A empresa familiar caldense Aki Del Mar – Comércio e Indústria de Mariscos Lda. já abriu as novas instalações na Zona Industrial das Caldas da Rainha, junto à antiga estrada da Foz. Trata-se de um novo centro de depuração de marisco e bivalves que representou um investimento de 4,5 milhões de euros, comparticipado pelo fundo comunitário Mar2020.
As novas instalações têm capacidade para tratar cerca de 100 toneladas de marisco por dia e vêm dar novo impulso à empresa, que espera aumentar o volume de negócios, quer a nível interno, quer através da alavancagem das exportações. Serão criados 15 novos postos de trabalho.
O novo edifício é facilmente identificável pelo farol azul e branco que sobressai da fachada e que constituiu a parte dos escritórios. É uma réplica do farol de Santa Marta (Cascais), uma predileção de um dos sócios e líder da empresa, Paulo Cruz.
As novas instalações constituem um novo centro de depuração de bivalves que é o último grito em tecnologia no sector. Toda a estrutura, com 2300 m2 de área, é refrigerada e, por isso, foi pensada para ser altamente eficiente em termos térmicos e de eficiência energética, garantida também pelo grupo de painéis fotovoltaicos que ocupa toda a cobertura do edifício.
Dois cais de acostagem recebem o marisco, sobretudo bivalves, que entram nas instalações refrigeradas e são submetidos a uma primeira lavagem, antes de serem colocados nos palotes de armazenagem vertical onde vão estar a depurar, de modo a ficarem aptos para o consumo humano, o que vai eliminar as bactérias nocivas que podem provocar intoxicações alimentares.
O processo parece simples. É como colocar em casa um quilo de berbigão em água salgada para largar a areia e impurezas, mas numa escala muito maior e através de processos suportados por tecnologia de ponta. O sistema é alimentado por tanques subterrâneos com capacidade para 600 mil litros de água salgada que está sempre em circulação e é tratada pelo cruzamento de quatro tecnologias diferentes. Os sistemas de ultra-violetas e ozono são responsáveis pela eliminação das bactérias, a água passa depois por filtros de carvão, mas há ainda um aliado especial que são corais que garante uma nova filtragem.
“É o mais natural que existe para a filtragem, e também activa a água”, desvenda Paulo Cruz à Gazeta das Caldas. “Tudo o que temos é tecnologia de ponta a nível mundial”, acrescenta.
Os bivalves passam depois por uma de três máquinas de embalamento, duas delas automáticas e uma manual, e estão prontas para sair por um dos dois cais de embarque para serem comercializadas um pouco por todo o país.
“Trabalhamos com retalhistas e somos transversais a esse nível”, diz Paulo Cruz, o que significa que é possível encontrar estes produtos nos principais supermercados do país.
Um dos objectivos das novas instalações é aumentar a produção da empresa, que antes processava cerca de 4 toneladas por dia. Paulo Cruz adiantou à Gazeta que a capacidade diária nas novas instalações passa para as 100 toneladas e que, actualmente, a empresa está a trabalhar a cerca de 60% da sua capacidade.
Um dos passos seguintes passa por partir à conquista do mercado internacional, tendo por referência os mercados da saudade, como os Estados Unidos, Canadá, França, Luxemburgo e Bélgica, mas também a vizinha Espanha, onde existe um forte mercado consumidor de produtos do mar que tem como referência a qualidade. “Temos alguns parceiros interessados e bom produto, por isso, com mais calma no futuro, poderemos enfrentar a exportação”, adiantou o empresário.
Além da estrutura produtiva, as instalações da Aki Del Mar são ainda dotadas de um ponto de venda e showroom. No ponto de venda, os produtos podem ser adquiridos frescos ou cozinhados, uma vez que o espaço é também equipado com uma cozinha.
