Dirigente destaca a capacidade de inovação e a resiliência das empresas do Turismo.
Pedro Machado deixa este mês a presidência do Turismo do Centro, após atingir o limite de mandatos. Em 16 anos à frente do turismo da região, o setor mais do que duplicou as dormidas e os proveitos.
O Turismo é responsável por 25% do PIB, mas só representa 10% das PME Líder no Oeste e 11% no país. O que lhe dizem estes dados?
Estes dados dizem-me que ainda há trabalho a fazer por parte dos empresários da atividade turística no Oeste. Exibir o selo PME Líder deve constituir um motivo de orgulho por parte dos empresários. É uma distinção que reconhece os melhores, aqueles que implementam medidas de gestão racionais e modernas e que alcançam bons resultados. É também um excelente estímulo para que os empresários procurem melhorar cada vez mais os serviços que oferecem aos seus clientes. No entanto, não é por não terem este selo que as empresas do setor do turismo desta região merecem menos elogios. A atividade turística é um exemplo paradigmático da capacidade e do dinamismo dos empresários de pequena e média dimensão. Seja em alojamentos, restauração ou animação turística, estas empresas são o motor da economia nacional, como o peso no PIB indica. Não nos podemos esquecer que as PME representam 99,9 por centro das empresas portuguesas desde 2004, o que demonstra a sua importância no tecido empresarial português.
Os estatutos de PME Líder e Excelência são símbolos do desempenho de gestão das empresas. Sente que o setor está mais atento ao que são os modelos de negócio e à própria viabilidade?
Sem dúvida que sim. Podemos dizer, com inteira justiça, que o setor do Turismo deve quase tudo às suas pequenas e médias empresas. É em grande medida graças a elas que Portugal tem conseguido enfrentar os períodos negativos mais recentes, nomeadamente a pandemia, a guerra na Europa e a inflação e, ainda assim, se encontra em posição de encarar o futuro com otimismo. A pandemia foi um momento particularmente crítico para o setor. A atividade turística parou, quase de um dia para o outro. O fecho das fronteiras impediu a vinda de turistas estrangeiros e a mobilidade interna foi também extremamente limitada. Os alojamentos, restaurantes e empresas de animação ficaram impossibilitados de faturar. Como consequência, as empresas mais vulneráveis não aguentaram e foram obrigadas a encerrar. Mas as que aguentaram o embate, com muita resiliência e sacrifício, melhoraram os procedimentos, tornaram-se mais eficientes e saíram assim fortalecidas. Estão de parabéns todos os empresários que inventaram formas de dar a volta por cima e que hoje estão a ser recompensados, com uma procura turística como nunca se viu na região.
Pandemia que também trouxe uma grande mudança ao nível da procura e da oferta turística. As empresas adaptaram-se bem a essa mudança?
As empresas do setor turístico, pelas suas características, têm uma grande capacidade de adaptação às mudanças. Muitas das inovações, a nível de gestão, do marketing e da tecnologia, por exemplo, surgem primeiro em empresas de turismo e expandem-se depois para os outros setores da economia. A pandemia foi mais um exemplo da capacidade rápida de adaptação das empresas de turismo, que perceberam que os clientes passaram a privilegiar fatores como a segurança e a qualidade dos espaços.
Quais são os principais desafios que o setor enfrenta atualmente?
A escassez de trabalhadores, e já não apenas de trabalhadores qualificados, é nesta altura um grande desafio para o crescimento do setor. A atividade turística necessita de muita mão de obra: não há turismo sem pessoas para trabalhar nas receções, nas cozinhas, nas mesas, nos quartos e em toda a logística associada. A qualidade do serviço é crítica para que a experiência turística seja positiva e leve os visitantes a voltar noutras ocasiões. Se esta qualidade é prejudicada pela falta de trabalhadores disponíveis, é toda a atividade do Turismo que perde. Outro desafio é o aumento dos custos, como consequência da inflação. Por muito que os empresários tentem absorver esses aumentos, estes têm de se refletir necessariamente na fatura apresentada aos clientes.
E como está o Turismo do Centro a trabalhar para ajudar o setor a ultrapassar esses desafios?
