Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro considera a atribuição do galardão PME Líder um indicador relevante para avaliar o potencial da região e elogia a resiliência dos empresários do Oeste.
À frente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Centro desde o início de 2020, Isabel Damasceno considera, em entrevista, que o tecido empresarial do Oeste exibe a vitalidade necessária para continuar a responder aos constantes desafios que a conjuntura, agravada com a pandemia e a guerra na Ucrânia, têm vindo a apresentar. A antiga presidente da Câmara de Leiria considera, ainda, fundamental que os autarcas invistam na proximidade às empresas.
O Oeste viu serem reconhecidas, em 2021, mais 74 empresas com estatuto PME Líder. Este é um sinal da capacidade dos empreendedores da região?
Evidentemente que sim. Aprecio muito estes rankings, porque, ainda que possam apresentar alguma fragilidade num ou noutro indicador, são muito importantes para fazermos uma avaliação e comparação entre territórios e perceber as dinâmicas. E aquilo que verificamos no Oeste é que há uma dinâmica muito interessante, que não é igual em todo o território, pois também se verificam algumas desigualdades, sendo esta classificação da PME Líder uma boa ferramenta de avaliação. O que podemos concluir é que a atribuição destes galardões tem uma correspondência com a procura que os empresários têm tido em relação ao Centro 2020. Por norma, são as empresas mais dinâmicas, que têm mais capacidade, iniciativa e resistência que procuram os fundos e o Oeste, que é mais uma sub-região do Centro, tem apresentado uma assinalável procura de financiamento para novos projetos, o que nos apraz registar.
E, com o PRR, as empresas passaram a apostar mais na inovação?
Estamos a falar de “campeonatos” diferentes. As empresas que recorrem aos fundos relativos aos programas operacionais são virados para a internacionalização, competitividade e aumento da produtividade e temos procurado dar resposta a essas entidades, primeiro no 2020 e agora no 2030. O PRR está mais direcionado para a inovação e parcerias entre as empresas e o sistema científico, pois é um instrumento extraordinário e que foi lançado pela União Europeia em condições específicas. Contudo, é muito saudável perceber que há inúmeros consórcios de empresas e instituições do ensino superior que têm apresentado candidaturas ao PRR, nomeadamente no âmbito das Agendas Mobilizadoras, em que o Politécnico de Leiria tem tido um papel muito relevante. Duvido que haja outra instituição de ensino superior no nosso país que tenha tantas candidaturas neste programa ao PRR e isso é demonstrativo da dinâmica do Politécnico, mas também do tecido empresarial da região.
Como se pode auxiliar as empresas no que diz respeito aos custos de energia? Há setores a atravessar grandes problemas neste âmbito…
O conjunto de medidas que o Governo tomou e está com intenções de aplicar nos próximos tempos tem um intuito específico de auxiliar as empresas que têm sido mais afetadas com a subida da inflação e do aumento dos custos energéticos. Essa é uma forma direta de apoiar as empresas que estão a sofrer diretamente com o aumento galopante da inflação e dos custos de energia, como a cerâmica. Para além disso, continua a haver disponibilidade para apoiar as empresas nas medidas de eficiência energética, que já existiam no 2020, mas que é possível que venham a ter ainda mais impacto no 2030. O objetivo é ajudar as empresas a implementar medidas que conduzam à redução do consumo de energia ou ao consumo de energia que seja mais amiga do ambiente e mais barata, contribuindo também para a diminuição da pegada carbónica. Temos de trabalhar nos dois tabuleiros: ajudar as empresas a fazer investimentos que permitam a redução do consumo energético e apoios diretos para aliviar o impacto que o aumento brutal dos custos de energia está a ter nas empresas.
O Presidente da República disse há dias, a propósito da proposta do Orçamento de Estado para 2023, que o Governo está a navegar à vista. Há muito receio do que aí vem…
Neste momento, ninguém sabe prever o que será o próximo ano. Nunca vivemos, nas últimas gerações, com uma guerra às portas da Europa e isso está a criar todos estes impactos na economia, sem que consigamos prever quando e como a guerra poderá terminar. Tudo se altera de um dia para o outro e os impactos económicos e sociais são enormes. Desse ponto de vista, estamos a trabalhar sem rede, mas só podemos fazer previsões com os instrumentos que temos e que as instituições internacionais dispõem, mas ninguém tem uma varinha mágica para adivinhar o que pode acontecer.