Foram investidos no total cerca de 4,5 milhões de euros, dos quais 2,3 milhões foram considerados comparticipáveis através do programa Mar2020, correspondendo a um apoio de 882 mil euros a fundo perdido pelo Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas, mais 294 mil euros garantidos pelo Estado Português.
PESCA, DEPURAÇÃO, COMÉRCIO E UM RESTAURANTE
A Aki Del Mar foi fundada em 2000, mas foi baseada na actividade individual que Paulo Cruz já desempenhava. O empresário, de 54 anos, natural de Santarém, veio muito jovem para as Caldas, com o irmão Fernando Cruz. Aos 18 anos já trabalhava por conta própria, no comércio de marisco, negócio que foi desenvolvendo a partir das Caldas da Rainha.
Ao centro de depuração e ponto de venda com que iniciou a actividade da empresa na antiga estrada da Foz, junto à Zona Industrial, juntou mais tarde um restaurante na Nazaré, e também a Aki Pescas, uma empresa armadora, com quatro barcos de pesca próprios para a captura de bivalves, que operam ao largo da Figueira da Foz, Sines, Nazaré ou Peniche.
Os bivalves são o principal produto comercializado pela empresa, representando cerca de 90% do negócio. A amêijoa e berbigão da Lagoa de Óbidos é complementada com oferta de produtos de todo o país, como berbigão de Aveiro, conquilha de Setúbal, amêijoa do Algarve, e também mexilhão, navalheira, percebes, entre outros. Além dos bivalves, há outros tipos de marisco, como sapateiras, camarões, lagosta e outros produtos sazonais, como os ouriços do mar.
O projecto para as novas instalações começou a ser pensado há cerca de cinco anos. O empresário diz que “o mercado virou e as empresas começaram a procurar fornecedores mais fidedignos e nós, como já estávamos posicionados e trabalhávamos de forma transparente, com segurança e qualidade, decidimos avançar.”
Paulo Cruz realça que antigamente ouvia-se muito falar de intoxicações alimentares ligadas ao marisco, o que “hoje em dia acontece muito pouco”, graças à forma como a depuração é feita e que é um requisito legal.
O grupo de empresas dá trabalho a cerca de 80 pessoas. Com o novo espaço o empresário estima que sejam criados mais 15 empregos.
O restaurante na Nazaré, aberto há 15 anos, chegou a estar pensado para a Foz do Arelho, mas o empresário encontrou algumas barreiras que não conseguiu transpor. Nesta altura não pensa voltar a tentar. “É um assunto enterrado e não há mercado”, afirma. “Quando estávamos para investir, fomos confrontados com o não da Câmara, mas o investimento não ficou por fazer, fomos para a Nazaré e ainda bem, foi muito bom para a empresa”, completa.
DIZIMARAM A AMÊIJOA NA FOZ
Numa altura em que se fala cada vez mais de sustentabilidade, Paulo Cruz afirma que os recursos na Lagoa de Óbidos estão em risco. “Infelizmente dizimaram a amêijoa da Foz. Apanhou-se cada vez mais pequeno e hoje em dia não há. Matou-se a galinha dos ovos de ouro”, lamenta.
O empresário diz que devem ser impostos limites ao calibre que pode ser capturado a fim de permitir a renovação das populações, como acontece com outros produtos de pesca.
Mas Paulo Cruz diz que este não é só um problema na amêijoa da Foz, é um problema global. “Ou se protege o bem comum, ou daqui a uns anos o negócio desaparece e só resta a aquacultura”, sustenta.
A Aki Del Mar trabalha hoje com cerca de 70% de pescado de captura, mas Paulo Cruz adianta que há mercados a trabalhar a 100% com aquicultura, como Bélgica e Holanda. A grande diferença é “a qualidade e o sabor, que não é comparável com o produto natural”, afirma.
No entanto, esse poderá ter que ser o caminho se nada for alterado na fileira da pesca. “Dizem que só 10% do pescado é que vai para o mercado. E o resto, é desperdício? As redes de arrasto matam tudo”, observa.