Dormir num antigo contentor marítimo ou com os dinossauros da Lourinhã, ter experiências na captura e degustação da sardinha em Peniche, são ideias de jovens empreendedores que foram reconhecidas pela Óbidos.com, no passado dia 2 de Março. A atribuição dos prémios encerrou o seminário “Novos modelos de negócios no turismo”, que decorreu no Espaço Ó e onde os intervenientes foram unânimes em considerar que esta é uma região com muito potencial e que o talento humano é uma das ferramentas essenciais para o sucesso.
Permitir aos turistas ter experiências diferentes como dormir num antigo contentor marítimo em frente ao mar entre o Baleal e Peniche será possível quando o projecto Eco Sea Hostel for uma realidade. Esta ideia dos alunos da ETEO, Diogo Vieira, Maria Oliveira e Tatiana Pereira, foi a vencedora do concurso Turismo Criativo e Sustentável: O futuro do Oeste, dinamizado pela Obidos.com.
Estes jovens propõem a criação de um hostel sustentável usando os contentores devolutos, dando-lhes conforto através de uma decoração minimalista e multifuncional. Para arrancar com o projecto são necessários perto de 253 mil euros, empregues em 25 contentores marítimos, equipamentos e remodelações e sistema de vigilância. Os estudantes do curso de Técnico de Turismo gostariam de concretizar esta ideia e aproveitaram para a apresentar a Tim Vieira, o empresário e conhecido “tubarão” do programa televisivo Shark Tank. O investidor prometeu sentar-se com os jovens para debater ideias e tentar perceber se estão mesmo interessados em andar com o projecto para a frente. “As ideias são fáceis, executar é que é difícil, mas parecem-me pessoas que querem andar com isso para a frente e a criação de um hostel na praia parece, desde logo, ser interessante”, reconheceu Tim Vieira.
Em segundo lugar no concurso ficou o projecto Fish Me!, da autoria dos alunos da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, que consiste na criação da rota da sardinha. O itinerário proposto vai desde a participação na pesca, visita às fábricas de conserva, apoio na reparação dos barcos tradicionais, fazer a renda de bilros, e termina com a degustação de pratos típicos da região de peixe fresco e marisco.
O terceiro classificado entre os 18 projectos seleccionados foi o Glamping com os dinossauros, apresentado por alunos da ETEO. Trata-se de uma forma de alojamento destinado a turistas que queiram pernoitar junto ao parque temático recentemente inaugurado na Lourinhã. Paralelamente são oferecidas actividades relacionadas com a floresta e o mar, nomeadamente caminhadas, BTT, canoagem e passeios de barco, em parceria com empresas de aventura e lazer da região.
Os conselhos de Tim Vieira
O primeiro workshop dinamizado no âmbito do My Oeste contou com a presença de Tim Vieira, empresário em Angola, onde possui um dos mais relevantes grupos de media (que emprega mais de 500 pessoas), assim como em Moçambique e no Gana. É o presidente da BraveGeneration, um grupo constituído em 2015 para servir de veículo de investimento em alguns projectos apresentados no programa Shark Tank Portugal e neste país tem ainda investimentos nas áreas da agricultura, distribuição e tecnologias. O investidor considera que Portugal tem muitos empreendedores e que está moda. A principal mudança que terá que existir é ao nível das mentalidades, de modo a que as pessoas passem a dar mais valor ao que o país tem de bom e façam mais trabalho em rede.
A capacidade humana foi, de resto, referida por diversas vezes por Tim Vieira, como a chave do verdadeiro sucesso. Considera que os obstáculos fazem parte do caminho e partilhou os seus próprios insucessos, destacando que o importante é conseguir, na altura, ver o que está mal e não persistir no erro.
Questionado sobre as melhores dicas para combater a crise, o empresário aconselhou o pouco recurso ao crédito. Ao invés disso, os empresários deverão tentar vender mais e encontrar novos mercados. “Temos que empregar e guardar talento, e sermos transparentes”, disse.
Tim Vieira bebe vinhos da região, conhece a gastronomia e até manda sempre garrafas de ginja d’Óbidos para a avó que está na África do Sul, mas diz que tem que conhecer melhor a região Oeste, que “tem o bom e o mau de estar perto de Lisboa”.
Turismo do Centro esqueceu o golfe
Este seminário contou ainda com a presença de vários oradores, entre empresários e responsáveis de entidades ligadas ao turismo e mundo empresarial.
José Coutinho, da associação LeaderOeste, criticou a estratégia turística da Região Centro para o Oeste, que não passa pelo golfe, produto que tinha sido muito trabalhado pela antiga Região de Turismo do Oeste. “Se o planeamento funcionasse, o golfe não era descurado quando já se gastou tanto dinheiro na sua promoção”, disse, acrescentando que deve haver uma maior aposta nos produtos locais.
O empresário e presidente da Óbidos.com, Carlos Martinho, partilhou a história do Hotel Josefa d’Óbidos, uma unidade hoteleira que se soube renovar e adaptar-se aos tempos actuais através de uma boa utilização dos fundos comunitários. “Como hotel de três estrelas tínhamos há quatro anos uma ocupação de 60% e no último ano, já renovados, tivemos uma taxa de 73%”, disse.
O director do Parque Tecnológico de Óbidos, Miguel Silvestre, apresentou aquela infraestrutura, que possui perto de 40 empresas instaladas e emprega 200 pessoas. Uma delas é a startup Porter (dos caldenses Leonardo Lino e Pedro Esteves) que desenvolveu uma app (aplicação informática) de smartphones para acesso a espaços, substituindo as chaves. Esta app pode ter aplicação prática no acesso a vários espaços como parques de estacionamento, ginásios, hotéis, habitações e escritórios.
A Porter tem como clientes o PTO, bancos e o governo da Holanda. A empresa está numa fase de crescimento no Reino Unido e no próximo mês vai entrar na China.
No âmbito do projecto My Oeste irá decorrer um workshop amanhã, 10 de Março, entre as 14h00 e as 18h00, sobre empreendedorismo Inovador, com a participação do director da EHTO, Daniel Pinto, e do radialista João Carlos Costa. No evento será apresentado o projecto Crepes do Oeste, com alunos da EHTO. F.F.