Há uma carpintaria em A-dos-Francos que se destaca no sector por ser capaz de corresponder aos gostos mais pessoais dos seus clientes e aos projectos mais arrojados dos arquitectos. A Carpifran – Móveis Paulo & Sérgio, Lda., de Paulo Maria e Fernanda Maria, assinalou este mês 20 anos de actividade e está em franco crescimento.
Na vila de A-dos-Francos, onde o principal sector económico é a agricultura, uma unidade industrial sobressai – a Carpifran. Os seus proprietários reconhecem que a sua empresa não é muito conhecida na região, mas a verdade é que goza de uma excelente reputação na zona da Grande Lisboa. A Carpifran fabrica e instala todo o tipo de mobiliário e acabamentos em madeira para o interior de habitações, como cozinhas, casas de banho e roupeiros, e também para estabelecimentos. “Fazemos de tudo, desde um telhado a um móvel lacado de alto brilho”, diz Paulo Maria, proprietário da empresa.
“Muitas pessoas querem peças exclusivas e nós temos casos em que fazemos uma porta só para aquele cliente, a partir da ideia que a pessoa tem”, explica. A Carpifran actua no mercado com uma marca própria e boferece um produto 100% personalizável. Também trabalha directamente com escritórios de arquitectura, que concebem peças únicas, quer para as habitações, quer para entradas de prédios, por exemplo. Peças que a Carpifran se encarrega de concretizar.
Trata-se de um tipo de cliente de uma gama, por norma, média alta. “Não podemos competir em preço com o Ikea. O nosso cliente quer qualidade e quem faz por medida sabe que há custos por se fazer uma peça que é única”, observa o empresário.
A empresa iniciou a actividade em 1996 com o nome Paulo & Sérgio, Lda, nome dos dois primos que a fundaram, mas seis meses volvidos Paulo Maria adquiriu a parte do primo e ficou em sociedade com a esposa, Fernanda Maria. A empresa nascia na garagem da casa do casal, em A-dos-Francos.
Mas para conhecer as origens desta história é preciso recuar mais 10 anos, quando Paulo Maria foi um dos primeiros formandos do curso profissional de marcenaria do Cencal, nas Caldas da Rainha, e um dos que o terminou com melhor aproveitamento. Foi trabalhar para a empresa José Soares de Oliveira & Filhos, Lda, “que era uma das mais conceituadas marcenarias na altura”, recorda Paulo Maria. Ali esteve três anos, que considera importantes na conclusão da sua formação. Antes de abrir o seu próprio negócio trabalhou noutras carpintarias onde foi ganhando experiência e conhecimentos que mais tarde o ajudaram a formar a sua própria firma em A-dos-Francos.
INOVAÇÃO SEMPRE PRESENTE
A inovação esteve sempre associada a esta empresa que alia a marcenaria (a arte de trabalhar a madeira de forma criativa) e a carpintaria – mais ligada à construção civil em trabalhos como execução de telhados, pavimento, portas e janelas.
“Nunca fiz carpintaria tradicional. Na marcenaria trabalha-se a madeira de forma diferente e a formação nessa área deu bases que permitiram uma adaptação muito mais fácil aos conceitos novos”, explica o empresário.
A cave depressa ficou pequena para as encomendas, que vinham sobretudo da zona da Grande Lisboa e Margem Sul, onde o ritmo da construção era muito forte. O bom desempenho da empresa fidelizou os clientes, o que foi garantindo um fluxo de trabalho em crescendo.
O rigor de Paulo Maria em relação à qualidade e aos tempos de execução dos trabalhos levaram a empresa a iniciar o fabrico próprio. “Nunca gostei de estar dependente de outros fabricantes ou fornecedores de material pré-fabricado”, explica o empresário. Tudo o que tem a marca Carpifran é produção própria e “a única coisa que compramos é a matéria-prima”.
Houve então necessidade de ampliar as instalações da carpintaria para a unidade fabril onde a empresa está actualmente instalada.
O COMPUTADOR MUDOU TUDO
A carpintaria é hoje muito diferente da de há 20 anos. “Trouxe-nos novas ferramentas, como o desenho 3D ou o planeamento de corte, e começou a haver Internet, os clientes começaram a pedir coisas que a maior parte das carpintarias não tem capacidade de fabricar”, refere Paulo Maria. Os materiais e a forma de os trabalhar também mudaram com o surgimento de novos equipamentos.
Se muitas empresas do sector não resistiram às mudanças, a Carpifran já nasceu a pensar em linhas diferenciadas. “Estamos sempre a inovar”, sublinha, a procurar trabalhos fora do comum, a explorar novos conceitos e novos materiais.
Um caminho difícil, que obriga a empresa e os seus colaboradores a manterem-se constantemente actualizados. No entanto, esse é um dos segredos para o sucesso da marca e da empresa.
Outro dos segredos é a utilização do computador, que se iniciou em 2001. “Foi a nossa maior inovação”, destaca Paulo Maria. Foi nessa altura que a empresa começou a projectar em 3D os seus produtos, com um programa adquirido numa feira do sector, na Batalha.