Para começar, desenvolveu o Plano de Desenvolvimento Turístico para a década 2020-2030, em articulação com as estratégias nacionais, regionais e setoriais. É um instrumento enquadrador dos objetivos e pilares estratégicos do desenvolvimento turístico integrado da Região Centro. Esta visão desdobra-se em quatro metas ambiciosas, nomeadamente o aumento do número de dormidas, a evolução da estada média no território, o crescimento da taxa líquida de ocupação-cama e o incremento do rendimento por quarto disponível. Definimos vários eixos de ação para esta década, que passam pela aposta digital, pela valorização dos recursos humanos, pela consolidação das condições de sustentabilidade e de acessibilidade, pela dinamização dos ativos estratégicos e dos produtos endógenos da região e por atrair e fomentar o empreendedorismo, a inovação e o investimento, em articulação com as comunidades regionais e locais.
Há um crescimento contínuo da procura internacional. O aeroporto de Lisboa está esgotado. Para o Centro, uma solução que inclua Santarém é a ideal?
O Turismo do Centro apoia qualquer solução que sirva os interesses da região. Não nos podemos esquecer que o Centro de Portugal é a maior região turística do país e grande parte do território não é servida por nenhuma estrutura aeroportuária, o que representa um evidente handicap para o crescimento da região. Nesta perspetiva, a solução Santarém, embora não sendo no Centro de Portugal, é claramente mais adequada do que as soluções que apenas servem Lisboa. A solução proposta para Santarém, junto dos principais eixos de comunicação rodoviária e ferroviária, é uma porta de entrada para o Oeste, para o Médio Tejo, para a Região de Leiria, para a Beira Baixa, para a Serra da Estrela e até para a Região de Coimbra. É, por isso, uma solução que nos agrada.
A extinção da Região de Turismo do Oeste gerou grande contestação na região. Do contacto que tem com os agentes da região, sente que essa continua a ser uma questão?
A Lei 33, que determinou a atual organização territorial das regiões nacionais, de norte a sul do país, data de 2013. Neste momento, passados 10 anos, temos uma marca regional forte, coesa, respeitada interpares dentro e fora da região, e que tem sabido consolidar-se nacional e internacionalmente. Assim o demonstra o crescimento acima de dois dígitos em quase todos os indicadores. A nossa preocupação, atualmente, é continuar a trabalhar para que a região cresça de forma coesa, em todas as suas sub-regiões, de norte a sul, do litoral e ao interior, sempre alinhada com a estratégia nacional de promoção nacional e internacional da marca Portugal. É importante continuar este trabalho de notoriedade e de reforço de marca, para que o destino a 100 municípios consiga ser uma opção forte no mindset dos portugueses e estrangeiros, no momento de escolha de um destino.
Está a terminar o seu mandato na presidência do Turismo do Centro, que balanço faz?
Faço um balanço muito positivo. Quando iniciei funções, há 16 anos, a marca Centro de Portugal não existia. Existiam marcas localizadas, como Serra da Estrela, Coimbra, Fátima ou Nazaré. Hoje, é com satisfação que posso afirmar que a marca Centro de Portugal está fortemente implantada e é reconhecida por todos, fruto de intenso trabalho diário. Os prémios que a região tem conquistado são o reflexo desse aumento de notoriedade. Depois, há outro dado, ainda mais eloquente. Quando entrei, a região registava pouco mais de 3 milhões de dormidas anuais. Em 2022, ultrapassaram as 7 milhões. Mais do que duplicámos o número global das dormidas, assim como o valor global das receitas da atividade turística. Liderar esta entidade nunca foi, no entanto, uma missão de um homem só. Deixo o meu reconhecimento público a todos aqueles que todos os dias fazem o seu melhor para que o Centro de Portugal seja uma referência cada vez maior a nível nacional e internacional: os 100 municípios e as empresas e empresários que trabalham diariamente para criar valor. Sei que o bom trabalho realizado pela equipa da Turismo Centro de Portugal terá continuidade com a próxima Comissão Executiva e que todos os desafios terão resposta eficaz, como sempre. •