Foi presidente de Câmara e trabalha com autarcas todos os dias. Considera que os autarcas do Oeste estão preparados para apoiar as empresas e preocupados com a inovação nos territórios?
Cada vez mais temos autarcas sensibilizados para essa componente. É absolutamente necessário que os autarcas estejam sensibilizados para a ligação ao mundo empresarial, ao empreendedorismo, à inovação e felizmente temos vários bons exemplos. Mas as autarquias não podem substituir as empresas. São as empresas que criam riqueza e emprego, que inventam soluções criativas para novos produtos. Cabe aos autarcas terem a consciência que devem ser agentes facilitadores para a instalação de empresas. Desde logo nos chamados custos de contexto, podendo agilizar o licenciamento ou na criação da áreas empresariais para que as empresas tenham espaços apropriados para se instalarem, na ligação com o sistema científico, entre outros aspetos. Esta é uma componente que está, hoje em dia, nas prioridades de qualquer presidente de Câmara.
O comércio é, sem grande surpresa, o setor mais representativo das empresas PME Líder no Oeste. Até com o incremento do turismo, considera que uma cidade como as Caldas, reconhecida como a “rainha” do comércio, pode manter essa identidade nas próximas décadas?
Acredito que sim, até porque essa identidade é histórica. Há uns anos largos, Caldas estava muito à frente de Leiria no que diz respeito ao comércio. Quando era mais jovem, as compras faziam-se nas Caldas, porque Leiria não tinha oferta. Hoje em dia já não é assim, porque as coisas mudaram e as duas cidades têm uma capacidade de resposta muito equivalente, mas a marca do comércio das Caldas é histórica e não pode ser perdida. O comércio nas Caldas tem coisas interessantíssimas, sobretudo com uma chancela de design e criatividade. Vamos assistindo, com frequência, ao surgimento de novos produtos, novas marcas e há condições para que novos criadores se afirmem e, muitas vezes, até com produtos virados para a internacionalização. A minha expetativa é que as Caldas se consiga manter como uma referência do comércio e capaz de se reinventar.
Para haver comércio a mexer é preciso que o turismo mantenha o crescimento que tem evidenciado e, para isso, a proximidade com um aeroporto é muito relevante. A Comunidade Intermunicipal do Oeste voltou a colocar na agenda a Ota. Faz sentido falar desta solução, quando PS e PSD, aparentemente, estão a estudar outras alternativas?
O que faz sentido, em primeiro lugar, é o país resolver a questão do aeroporto, qualquer que seja a localização. Já é tempo de se encontrar uma solução. É evidente que, para o Centro, e obviamente também para o Oeste, uma infraestrutura aeroportuária a norte do Tejo é muito mais benéfica do que a sul do Tejo. Isto é o que posso dizer. O que desejo é que se encontre uma solução, que a solução encontrada seja a melhor para o país, fiquei satisfeita com o entendimento entre os dois maiores partidos, mas se houver uma solução que beneficie mais diretamente o Centro, tanto melhor.
Como encara a possibilidade de constituição de uma nova NUT II que englobe a Lezíria e o Médio Tejo com o Oeste?
Compreendo e respeito a vontade das estruturas que são representativas das populações, como são os autarcas e, por inerência, as comunidades intermunicipais. Se essas três comunidades intermunicipais entendem que é importante para a sua afirmação e para o desenvolvimento dos seus territórios a criação de uma nova NUT não criaremos qualquer obstáculo. Compreendemos que estas subregiões nunca ficaram com o problema completamente resolvido, pois para alguns efeitos respondem à CCDR Centro, nomeadamente para os fundos europeus, e noutros respondem à CCDR Lisboa e Vale do Tejo. Entendo que isto seja desconfortável e que não seja prático. Há aqui uma questão mal resolvida. Se o processo tiver desenvolvimento, terão na CCDR Centro toda a colaboração necessária.