Empresários veem com bons olhos o fim do teletrabalho obrigatório

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Empresários defendem que as dinâmicas de grupo melhoram o fluir do trabalho

Funções que requerem trabalho em equipa melhoram com o regime presencial. Empresas começam a fazer regressar os colaboradores

A nova fase de desconfinamento iniciada na passada segunda-feira colocou fim ao regime de teletrabalho obrigatório nas funções compatíveis. O teletrabalho continua a ser recomendado quando é possível e nas empresas isto significa mudanças. Alguns estudos indicam que trabalhar a partir de casa tem vantagens e pode aumentar a produtividade, devido a fatores como a flexibilidade de horários, mas também há quem considere que existem mais distrações, sobretudo quando todo o agregado familiar está em casa.
Duarte Nuno, fundador e administrador da tecnológica CloudByte, adianta que os cinco colaboradores da empresa regressaram ao local de trabalho físico e que não pondera adoptar um regime misto. A razão é simples:
“Considero que, nesta área de trabalho, em que envolve trabalho de equipa o presencial é benéfico, porque as pessoas interagem mais facilmente e o trabalho flui muito mais rapidamente”, salienta o caldense.
O confinamento levou a que a equipa da Cloudbyte estivesse cerca de seis meses em teletrabalho e Duarte Nuno afirma que, num regime presencial, “os projetos podiam ter tido um ritmo de produção muito maior, independentemente de termos colaboradores responsáveis e que desempenharam as suas tarefas”. Outro fator negativo, considera Duarte Nuno, é a integração de estágios curriculares e profissionais. “Quem vem neste contexto de aprendizagem precisa de acompanhamento, que se torna muito mais complicado”, realça.
No Grupo Auto Júlio, que tem uma grande variedade de atividades económicas, o teletrabalho foi implementado a 13 de março do ano passado e vai manter-se. Catarina Sousa, diretora de recursos humanos do grupo, refere que a medida foi aplicada para “garantir a segurança de todos os trabalhadores e a continuidade da laboração das várias empresas” do grupo e até acabou por “acelerar o processo de desmaterialização que já estava em curso”.

A aplicação do teletrabalho funciona para alguns tipos de trabalhos, mas limita quando se trata de atividades de natureza coletiva

Mesmo assim, também nesta empresa se percebe que o teletrabalho é mais adequado para algumas funções do que para outras. Tendo em conta que o Grupo Auto Júlio integra setores empresariais de grande dinamismo tecnológico e flexibilidade na organização, Catarina Sousa considera que o teletrabalho acabou por ser “uma mais-valia” que permitiu à empresa modernizar e aperfeiçoar a eficiência dos procedimentos.
Quanto às desvantagens, a profissional aponta igualmente a “demora na resolução de algumas situações e que seriam mais facilitadas com a prestação presencial do trabalho”. Mesmo o feedback que foi chegando à empresa por parte dos colaboradores “não foi unanime”, adianta, variando conforme a maior ou menor facilidade na conjugação entre a disponibilidade pessoal e as exigências do serviço. Nesta fase, a empresa vai manter-se a trabalhar da mesma forma, reavaliando a situação de acordo com as necessidades da empresa e os níveis de desconfinamento.
No grupo Transwhite, Manuela Sábio tem opinião idêntica. A empresa chegou a ensaiar o regime de teletrabalho nas funções administrativas, mas acabou por fazer regressar os trabalhadores à empresa devido à complexidade das dinâmicas coletivas que são necessárias. “Mesmo os funcionários diziam que era difícil, porque são centenas de documentos que trabalhamos diariamente como uma linha de produção, pelo que precisamos de estar em comunicação constante”, sublinha.
A empresa teve alguns colaboradores no regime de teletrabalho para darem apoio aos filhos em ensino à distância, mas também estes voltaram quando as escolas reabriram.