A Partnia Startup Caldas está instalada no edifício principal da Ceres desde Setembro do ano passado e já dá apoio a mais de 30 projectos. A incubadora, de iniciativa privada, tem atraído jovens empresários de vários pontos do país, como Porto, Lisboa e Chaves, e alguns deles estão em vias de se fixar em território caldense. Além da incubação em espaço físico, a Partnia está igualmente a apostar na incubação virtual e vai lançar em breve um projecto que poderá ajudar até 500 startups.
A Partnia Caldas foi criada em Junho do ano passado e três meses depois instalou-se no edifício da Ceres, nas Caldas da Rainha, onde ocupa todo o quarto piso com 12 postos fixos. É um projecto complementar à actividade da Partnia Unipessoal, Lda, que pertence a Carla Branco, natural de Rio Maior e que reside nas Caldas da Rainha.
A empresária e socióloga tem-se também dedicado a apoiar autarquias na implementação de incubadoras e de gabinetes de apoio ao empreendedor. A Partnia está inserida em projectos da Câmara de Lisboa, com as juntas de freguesia de São Domingos de Benfica, com o mercado de inovação e de Arroios. Está também presente em projectos na Sertã, Chamusca, na região do Alto Tâmega, e em Rio Maior, no apoio ao Centro de Inovação e Negócios.
A Partnia Caldas surgiu de uma aposta pessoal de Carla Branco e é um complemento à actividade da empresa mãe. “A Partnia não vive da receita da incubadora, somos uma consultora com muita contratação pública e essa é a nossa fonte de rendimento. Este é mais um projecto muito pessoal, de como se pode fazer uma abordagem diferenciadora de apoio ao empreendedorismo”, diz Carla Branco, acrescentando que o objectivo é a concretização dos projectos dos empreendedores, não a especulação imobiliária.
O projecto inicial não estava pensado para as Caldas, onde Carla Branco gosta “de viver como turista”, como a própria descreve. No entanto, o ecossistema favorável que encontrou no edifício da Ceres convenceu-a a alterar os planos iniciais, que apontavam para a fixação em Alcobaça.
Nos primeiros 10 meses de actividade a Partnia já tem nove empresas em incubação física, ocupando 75% dos 12 postos existentes. A incubadora presta ainda apoio a 21 projectos de ideias, dos quais cerca de 40% estão já na fase de materialização do negócio. São projectos em áreas da inovação social e cultural, design de produto, empresas criativas, tecnológicas e outras.
A estes 30 projectos acrescem oito em incubação virtual, área em que a empresa pretende ter uma oferta diferenciadora no mercado. “Muitas vezes a incubação virtual é só domiciliação de correio e uma morada para colocar nos cartões e aqui é um acompanhamento efectivo”, afirma Carla Branco. Enquanto as empresas incubadas fisicamente têm uma mensalidade de 75 euros, as que o são virtualmente pagam um valor único de 35 euros e recebem apoio ao desenvolvimento da ideia ou do negócio. São realizadas sessões técnicas semanais de hora e meia via Skype e o empreendedor fica com a obrigação de comparecer a uma ou duas sessões de capacitação de competências empreendedoras por mês e a uma reunião de avaliação de projecto.
Esta é, de resto, uma área que a Partnia está a desenvolver de forma mais avançada. Dentro de cerca de um mês deverá estar a funcionar, com sede nas Caldas e em Chaves, uma plataforma com capacidade para prestar este tipo de apoio a 500 projectos, dos quais Carla Branco espera que 40% se concretizem em negócios.
“AS PESSOAS PRECISAM DE APOIO”
A Partnia Caldas é uma incubadora privada acreditada pelo IAPMEI, que integra a rede Startup Portugal. Este tipo de estrutura, de natureza pública ou privada, tem vindo a aumentar pelo país, “porque fazer um negócio continua a ser, muitas vezes, uma ciência oculta e as pessoas precisam de apoio”, explica a empresária. E é precisamente neste capítulo, do apoio à concretização do projecto, que assenta a missão da empresa, desde a ideia até ao final da incubação, e também depois.
É que depois da empresa sair para as suas próprias instalações, o que não deve demorar mais que dois anos, “continuamos a apoiar de forma diferente, como uma tutoria, sempre que existem dúvidas”, diz Carla Branco.
