Procura crescente pelo ensino superior leva a falta de quadros intermédios, com requisitos de caráter técnico. Há falta de profissionais nas áreas técnicas e com competências alargadas
Sofia Santos Cardoso
Colaboração especial REGIÃO DE LEIRIA
Os gestores de recursos humanos revelam as áreas profissionais onde há uma maior lacuna de profissionais qualificados, na atualidade, e que serão apostas formativas com elevada empregabilidade no futuro.
Se por um lado há uma procura cada vez maior de formações complementares, para além da licenciatura, nomeadamente na área tecnológica, por outro, há também uma lacuna nos quadros intermédios que, nos últimos anos, têm sido esquecidos com a maioria dos jovens a optar pelo ingresso no Ensino Superior. Os especialistas alertam para a falta de candidatos em perfis intermédios com requisitos de carater técnico. “É um dos maiores desafios que o mercado enfrenta”, revela João Silva, staffing senior diretor da Multipessoal, alertando que “qualquer formação profissional que gere competências em contexto industrial ou de manutenção, pela atual escassez de profissionais disponíveis, será um mercado de elevada empregabilidade e, inclusivamente, com condições remuneratórias atrativas”.
Nelson Brites do grupo NOV também confirma esta lacuna no atual mercado de trabalho. “As profissões que exigem níveis académicos intermédios, como o Ensino Profissional ou o TESP [Cursos Técnicos Superiores Profissionais]”, serão as mais requisitadas, nestes quadros intermédios segundo o gestor de recursos humanos, que alerta para a importância da transversalidade de competências, também nestes perfis. “No médio e longo prazo, serão necessários sobretudo quadros técnicos de áreas mais ligadas às ciências e às tecnologias, que consigam aliar à sua formação, conhecimentos de gestão e com orientação para o cliente”, antecipa o especialista, partilhando a sua experiência no grupo NOV, enquanto diretor de recursos humanos.
“Em Portugal, neste momento, a nossa maior dificuldade reside, inequivocamente, no recrutamento de quadros para funções mais operacionais, cada vez mais escassos no mercado”, revela, apontando algumas medidas que considera cruciais para diminuir esta lacuna de profissionais: “Faria sentido tornar mais céleres e simples os processos de legalização de candidatos estrangeiros, e agilizar mecanismos de incentivo à requalificação de profissionais oriundos de funções que estejam a tornar-se obsoletas ou inadequadas aos contextos atuais”.
“Neste momento, a nossa maior dificuldade reside no recrutamento de quadros para funções operacionais.”
Nelson Brites
“Será importante valorizar o ensino técnico profissional especializado”
Carolina Felgueiras e Isabel Fonseca
Investir em quadros intermédios
Carolina Felgueiras e Isabel Fonseca, da Randstad, destacam como áreas com maior escassez de profissionais, “as áreas técnicas qualificadas como electricistas, soldadores, serralheiros, carpinteiros, mecânicos e técnicos de manutenção”. Contornar esta incapacidade de resposta às atuais necessidades do mercado de trabalho, irá exigir uma mudança de mentalidades a vários níveis, segundo as especialistas. “Será importante deixar de olhar para a qualificação apenas como aposta no ensino superior e valorizar o ensino técnico profissional especializado, reconhecendo também o devido valor a estas profissões. As empresas podem também assumir um papel ativo na qualificação de profissionais destas áreas e, com essa aposta, demonstrar o investimento em relações laborais mais duradouras, aumentando a retenção de talento e assumindo a sua responsabilidade social e ética”, sugerem.
O setor da Construção e Obras Públicas, que tem crescido em Portugal a passos largos, nos últimos anos, é um dos mais afetados. No sentido de responder às necessidades de recrutamento que existe no sector, nomeadamente na região de Leiria, a Associação Regional dos Industriais de Construção e Obras Públicas de Leiria (ARICOP), em parceria com o Instituto do Emprego e Formação Profissional, está a recrutar novos profissionais, e a garantir a sua formação adequada, através do projeto RAMP – Construction Academy, que tem como propósito o rejuvenescimento dos recursos humanos das empresas associadas.
Quanto ao sector da Construção, o projeto RAMP tem como grande objetivo “a profissionalização de jovens e o posterior reforço da mão de obra especializada essencial”, refere José Luís Sismeiro, presidente da direção da ARICOP. De acordo com o responsável, para combater a escassez de profissionais neste sector de atividade, será também necessário desmistificar alguns preconceitos.
“A grave crise económica que ocorreu entre 2011 e 2017, e que afetou exageradamente o sector da construção, criou a ilusão de que o sector não era atrativo, afastando jovens que poderiam ter ingressado nas empresas do sector”, lamenta, lembrando o contexto atual destas empresas que agora não só é mais atrativo, como mais exigente. “As empresas devem estar dotadas de profissionais especializados capazes de garantir e reforçar o elo de ligação entre projetos cada vez mais sofisticados e a obra propriamente dita. Impõe-se, por este motivo, que os profissionais estejam cada vez mais preparados em termos de conhecimentos técnicos”, conclui José Luís Sismeiro. ■