Exigências da UE, pressão climática e aumento da população mundial pressionam o setor nos próximos 30 anos
A Política Agrícola Comum vai sofrer alterações drástica já a partir do próximo ano e vai obrigar os agricultores a mudar radicalmente a forma como se produzem alimentos, de modo a atingir a neutralidade carbónica, mas também por força das alterações climáticas, que vão mudar alguns padrões produtivos. Portugal, que é hoje uma referência na vinha, pode deixar de o ser até 2050.
Estas foram algumas das conclusões apresentadas durante o Congresso de Fisiologia Vegetal, organizado na Expoeste pela empresa Nutrifield, na passada terça-feira, que juntou perto de 50 profissionais do setor.
Pedro Almeida, da Nutrifield, explicou aos agricultores que o próximo quadro comunitário para a agricultura introduz “uma pressa política enorme de mudança, que não sei se vamos conseguir acompanhar”.
Lorenzo Gallo, representante da Greenhas, uma empresa italiana especialista na produção de fertilizantes e bioestimulantes para nutrição agrícola, foi o orador da sessão e apresentou alguns dos desafios que a agricultura encara nos próximos 30 anos. A começar pelo aumento da população mundial, que se estima que possa crescer de 7 mil milhões para 9 mil milhões. Para alimentar este aumento populacional, será necessário aumentar a produção de alimentos, mas a FAO estima que a produção possa cair entre 9 a 21% nos países mais produtivos, além de que a superfície arável per capita irá reduzir. “Será preciso produzir mais, em menos terreno”, num cenário de alterações climáticas que também podem conduzir, por si só, a reduções de produtividade, a começar pela escassez de água.
Mas as alterações climáticas trazem mais problemas. Estima-se que o aquecimento global possa “custar” até 27% de perda de produtividade das plantas, “um problema muito grande porque precisamos de produzir mais”. Além disse, Lorenzo Gallo referiu que as mudanças no clima têm consequências na adaptação das plantas. A vinha, por exemplo, que tem maior preponderância na Península Ibérica, França e Itália, pode passar a ter melhores condições no norte europeu, nomeadamente na Inglaterra e na Escandinávia, “já a partir de 2030”.
É, por isso, “um desafio muito importante para agricultores e engenheiros agrícolas”, sublinhou o transalpino.
A solução para o setor é, mais do que aumentar a produção, aumentar a produtividade, reduzindo as perdas, que atualmente se estima rondarem os 40% entre a planta e o prato, com melhorias no processamento, embalamento, armazenamento e comercialização.
Mas os desafios da agricultura são maiores devido às restrições que a União Europeia vai introduzir, nomeadamente com a descarbonização, que terá que ser total até 2050, e também na redução da utilização de químicos e dos antibióticos em 50% e dos fertilizantes em 20%. Além disso, Portugal tem que aumentar a área de produção biológica de 5,9% para 25%, até 2030.