A empresa caldense Estores Rainha, Materiais de Construção Lda. está a comemorar o seu 40º aniversário de actividade. Apesar de estar ligada ao um sector da construção que só agora começa a recuperar da crise, a firma caldense passou ao lado das dificuldades e tem tido um crescimento sustentado nos últimos anos. Em conjunto com a empresa Habitarmos, que actua no ramo dos pavimentos e revestimentos, é um grupo em crescimento. Em 2016 lançou uma marca própria para pavimentos, a Arkitek, e tem outra em desenvolvimento. E a exportação também está nos planos para o futuro.
Armindo Carvalho, fundador e gerente da Estores Rainha, estabeleceu-se por conta própria em 1976. Tinha voltado da guerra do Ultramar, onde fez duas campanhas de dois anos. Durante a segunda, em Angola, abdicou de regressar a Portugal de férias para conhecer o mercado empresarial que se desenvolvia em território angolano. “Foi aí que comecei a criar ambições”, disse à Gazeta das Caldas.
Quando regressou e integrou o mercado de trabalho, sentiu uma grande depreciação no seu vencimento em relação ao que tinha nas Forças Armadas. Trabalhou num banco e como vendedor em empresas de materiais de construção. “Eu queria crescer, foram-me prometidas condições que ao fim de dois anos nunca se concretizaram e então pensei em estabelecer-me por minha conta”, recorda.
Fundou, então, a Estores Rainha, Materiais de Construção Lda., iniciando actividade já em 1977 com um armazém de 100 m2 na Rua Vicente Paramos. “Era uma coisa pequena, em que o ramo forte eram os estores e os pavimentos que se usavam na altura, que não tinham nada a ver com os que se usam agora”, realça.
Os materiais com mais saída eram os tacos antigos e o parquet mosaico para pavimento, e os estores eram de madeira, muito mais difíceis de trabalhar que os de hoje.
Passados três anos Armindo Carvalho já tinha necessidade de ter mais espaço de armazém e ampliou as instalações para um edifício contíguo, quadruplicando a área de armazenamento.
A empresa estava vocacionada para trabalhar directamente com a construção civil, embora trabalhasse também o cliente final, como hoje continua a fazer. Um dos segredos para o sucesso foi a forma como sempre acompanhou as tendências e as necessidades do mercado. “Fomos dos primeiros a ter pavimento flutuante”, realça Armindo Carvalho, acrescentando que a dada altura chegou a trabalhar directamente com fornecedores da Indonésia para introduzir no mercado português alguns tipos de pavimento fabricados naquele país.
O desenvolvimento do negócio levou a nova mudança de instalações, em 1993, para a Estrada da Tornada onde ainda hoje se mantém. “Adquirimos o terreno que na altura era um casal e construímos as instalações com capitais próprios, o que foi muito bom porque os juros da banca na altura eram proibitivos, na ordem dos 25 a 30%”, destaca o empresário.
Esse crescimento constante levou a que no final do século passado fosse constituída uma segunda empresa, a Habitarmos, Lda. Na altura esta segunda firma foi pensada para desenvolver projectos de construção, o que nunca chegou a fazer. Contudo, mais recentemente acabou por assumir, já com Óscar Carvalho, filho de Armindo, um papel importante no negócio do grupo.
APOSTA NA REVENDA CONTORNOU A CRISE
A aposta na Habitarmos, antes da crise no sector da construção, trouxe uma mudança de paradigma para o grupo. Óscar Carvalho entrou em 2004 e houve uma separação efectiva dos negócios. A Estores Rainha ficou mais concentrada nesse tipo de soluções, enquanto a Habitarmos assumiu o negócio ligado aos pavimentos e revestimentos.
A separação dos negócios levou, de forma progressiva, a mudanças também na sua estrutura. Enquanto a Estores Rainha tinha, e mantém, como grosso dos clientes os construtores civis, a Habitarmos abriu as portas à revenda, num processo que foi definitivamente implementado em 2009, na altura em que deflagrou a crise do imobiliário.
Com a Habitarmos, o grupo ganhou representação exclusiva de várias marcas de soalhos para o mercado nacional e montou uma rede de revendedores com presença em todas as cidades do país. “O caminho foi tentarmos dispersar cada vez mais os clientes para que a falta de alguns não pesasse tanto na empresa”, diz Óscar Carvalho.
Armindo Carvalho complementa, dizendo que houve uma opção clara por um crescimento sustentado. “Poderíamos estar com outro volume comercial, mas a experiência ensina-nos muito, vimos empresas surgirem, crescerem de forma desmesurada e depois desaparecerem, enquanto nós estamos cá há 40 anos”, sustenta.
Outro aspecto que o empresário destaca é que os lucros não são retirados da empresa, o que tem sido também de importância crucial no seu trajecto. “Uma empresa que não tenha boas condições financeiras irá sempre ter dificuldades em alturas de crise porque a banca e os fornecedores dificultam o crédito e sem capitais é impossível sobreviver”, afirma.
Com a nova estratégia de abordagem ao mercado, a empresa fintou a crise. Os seus responsáveis não quiseram divulgar o montante do volume de vendas, mas adiantaram que o grupo tem crescido a uma média de 20% ao ano.
MARCAS PRÓPRIAS A PENSAR NOS CLIENTES
A mudança de estratégia implementada pela Habitarmos não se limitou à aposta na revenda. A empresa lançou em 2016 também a sua própria marca de pavimentos, a Arkitek.
“A proximidade com os nossos parceiros de revenda foi aumentando e com esse caminho aberto começámos a desenvolver a nossa marca própria”, conta Óscar Carvalho.
A Arkitek trabalha pavimento flutuante vinílico e tem uma vantagem em relação às demais. É que enquanto as marcas de fábrica se dedicam mais ao produto pavimento, com a sua marca própria a Habitarmos oferece toda a solução ao cliente, juntando os acessórios que são indispensáveis, como os rodapés, as telas e os perfis. “Normalmente as marcas não dão estas soluções, os clientes têm que as procurar, nós damos a solução completa, porque temos a visão do cliente e não apenas a do fabricante”, realça.
Ter uma marca própria dá autonomia à empresa na colocação dos produtos no mercado e também ao nível da flexibilidade das colecções, que no caso da marca caldense são desenvolvidas e adaptadas em função do feedback que recebe directamente dos clientes.
A forma como a Arkitek se tem desenvolvido fez com que a empresa pensasse no lançamento de uma segunda marca, que está actualmente em desenvolvimento, mas sobre a qual os responsáveis não quiseram adiantar mais pormenores.
MERCADO EXTERNO PODE ESTAR NA CALHA
Actualmente a Estores Rainha e a Habitarmos têm a sua actividade focada no mercado nacional, mas essa é um postura que poderá mudar “a curto ou a médio prazo”, adianta Óscar Carvalho.
“Temos alguma sinalização de potenciais mercados, mas não está nada definido ainda”, adianta o administrador da Habitarmos, realçando, no entanto, que não deverá passar pelos habituais mercados dos países lusófonos.
No conjunto, a Estores Rainha e a Habitarmos dão emprego directo a 14 pessoas. No entanto, há ainda mais sete colaboradores indirectos, vendedores comissionistas distribuídos pelo país.
Óscar Carvalho destaca o papel fundamental do quadrado formado pela empresa, pelos seus colaboradores, fornecedores e clientes para o sucesso ao longo destes 40 anos. “As empresas só funcionam se todos os pontos acompanharem e felizmente temos tido a sorte de conseguir construir essas relações com todos os agentes do mercado”, concluiu.