Desde então existe um funcionário só para as tarefas desempenhadas no computador, que vão desde a concepção das peças ao planeamento de corte dos componentes, onde a inovação é tão importante como o próprio design. “O planeamento de corte minimiza os desperdícios e isso é muito importante num orçamento final”, destaca o empresário.
De uma placa de aglomerado, da qual podem sair todas as peças necessárias para um móvel, é feito um aproveitamento muito próximo dos 100%. Estes processos estão em constante desenvolvimento e buscam, tanto minimizar os custos como melhorar a qualidade do produto final. O objectivo é que tudo saia o mais perfeito possível da fábrica, para que não seja necessário fazer visitas a casa do cliente para afinar as peças.
O pouco que sobra de cada placa de aglomerado não é desperdício – é utilizado como combustível da caldeira que providencia aquecimento para a estufa de pintura, traduzindo-se numa dupla poupança.
FINTAR A CRISE
Para uma empresa intimamente ligada à construção civil, não foi fácil atravessar a grave crise em que este sector mergulhou. A Carpifran não ficou alheia ao fenómeno, não tanto em termos de falta de trabalho, mas pelas dificuldades que teve com recebimentos de clientes.
“Conseguimos dar a volta por cima sobretudo com uma gestão muito cuidada”, realça o empresário.
Nessa altura a empresa chegou a ter uma loja, que encerrou, e foi forçada a extinguir dois postos de trabalho, um passo que foi especialmente difícil.
Este período foi, contudo, rapidamente ultrapassado e hoje a empresa está em grande expansão. No ano passado teve um volume de vendas próximo dos 300 mil euros. Este ano, no final de Novembro já tinha ultrapassado esses números. Também a força de trabalho tem vindo a crescer e situa-se actualmente nos 10 colaboradores, número que aumenta através de subcontratação quando existem picos de produção.
Neste momento a empresa chega a recusar trabalho. “Não conseguimos atender a todos os orçamentos que nos pedem, sob pena de faltarmos com a nossa palavra, e a relação de confiança com o cliente é um factor do qual não abrimos mão”, afirma o empresário.
Há, por isso, necessidade de expansão, mas este processo tem que ser sustentado. “Não me adianta colocar cinco pessoas de uma vez se tiver de as formar em contexto de trabalho. Temos uma forma tão própria de trabalhar que não podemos aumentar de repente o número de trabalhadores”, sustenta.
Paulo Maria valoriza muito o trabalho que o Cencal faz na formação dos jovens, mas diz que a experiência do dia-a-dia é o que faz evoluir os profissionais, num processo que demora o seu tempo.
Além da madeira e dos novos tipos de derivados que surgem de forma constante, há que saber trabalhar com alumínio, vidro, ferro, iluminação LED, pintura e lacagem. “É uma área que engloba muitas outras para obter um produto final”, sublinha.
É por isso que o empresário valoriza muito a experiência dos colaboradores mais antigos e da importância de a passar para aos mais novos. De resto, a ligação com o Cencal, onde Paulo Maria se formou, permite-lhe continuar agora a acolher formandos para estágios que, nalguns casos, acabam por ser integrados na equipa.
Uma fábrica que é um exemplo
A Carpifran é um exemplo no sector e a sua unidade fabril não lhe fica atrás. O espaço é amplo, tem maquinaria de ponta e as condições de trabalho, de higiene e segurança são pontos de honra.
As ferramentas de corte estão directamente ligadas a um sistema de aspiração que leva a serradura directamente para um depósito localizado no exterior. O sistema garante um ambiente limpo, que é reforçado com limpezas semanais do espaço.
A fábrica é ampla e existe espaço para circular sem dificuldade e o local está bem estruturado e organizado. Perto de cada máquina existem caixotes para onde são enviados os desperdícios. Os materiais em aglomerado são direccionados para aquecimento. Os restos de madeira maciça, que é trabalhada em menor proporção, é colectada para churrascos do pessoal, que reforçam a união da equipa.
As máquinas industriais impressionam quem não conhece o sector. Paulo Maria conta que foi equipando e modernizando a unidade à medida das possibilidades, e aproveitou as ocasiões que surgiram através de empresas que estavam a encerrar.
“Estou equipado com tudo o que preciso para fazer um bom trabalho. Algumas máquinas são raras e, pela especificidade, são difíceis de encontrar, mas com muita pesquisa conseguimos”, afirma.
Os cuidados estendem-se à oficina e estufa de pintura e lacagem. Esta está equipada com um sistema de ventilação que afasta a nuvem de tinta do operador e a dirige para uma cascata de água, que evita a contaminação da atmosfera. O depósito de lamas faz o tratamento da água e as lamas são encaminhadas como está previsto na legislação.
A maquinaria é importante, mas Paulo Maria diz que o fundamental são as pessoas e pelo conhecimento que têm. “Hoje a Carpifran é algo com que sonhei quando menino, mas é um grupo de pessoas que trabalha para um objectivo comum. Não sou patrão aqui, não sou homem de secretária, sou mais um que anda na oficina e na obra”, conclui.
