Cocoa Valley e Chocolate Bless vão implantar fábrica nas Caldas

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Serge Ngassa, produtor e industrial do chocolate, e a chocolateira Brigitte Bless são os responsáveis pelo projeto
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Mais que uma fábrica, investimento de 16 milhões de euros visa criar um centro de chocolate nas Caldas da Rainha

Portugal não é propriamente conhecido como um país produtor de chocolate, mas essa é uma premissa que Brigitte Bless e Serge Ngassa se propõem a mudar. Os dois sócios estão em fase adiantada do processo para instalar um centro de produção de chocolate nas Caldas da Rainha, com capacidade para processar até 12 mil toneladas por ano. O projeto prevê um investimento superior a 16 milhões de euros.
A responsável pela vinda do projeto para as Caldas da Rainha é Brigitte Bless, fundadora da Chocolate Bless, atualmente com sede em Famalicão da Nazaré e uma loja na Cova da Onça, nas Caldas da Rainha.
Brigitte, de 63 anos, natural da Suíça, veio morar em 2018 para a região com o marido Phillipe Bless. Foi nessa altura que Phillipe sugeriu a Brigitte trabalhar com chocolate. “Ele conheceu uma senhora que trabalhava muito bem chocolate. Eu fazia pintura sobre cerâmica, primeiro não fiquei muito interessada, mas depois comecei a gostar e correu muito bem”, conta.
Foi a atividade profissional de Phillipe Bless, na área do imobiliário, que permitiu que ambos conhecessem Serge Ngassa, produtor e industrial do chocolate, então na França. O proprietário da Cocoa Valley Swiss Group tinha uma fábrica em França que estava com a capacidade de produção esgotada e procurava uma fábrica maior para mudar a produção para a Suíça.
Brigitte Bless comprovou a qualidade do chocolate da Cocoa Valley e passou a ser também cliente. Até que um incêndio destruiu a fábrica em junho do ano passado.
Do infortúnio nasceu a oportunidade. Brigitte e Phillipe Bless associaram-se a Serge Ngassa para reerguer a fábrica, contando ainda com Eric Stauffer na sociedade. E surgiu também a hipótese de montar a fábrica em Portugal. “Como o cacau vem dos Camarões, é mais fácil importar em Portugal do que na Suíça e, como já cá estou, fiz uma proposta para construirmos aqui a fábrica”, conta Brigitte Bless.
Encontraram o terreno ideal para construir a infraestrutura na Zona Industrial das Caldas da Rainha, perto da fábrica Bordallo Pinheiro. Neste momento, o processo só está pendente da alteração da classificação do terreno. Atualmente definido para utilização agroflorestal, este está inserido na zona de expansão da Zona Industrial definida recentemente pela Câmara das Caldas. O processo já deu entrada na CCDR Centro e a empresa conta com o apoio da autarquia caldense e das associações empresariais para obter uma decisão célere, até porque o objetivo é iniciar produção em julho de 2025, de modo a não perder os clientes que já tinha antes do incêndio.
A unidade caldense será composta por duas estruturas. Uma na qual se fará o processamento do cacau em chocolate, desde a torrefação das favas de cacau até ao produto final. Esta unidade terá entre 2500 e 3000 m2 de área útil, equipada com tecnologia de ponta neste ramo, de modo a fazer aproveitamento total do fruto. Da fava de cacau será extraída manteiga, que em parte será para chocolate, mas também para vender às indústrias cosmética e farmacêutica. Da massa de cacau será produzido chocolate com as diferentes percentagens, fortemente direcionado à exportação.
Além da fábrica da Cocoa Valley, será instalado um atelier da Chocolate Bless com 400 m2, que permitirá à marca expandir a sua produção de bombons, tabletes e outros produtos acabados de e com chocolate.
O investimento deverá ser superior a 16 milhões de euros e criar cerca de 50 postos de trabalho com a produção em velocidade de cruzeiro. A fábrica terá capacidade para processar cerca de 4 mil toneladas de cacau por ano com um turno de 8 horas por dia, mas esta pode ser expandida a três turnos para uma capacidade de 12 mil toneladas por ano.
Além da produção, Brigitte Bless e Serge Ngassa querem tornar Caldas da Rainha uma nova centralidade para o chocolate em Portugal, com a criação de um centro de investigação e de formação. A unidade será ainda preparada para trabalhar o turismo industrial.
A Cocoa Valley tem uma particularidade interessante, espelhada no lema “from farm to bar” (da quinta à tablete). É que o cacau é produzido nos Camarões pelo próprio Serge Ngassa. Filho de agricultores, Serge, de 43 anos, lançou o seu projeto agrícola depois ter sido voluntário na Médicos sem Fronteiras para auxiliar o povo do seu país assolado por uma epidemia de cólera. Nesse voluntariado conheceu a mulher, Carine Ngassa, natural da Suíça. Para continuar a ajudar o povo do seu país, Serge vendeu terrenos que tinha na capital do seu país para criar um projeto agrícola. São 300 hectares onde tem como produção principal o cacau e emprega 150 pessoas o ano inteiro e mais 200 na altura das colheitas.
No início do projeto, Serge optou por vender a produção a fabricantes de chocolate, mas quando percebeu que o preço que lhe iam pagar não cobria as despesas da plantação, optou por criar a sua própria marca de chocolate suíço, que agora se prepara para produzir nas Caldas da Rainha. ■

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