Os antigos depósitos de vinho converteram-se em originais quartos que permitem uma experiência única, aliando o turismo ao espaço rural
O convite é sugestivo: “Venha dormir onde já dormiu o vinho”. Este o chamariz do turismo em espaço rural “Bagos do Vilar” e o conceito é simples e, ao mesmo tempo, inovador. Quem escolher este local para uma estadia irá pernoitar em cubas que, outrora, foram depósitos de vinho, pertença do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV).
Construído no final da década de 1950, este conjunto de arqueologia industrial ligado à vinicultura constitui, à sua escala, a mais antiga representação material da importância da produção de vinho no concelho do Cadaval.
Depois de perto de 40 anos ao abandono, o espaço situado no Vilar foi recuperado e convertido em alojamento turístico. Cada cuba dá lugar a um quarto, com nome de castas de vinho portuguesas, como é o caso da Bical, Arinto, Castelão, para os quartos de casal, e Bual ou Syrah para os quartos de família e grupo, estes últimos em depósitos de maiores dimensões.
Decorados de forma singular e bastante cuidada, mantêm as paredes e o chão originais das cubas do antigo IVV. Aos 14 quartos, juntam-se uma piscina, sala de convívio e uma outra destinada aos pequenos almoços, e um spa (com massagem de relaxamento em cama suspensa), com três tamanhos diferentes e num total de 20 cubas.
Duas dezenas de depósitos de vinho estão agora transformados em quartos, salas, piscina e spa no Cadaval
Este original projeto nasceu da “loucura” de Emelina Mackay, como a própria faz questão de partilhar com a Gazeta das Caldas. Oriunda de Angola, chegou a Portugal aos 18 anos para acabar o curso de engenharia agrária em Coimbra. A vida fê-la passar pelos Açores, regressar a Angola e, depois, de novo a Portugal onde, por sugestão de amigos viria a instalar-se no Oeste. Também por recomendação de um amigo conheceu o presidente da Câmara do Cadaval, que lhe apresentou o espaço, pertença da autarquia, que viria a transformar e onde passaria também a residir.
As obras de requalificação e adaptação do espaço terminaram em março do ano passado, coincidindo, porém, com a pandemia. A empresária começou por colocar o alojamento ao dispor da autarquia para albergar infetados com covid-19, mas não viria a ser necessário e, mais tarde, em junho, foi inaugurado.
“Tem havido bastante procura, o espaço tem estado repleto”, conta Emelina Mackay, especificando que os clientes são, essencialmente, portugueses, mas também já recebeu, por exemplo, um arquiteto russo.
O empreendimento turístico tem, aliás, sido muito procurado por estes profissionais, “que gostam de ver coisas novas, para que daí também lhes surjam ideias”, conta. Em poucos meses de funcionamento já recebeu oito arquitetos, tendo inclusivamente um deles mostrado vontade de oferecer o projeto para a nova ideia que a empresária quer concretizar: um quarto panorâmico situado num depósito de água, que ficará elevado.
“Quem procura o espaço busca por experiências diferentes”, remata Emelina Mackay, a anfitriã do espaço turístico que é também a sua casa. ■