páginas de jornal). Passa pela preservação do seu património arquitetónico e histórico. Passa por incrementar uma verdadeira Política Cultural, que não se limite à frivolidade, ao entretenimento e à cultura ligeira. Passa por valorizar e apoiar, de facto, a criatividade e as artes. E falta começar a levar as Termas e o termalismo a sério.
Para que tudo siga para um nível mais concretizável, é necessário dotar o concelho de pessoal técnico habilitado, com profundos conhecimentos nas mais variadas áreas da gestão municipal, e que possuam uma visão global alargada, percebendo que toda a estratégia só é funcional se existir um adequado enquadramento. Esse “Plano”, ora apresentado, aponta para um caminho: As parcerias com outros concelhos. Porém, não é o que interessa ao PSD local, pois há quase trinta anos que Caldas da Rainha anda com as costas viradas para Óbidos, portanto, se não se criam sinergias com o vizinho mais próximo, o que dirá com outros concelhos um pouco mais distantes…? Quem elaborou esse “Plano” não conhece Caldas da Rainha, nunca visitou nenhuma freguesia rural (deve ter dado um passeio ao sábado pela manhã, entre a rua Almirante Cândido dos Reis e a praça da República, e achou que o concelho “estava muito desenvolvido”), pois se conhecesse perceberia que mais de metade do que ali está publicado não serve para esta região.
O voto é o que define o crescimento de um concelho e de um país. No que trata ao país Portugal: A “geringonça” funciona e recomenda-se. No que trata ao concelho das Caldas da Rainha: Trinta anos, com a mesma força política, empobreceram a cidade, permitiram a implementação de vícios perigosos e ajudaram a criar raízes que não conseguem dar sustentabilidade a projetos benéficos e realizáveis. Vivemos no faz de conta. Esse “Plano Estratégico de Desenvolvimento das Caldas da Rainha 2030” é a maior prova disso.
Rui Calisto
Candidato pelo PS à União de Freguesias de Nº Sra. Pópulo, Coto e S. Gregório