Voltando um pouco atrás no processo, a Partnia Caldas recebe tanto empresas em início de vida, como em fases ainda mais embrionárias, como na fase de ideia, ou até antes. Para quem quer um negócio mas ainda nem sabe bem o quê, existem sessões de brainstorming para abrir caminho às ideias.
O projecto da Partnia é dirigido a uma população mais jovem, tirando partido da medida Starup Voucher que está disponível até aos 35 anos. No entanto, também dá resposta a uma população que tem o seu emprego e família estáveis, “mas quer desenvolver outros projectos e nunca teve possibilidade porque os horários não são compatíveis”, refere Carla Branco, acrescentando que, para responder a essa necessidade, foi criada a possibilidade do horário pós-laboral.
Os projectos beneficiam da rede de mentores do IAPMEI, “cuja relação privilegiamos”, realça a empresária. A empresa tem ainda a sua própria rede de mentores, “com experiência muito diversificada”, com a qual desenvolve private talks para os empreendedores incubados. Além disso, a própria equipa da Partnia, composta por seis elementos, tem uma “visão da realidade do país. Conhecemos desde a estufa de caracóis até plataformas de GPS para turistas”, o que permite um acompanhamento muito próximo e a vários níveis de todo o tipo de projectos. “Não basta conhecer os valores do projecto, é preciso perceber as aptidões e as dificuldades do empreendedor, as suas motivações, preocupações, para se construir uma matriz de apoio que é quase uma relação intimista”, explica.
Como a Partnia tem muito para dar aos seus empreendedores, Carla Branco também lhes exige empenho igual. “Nós temos obrigações, mas eles também têm que sentir que se o projecto não está a ser desenvolvido por inércia do empreendedor, sou a primeira a convidar a sair”, realça Carla Branco.
INVESTIMENTO PARA AS CALDAS
A incubadora recebeu já vários projectos caldenses, mas também tem uma quota interessante de startups de outros pontos do país, como Lisboa, Chaves, Porto, Montalegre, Fátima, ou Ourém.
Alguns destes projectos estão a atingir a fase de implementação e parte deles tencionam ficar nas Caldas, o que significa que a incubadora também está a captar investimento para o concelho.
“Ainda não temos uma leitura clara dos valores de que estamos a falar, mas é natural que empresas fiquem aqui com a sua sede social, até pela qualidade de vida que aqui existe e também porque são projectos cuja mobilidade dos intervenientes é viável”, explica Carla Branco.
Um dos projectos que deverá ficar nas Caldas é uma plataforma para turismo que poderá criar seis postos de trabalho. Existe, no entanto, uma outra empresa que poderá significar um investimento e criação de postos de trabalho de maior dimensão. “É um projecto grande, em emprego altamente qualificado que existe aqui”, disse Carla Branco, sem poder adiantar mais pormenores nesta altura.
Quanto a projectos caldenses, Pedro Vazão, de 32 anos, é um dos que estão mais próximos de concretizar o seu negócio. Aconselhado por um amigo de infância que também tem um projecto alojado na Partnia, recorreu à ajuda da empresa para lançar a sua ideia.
A Pedro Vazão Marketing and Advertising Specialist está prestes a ser lançada como empresa e vai trabalhar na área de consultoria de marketing e imagem na área dos vinhos. “Será uma abordagem diferente ao nível de comunicação”, conta o empreendedor à Gazeta das Caldas. O plano consiste em mostrar aos produtores que é importante inovar ao nível da comunicação, “porque o consumo de vinho está estabilizado a nível mundial, mas o consumo dos millennials está a decrescer e esses serão os consumidores do futuro”, explica Pedro Vazão, pelo que será preciso “inovar para atingir esse público e fazer com que o crescimento aconteça”. Criar eventos criativos e inovadores ligados ao vinho é um dos recursos da jovem empresa.
Pedro Vazão diz que encontrou na incubadora um apoio importante para o desenvolvimento da sua ideia. “São muito próximos, demonstram preocupação para desenvolvermos da melhor forma o nosso projecto. É um processo difícil, mas com este apoio sinto-me seguro para dar os passos necessários, porque não estamos sozinhos”, concluiu.