
Milhares de jovens passaram pela região e animaram centros urbanos, mas o retorno económico foi pouco significativo
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) trouxe milhares de jovens à região, preenchendo algumas unidades hoteleiras principalmente nas Caldas da Rainha, mas o impacto real da permanência destes jovens é relativizado pelos empresários. Por um lado, por se tratarem de jovens que não vêm com intuito de explorar turisticamente o destino, por outro, por se tratarem de jovens com menos disponibilidade para gastar dinheiro, numa altura do ano em que a afluência à região já é forte quer fluxo turístico, quer pelo regresso da emigração em período de férias.
Uma das unidades hoteleiras das Caldas da Rainha que ficou totalmente preenchida por um único grupo de jovens para as JMJ foi o Hotel Cristal. “Ficámos logo lotados em setembro do ano passado, com um grupo de italianos com cerca de 50 pessoas, que ficam connosco durante oito dias”, disse à Gazeta das Caldas o diretor da unidade caldense, Joaquim Serra.
Os jovens vão e vêm todos os dias para Lisboa, pelo que só pernoitam no hotel. E se este grupo garante uma lotação do hotel em 100% durante este período, o impacto que tem na atividade regular do hotel é reduzido. “Normalmente estamos cheios no mês de agosto e também não houve alteração no preço habitual para o mês de agosto”, refere Joaquim Serra.
De resto, a unidade hoteleira está lotada para todo o mês, “e depois temos uma ligeira queda”, refere o diretor do Hotel Cristal, unidade que é muito procurada por grupos.
Ali perto, no restaurante Maratona, José Elói sublinha que não há como negar que a JMJ traz um impacto para as Caldas, com algum retorno financeiro para a restauração. “Tem algum impacto, que não consigo ainda quantificar em termos percentuais em relação a esta altura do ano passado, mas sentimos que há mais pessoas na cidade, em particular nesta zona da igreja. É um fenómeno de massas, que traz gente e gera retorno”, afirma.
José Elói notou um incremento de procura principalmente durante a manhã e aos almoços. “Não diria que seja algo de extraordinário, é algo que comparo, por exemplo, quando há eventos desportivos na cidade, como torneios de badminton, mas é sempre um extra”, sublinha.
Os jovens que ficaram nas Caldas ocuparam a hotelaria e consumiram na restauração, mas Luís Gomes, presidente da ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste, refere que esta presença teve um impacto menor no restante comércio. “De facto, veem-se muitos jovens na cidade, sobretudo italianos, mas no comércio não se vê assim uma grande diferença pela sua presença”, aponta o dirigente.
Luís Gomes nota que, esta altura do ano a cidade já atrai muitos visitantes e tem de regresso os seus emigrantes, que aproveitam para fazer compras. “Esse sim é um público que está a mexer com o comércio nesta altura”, refere, acrescentando que os jovens que vêm para participar nas atividades da JMJ “muitos deles são menores e têm um poder de compra limitado”.
No entanto, nem por isso Luís Gomes deixa de fazer um balanço positivo da passagem dos jovens da JMJ pelas Caldas das Rainha e pela região. A sua presença traz “uma alegria muito grande, que se sente é bom de ter na cidade”, realça. Mas também, e olhando para o futuro, a presença destes jovens e a exposição que o país está a ter a nível internacional pode trazer dividendos no futuro. “Alguns destes jovens que estiveram por cá um dia vão querer voltar, visitar e quem sabe ficar. Estamos a atravessar uma fase em que o que está nas notícias é a guerra e Portugal fica associado à vinda do Papa Francisco e à mensagem de paz e esperança que está a transmitir”, acredita.
Se nas Caldas da Rainha há impactos, mesmo assim, palpáveis da presença dos participantes da JMJ, em Óbidos Carlos Martinho, proprietário do Hotel Josefa D’Óbidos e presidente da associação Óbidos.com, diz que o impacto é menor.
“Posso dizer que, na minha unidade, tenho oito condutores de autocarros que estão a transportar jovens para Lisboa e não se nota muito mais aqui em Óbidos. O cliente de Óbidos tem, por norma, outra idade e aqui cobram-se preços mais elevados do que noutras localidades, pelo que não há muitos jovens a dormir nos hotéis em Óbidos”, refere.
Houve um grupo de cerca de 400 jovens a pernoitar no pavilhão municipal, mas também esses não vieram com o propósito de consumir no comércio e restauração obidense.
Além disso, Carlos Martinho sublinha que as unidades hoteleiras do concelho estão com boas taxas de ocupação para esta altura do ano, a rondar os 85%, mesmo sem os jovens da JMJ. ■