Em 2018 a ICEL cresceu 6,5% e atingiu uma facturação de nove milhões de euros. Na fábrica da Benedita foram produzidas 3,7 milhões de peças (na maioria facas). A exportação é responsável por 80% da facturação da empresa, que alcança 81 países, mas Portugal acaba por ter a maior quota de mercado, com 20%. A empresa, que emprega 187 funcionários, pretende crescer 40% nos próximos cinco anos para o qual conta contratar mais 20 a 30 pessoas.
Em 2018 a ICEL cresceu 6,5% e atingiu uma facturação de nove milhões de euros, revelou à Gazeta das Caldas o presidente do Conselho de Administração da empresa, Nuno Radamanto. Um valor que a empresa pretende ultrapassar com “um plano a cinco anos que está a começar a ser implementado e que pretende atingir um crescimento de 40% no volume de negócios”.
Desse plano faz parte a continuidade do que tem vindo a ser feito com a mudança para a terceira geração (robotização da fábrica) e a valorização da marca e, por consequência, do preço médio de venda de cada peça.
“A marca já foi muito reconhecida, mas ultimamente já não era tanto. Nos últimos anos temos feito um trabalho de refortalecimento que já está a dar resultados”, disse o administrador.
Por outro lado, este plano tem em conta que “a qualidade dos produtos portugueses está a ser mais reconhecida do que nunca e que existe espaço para, com uma estrutura comercial mais forte e que ataque certos mercados de forma diferente, crescer muito significativamente”.
Outra novidade que irá contribuir para este crescimento é que este ano a ICEL irá montar uma estrutura diferente no departamento de exportação criando postos de distribuição em mercados que já conhecem há várias décadas. Tal representa uma ruptura com a prática anterior de entregar o produto a distribuidores locais.
Mas se a empresa quer crescer, “a capacidade produtiva tem de acompanhar o crescimento que tivemos nos últimos seis anos: 35% de facturação e quase 400% em lucros”, diz Nuno Radamanto.
Se há seis anos a capacidade de produção era maior do que estava a ser utilizada, hoje em dia essa capacidade já não chegaria. “Tem de haver um equilíbrio entre o desenvolvimento comercial e a adaptação da capacidade produtiva para corresponder a esse aumento que pretendemos atingir”. Assim sendo, continuarão a ser feitos investimentos na amolação, polimento e primeiras operações de acabamentos. “Em termos de corte e têmpora de aço não temos que investir porque temos mais capacidade do que utilizamos”, explicou.
Exportação para 81 países
A exportação representou em 2018 um total de 80% dos 3,7 milhões de peças que foram produzidas naquela unidade fabril, na sua maioria facas. “A ICEL começa a exportar em 1973, até mais cedo do que era comum para as PME portuguesas”, explicou Nuno Radamanto. Isto não contando com as então colónias como exportação, porque aí já as facas da ICEL estavam desde o início da década de 60.
Foi, portanto, em 1973 que a empresa percebeu que tinha uma capacidade de produção maior do que era absorvida pelo mercado nacional e colonial. Por isso, decidiu procurar outros países. “Curiosamente os três primeiros países para onde a ICEL exportou continuam hoje a ser mercados complicados e considerados dos mais difíceis: Estados Unidos, Austrália e Dinamarca”.
Em 1974, com a revolução, “houve um impacto que significou alguma coisa, mas não teve influência no caminho da empresa”. O negócio que a ICEL tinha nas colónias desapareceu. Mas o processo de internacionalização da marca já estava em curso, até porque 12 anos depois do 25 Abril Portugal aderia à CEE e os mercados abriam-se para a indústria portuguesa.
Hoje em dia, as facas desta empresa estão presentes em 81 países dos cinco continentes, mas o país que mais facas compra é Portugal (20% da produção destina-se ao mercado nacional).
Nuno Radamanto afirmou que “a ICEL jamais descurará o mercado português, que continua a ser o seu maior mercado. Só num ano da nossa história é que não foi assim, foi o mercado grego, que tem um peso importante”, revelou Nuno Radamanto.
O empresário acredita que há espaço para crescer sobretudo para o mercado externo, onde a qualidade do produto português era um handicap à entrada, mas hoje até é um selo de qualidade. “Noto uma diferença incrível na percepção que o estrangeiro tem da nossa produção, não só em termos metalomecânicos, mas no geral”.
Quase um século de história
A empresa tem a sua origem em 1929, quando Joaquim Jorge (avô do actual presidente) e dois irmãos começaram a produzir os primeiros canivetes e facas feitas à mão. Em 1940 iniciaram uma actividade conjunta com o nome de família, mas essa ainda não era a ICEL, que surgiria cinco anos depois, em 1945, quando já empregavam na sua oficina 25 pessoas. A Indústria de Cutelarias da Estremadura Lda. (ICEL) começou por se instalar na Ribafria e mudou-se para a actual localização, na Avenida Padre Inácio Antunes, há mais de 50 anos, em 1966.
Ainda assim, apesar de estar sediada neste local há 53 anos, as instalações são modernas. Os últimos grandes investimentos estão ligados à robotização da fábrica, “um processo iniciado já há 15 anos, mas que tem vindo a ser reforçado nos últimos dois a três anos”.
Do trabalho realizado na fábrica, há partes que a administração considera “rentável e interessante” substituir a mão humana pelas máquinas. É o caso da amolação, a abertura de serrilhas e outras valências numa lâmina ou em primeiras operações de lixagem e polimento. Mas a fase final de acabamento dos produtos premium é feita à mão. “Nas operações de grande produção já temos algumas dezenas de robots e estamos constantemente a preparar novas células robóticas para começar, mas nunca em prejuízo do pessoal pois a ICEL nunca despediu ninguém. Quando substituímos pessoas por máquinas, realocamo-las noutras tarefas”, salientou Nuno Radamanto.
Hoje em dia trabalham nesta fábrica 187 pessoas. “Na nossa indústria há certas partes que, para terem o nível de qualidade e perfeição a que ICEL habituou os seus clientes, têm de ser finalizadas à mão”, realçou o empresário.
Homem e máquina de mãos dadas na produção
Em 2012, quando esta administração tomou posse, a ICEL facturava 6,5 milhões de euros e tinha 156 trabalhadores. A empresa cresceu então 35% em facturação e emprega mais 21 funcionários. O administrador prevê que “se atingirmos os objectivos a que nos propomos, seguramente nestes cinco anos criaremos entre 30 a 40 postos de trabalho”. Isto porque “a aposta na robotização cria a necessidade de postos de trabalho humanos, não no que o robot faz, mas na fase subsequente”.
Aí entramos num dos problemas dos quais os empresários do sector mais se queixam: a dificuldade em encontrar mão de obra, sobretudo qualificada. Nuno Radamanto revelou que no seio do núcleo da cutelaria criado na AIRO, a posição da ICEL é que, mais do que questões comerciais e que selos de qualidade e origem, urge criar uma escola profissional de cutelaria, onde pudessem ser ensinadas tarefas e competências. O empresário disse que essa ideia tem o apoio das restantes empresas porque seria um bem comum para todos. “Quando contratamos alguém, temos que formar durante meses para certas funções”, exemplificou.
Mas a falta de mão de obra não se sente apenas aí. “Também a nível de quadros superiores, por exemplo, de engenharias eletrotécnica, mecânica e química, neste momento não é fácil encontrar profissionais disponíveis no mercado de trabalho”.