Parque é constituído por mais de 900 residências e envolve cerca de 5000 pessoas num conceito de turismo singular, que tem potencial de expansão
Há quatro décadas, nasceu no Baleal um conceito de turismo distinto, e que ainda hoje permanece sem par. O que um dia foi o parque de campismo Tupatur, deu lugar à BalealCoop, CRL, uma cooperativa que tem vindo a construir uma comunidade num parque residencial com mais de 900 habitações. O 40º aniversário foi celebrado a 15 de agosto, que é, tradicionalmente, o dia do parque e que traz um sentimento de convívio a todos os presentes.
Neste recanto de 13 hectares de terra com uma privilegiada vista, e acesso, à praia do Baleal, um mosaico de 945 lotes encontra-se meticulosamente traçado. Mas este espaço não é apenas sobre propriedades, é sobre laços entre vizinhos, onde cada habitante é também um membro ativo de uma comunidade. “O nosso foco sempre foi criar um espaço de convívio e de partilha para que as pessoas se sintam envolvidas e pertençam a algo maior”, afirma Júlio Rego, presidente da cooperativa.
A base do funcionamento deste parque é a relação entre a cooperativa, que é proprietária dos terrenos, e os cooperantes, que adquirem o direito de usufruto de uma fração através do pagamento de uma jóia inicial e, depois, de uma quota anual, que atualmente ronda os 475 euros, que concede acesso a todas as amenidades do parque sem mais custos.
O cooperante fica responsável pela sua própria residência. Há 40 anos, as habitações consistiam em caravanas e pequenos alvéolos. Apesar de ainda existirem alguns destes, a maioria dos lotes está hoje ocupada por casas pré-fabricadas, “construídas com materiais ambientalmente conscientes, resistentes ao fogo e seguros”, realça Júlio Rego.
Para quem não quer desfrutar da praia, no interior há valências para manter miúdos e graúdos entretidos. Há um centro de convívio com salão de jogos, campos de futebol e de ténis, e um parque infantil. Um salão de eventos, que nos meses de época alta é palco de eventos com música ao vivo, ou uma biblioteca, com requisição de livros. Para quem não dispensa a conetividade, há um espaço de internet com acesso gratuito à rede. Mas a peça central são mesmo as piscinas, onde os cooperantes e visitantes podem dar um mergulho, ou simplesmente apanhar sol, sem preocupações.
A este espaço, que é de usufruto exclusivo dos cooperantes, familiares em linha direta e convidados, junta-se uma zona comercial que é aberta à comunidade. Abrange várias lojas, um supermercado e dois restaurantes.
A BalealCoop é um importante fator de atração para o Baleal e é como que uma pequena aldeia dentro da própria localidade. A maioria dos cooperadores são de fora da região. É dos distritos de Lisboa (cerca de 400) e Santarém (cerca de 280) que são oriundos a maior parte destes, sendo os restantes de um pouco de todo o país e ainda alguns estrangeiros. Em média, cinco pessoas utilizam as instalações por cooperante, num total aproximado de 5.000 pessoas. A estes ainda se juntam os visitantes convidados pelos cooperadores. Este ano, estabeleceu-se um recorde de cerca de 2.000 visitantes em simultâneo, o que mostra a vitalidade do local.
Ao movimentar tão elevado número de pessoas, o parque tem um impacto económico que desempenha um papel importante no tecido social e económico do Baleal. A BalealCoop envolve cerca de 10 postos de trabalho diretos, aos quais se juntam perto de 50 indiretos, que abrangem a segurança do recinto e os estabelecimentos da zona comercial, que são garantidos por entidades externas. Este impacto estende-se ao comércio, restauração e serviços do concelho, mas também para o município, que recebe IMI pela ocupação dos lotes.
A cooperativa é gerida por corpos sociais eleitos entre os cooperantes e todas as decisões são tomadas em assembleia-geral, com o objetivo de cuidar do bem maior. “A gestão do parque já envolve um orçamento de cerca de 1 milhão de euros, o que é considerável. Temos alguma capacidade de gestão e vontade de fazer bem as coisas, sem onerar os cooperadores”, salienta o presidente Júlio Rego.
Olhar o futuro é outra das missões da direção. Um deles é imediato e está só a aguardar luz verde para avançar. Trata-se da cobertura do parque de estacionamento com uma instalação fotovoltaica com capacidade de 100 kVA, que irá cobrir as necessidades energéticas do parque durante a maior parte do ano.
Um dos objetivos da cooperativa é que a água da rede chegue a todos os lotes, que atualmente têm água de captação própria, que é tratada e testada, mas desaconselhável ao consumo. “Temos alguns pontos com água da rede pública, mas o ramal não tem capacidade para abastecer toda a gente”, refere o presidente. Mas existe compromisso do município penichense de fazer essa ligação quando for construída uma nova estação elevatória para servir aquela zona do concelho.
A ambição não fica por aqui, com projetos para expandir o próprio parque, que tem esgotada a capacidade e os lotes que vagam rapidamente são ocupados. “Temos algo de excecional e único a nível nacional, que é este modelo, que tem potencial para ser replicado. Não é algo que estejamos a pensar fazer nos tempos mais próximos, mas estamos a estudar hipóteses”, refere Júlio Rego. A expansão pode passar pelo crescimento da atual área, ou a instalação noutros locais próximos. “São ideias. Tudo o que venha a ser realizado será sempre com o objetivo de tornar a BalealCoop mais autossustentável financeiramente”, conclui o presidente da direção.