Ministro do Ambiente deu uma autêntica aula sobre a economia circular

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Gazeta das Caldas - Congresso Empresarial do Oeste
O ministro do Ambiente, Pedro Matos Fernandes, encerrou o congresso

Se o objectivo de Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, era agitar consciências e chamar a atenção para os graves problemas ambientais do planeta, conseguiu-o plenamente. Durante meia hora o governante foi atentamente ouvido por autarcas e restantes congressistas.
Deixamos aqui alguns trechos dessa intervenção.

Falar de Economia é falar de Ambiente porque são os sistemas naturais a base de toda a nossa atividade económica e social.
A política económica não se reduz a aumentar o PIB ou fazer crescer o emprego. (…) Se queremos alimentar, vestir, garantir a saúde e a habitação, produzir, comercializar e dar emprego aos 10 mil milhões de pessoas que irão habitar este planeta, então precisamos de um clima estável, de solos férteis, de água potável, de materiais, de biodiversidade.
Infelizmente, todos os modelos apontam para que este sistema, base de toda a atividade socioeconómica, está a falhar.
A face mais visível desse falhanço são as alterações climáticas. (…)
Temos de continuar a apostar nas energias renováveis, na mobilidade elétrica e suave, no autoconsumo, no saber armazenar e distribuir.
A radiografia da região Oeste mostra como é importante na estrutura económica da região a atividade de produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis, sobretudo a energia eólica. (…)

Mas mesmo que consigamos mudar para um sistema de energia completamente limpo e renovável amanhã, não estaremos mais perto de evitar ultrapassar todos os restantes limites críticos do sistema natural: o colapso da biodiversidade, a desflorestação, o declínio nas reservas de materiais, a carga química e a erosão dos solos. (…)
Precisamos de uma economia mais circular e distributiva dos recursos.
E, reparem, não estou a falar de consumir menos ou mais — estou a falar de produzir, vender e consumir de modo mais inteligente, para garantir que possamos continuar a fazê-lo no longo prazo.
Numa economia circular, os produtos são desenhados apontando para o desperdício zero, eliminando componentes tóxicos, podendo integrar materiais reciclados, desenhados para que seja fácil a reparação, a separação e reciclagem, uma e outra vez.
Numa economia circular, é preciso “fazer mais com menos”, mas isso não é suficiente. O “menos” tem de ser regenerado facilmente, poder voltar à fábrica e ser atualizado ou remanufaturado, e colocado, outra vez, numa circulação rentável.
Numa economia circular, podemos subscrever o acesso à partilha ou o aluguer de equipamentos e espaços, com curta ou longa duração, criando uma relação próxima com utilizadores, fornecedores e marcas. (…)
Olhem à vossa volta. Quando ouvimos falar de temperaturas de 33 C°, dentro do círculo polar ártico, ou que daqui por 20 anos haverá mais plástico que peixes no oceano, não podemos achar que estes efeitos não terão consequências no nosso bem-estar.
Esperar por soluções “chave na mão” é um erro. As soluções somos nós que as temos de criar e pôr em prática. Dois dos princípios da economia circular são, precisamente, preservar e regenerar o nosso capital natural, e promover a eficiência e eficácia dos sistemas de produção e consumo.
Já há muito nos acostumámos a ouvir falar da zona oeste como o mercado abastecedor de hortícolas na região de Lisboa e Vale do Tejo. (…)
Mas 70% dos fertilizantes químicos utilizados não chegam a contribuir para a rentabilidade da produção: perdem-se, por lixiviação, ou são sobre utilizados para lá da capacidade ou necessidade de absorção das próprias plantas.
O modelo linear de desenvolvimento, que também o é na agricultura, trouxe-nos produtividade e intensificação agrícola, baixou preços e abrandou a expansão de área cultivada, salvaguardando sistemas naturais que, de outro modo, teriam sido capturados para essa função. Mas esse modelo está rapidamente a ficar esgotado, à medida que os nossos solos perdem capacidade de regenerar e as alterações climáticas avançam. (…)
Vai ser difícil mudar. Afinal, estamos a falar de todo um paradigma de “fazer” economia que nos deu tudo o que temos hoje. Mas não nos enganemos: pode demorar o seu tempo, mas a mudança vai ser mais rápida do que imaginamos.