A empresa caldense Bitcliq esteve no mês de Maio em dois grandes eventos tecnológicos internacionais ligados ao mar com a sua ferramenta Big Eye Smart Fishing, que permite rastrear o percurso do pescado desde o mar ao consumidor final. A empresa participou em grupos de start ups no Fishing Accelerator, em Vigo, e no Blue Invest, em Bruxelas. De 20 a 22 deste mês a Bitcliq estará ainda na final do Smart Agrifood Summit, em Málaga.
O primeiro evento em que a BitCliq esteve presente foi a segunda edição do Fishing Accelerator, a 15 de Maio em Vigo, onde 11 empresas puderam apresentar soluções inovadoras a oito industriais da pesca, com o intuito de desenvolver a actividade a diversos níveis.
Pedro Manuel, fundador da empresa caldense, disse à Gazeta das Caldas que esta presença foi muito importante. “Vigo é o maior porto pesqueiro da Europa e para nós foi um grande privilégio sermos seleccionados. Fizemos excelentes contactos com grandes empresas do sector, com grande potencial em termos de negócios futuros”, sublinhou.
Dois dias depois, a Bitcliq foi uma das duas empresas nacionais na primeira edição do Blue Invest, em Bruxelas. Este é também um evento ligado ao investimento nas tecnologias ligadas ao mar, desenvolvido pela Comissão Europeia. A finalidade do Blue Invest é apresentar a investidores internacionais os projectos mais disruptivos em várias áreas ligadas ao mar.
“Foi muito bom para validarmos o que estamos a fazer e saber se estamos no caminho certo, uma vez que estivemos lado a lado com os empreendedores mais dinâmicos deste sector”, contou Pedro Manuel.
Desses contactos com investidores resultaram “algumas oportunidades de investimento interessantes”, acrescenta.
O empresário realça que estas presenças reforçam a confiança em relação ao caminho que a empresa está a seguir. “Percebemos que estamos ao nível do que se faz lá fora ao nível da tecnologia, da inovação e da nossa capacidade, o que nos deu força para seguirmos com este projecto que ainda tem muito para dar”, afirmou.
A Bitcliq vai ainda marcar presença num terceiro evento de grande envergadura no espaço de pouco mais de um mês, agora em Málaga, no Smart Agrifood Summit. “É o maior evento ligado ao sector alimentar na Europa”, observa Pedro Manuel. A empresa caldense apurou-se para a final deste concurso ao vencer a nível nacional, no passado mês de Março e vai com boas expectativas.
Pedro Manuel refere que, além de atrair investidores, estas presenças têm permitido gerar contactos entre empreendedores, o que potencia parcerias. “Temos pessoas que vêm ter connosco porque estão a desenvolver produtos, por exemplo sensores, que querem integrar no nosso projecto e isso cria dinâmicas de negócio”, salienta.
O BIG EYE SMART FISHING
Foi no final de 2013 que a Bitcliq começou a desenvolver o Big Eye Smart Fishing, respondendo ao desafio de uma empresa com uma grande frota de pesca do atum no Gana.
Trata-se de uma solução informática que combina uma série de tecnologias de ponta ao nível do hardware e do software para recolha e tratamento de dados em tempo real, para rastrear toda a actividade de uma frota pesqueira.
As aplicações desta solução trazem benefício para as empresas, que assim podem controlar activamente todas as fases da sua actividade e torná-la mais sustentável. Uma caixa negra a bordo das embarcações regista uma série de dados, que são ainda completados com registos da pesca, horas de trabalho, combustível e provisões a bordo, calculando o valor real do pescado capturado.
Ao mesmo tempo, também disponibiliza aos clientes, sejam eles empresariais ou cliente final, todo o percurso que o pescado fez desde o mar.
“Havia pouca transparência na cadeia de valor”, explica Pedro Manuel, acrescentando que a tecnologia permite ainda controlar más práticas, como a pesca excessiva, a pesca ilegal e as condições de trabalho dos profissionais que capturaram o peixe.
Desde o lançamento do Big Eye Smart Fishing, a Bitcliq tem desenvolvido progressivamente as capacidades do seu produto, que está já a ser utilizado por armadores nos continentes europeu, africano, asiático e americano.
O produto também já venceu alguns prémios, nomeadamente em 2017 o Green Project Awards na categoria Indústria 4.0 e o FLAD.EY Buzz USA. Este último é atribuído às empresas com maior potencial de crescimento no mercado norte-americano e vai permitir à Bitcliq realizar um programa de imersão em Silicon Valley, local onde se concentram algumas das maiores empresas tecnológicas à escala global.
Pedro Manuel realça que há uma necessidade mundial pelo tipo de tecnologia em que a Bitcliq se especializou e há novas portas a abrirem-se para a empresa. Num desafio da Inmarsat, entidade que desenvolve sistemas de comunicação via satélite, está já a desenvolver um sistema idêntico para frotas de pesca artesanal, de menor dimensão. Essa tecnologia está a ser desenvolvida com alguns pescadores do porto de Peniche e em parceria com um grande retalhista nacional e vai permitir, no futuro, que o consumidor veja todo o percurso que o peixe que pretende comprar no supermercado teve até ali chegar.
Mas também já há desafios para alargar a tecnologia a outros sectores da área alimentar, como a agricultura. “Temos falado com pessoas do sector do retalho e da indústria, e dizem que se conseguimos fazê-lo na pesca conseguimos facilmente noutras áreas”, refere Pedro Manuel. Um caminho que a empresa pretende seguir, embora a prioridade seja, por enquanto, continuar a potenciar a solução que desenvolve para a pesca.