A Quinta do Sanguinhal (Bombarral) recebeu a 23 de Novembro a primeira edição do Portugal Mediterrânico, um evento que reuniu profissionais da hotelaria restauração para promover a trilogia azeite, pão e vinho, alimentos que constituem a tradição alimentar portuguesa.
Estão já previstas novas iniciativas para promover outros produtos, como as frutas, hortaliças, frutos secos e até as actividades físicas. O próximo evento está previsto para Março de 2011.
Sensibilizar os profissionais da área da hotelaria e turismo para uma nova cultura gourmet centrada na dieta mediterrânica é o objectivo do ciclo de eventos Portugal Mediterrânico. “Pretende-se dinamizar o comércio e a indústria da gastronomia e vinhos e os seus especialistas, envolvendo-os num conceito gourmet e estilo de vida saudável”, explicou Elsa Gonçalves, responsável pela empresa Tastebrand, de Leiria, que organizou o evento.
A escolha para arranque do evento foi a Quinta do Sanguinhal por se tratar de uma “quinta típica numa zona, também ela típica, de vinho, um dos produtos que estamos a promover”, explicou Elsa Gonçalves.
Para falar do pão e do seu consumo esteve o presidente da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares(ACIP), Carlos Santos. Este responsável destaca que este bem de primeira necessidade está, à imagem do país, a passar por dificuldades, provocadas pela crise mas também pela legislação actual. “Temos concorrência desleal por parte das grandes superfícies, que utilizam um produto de consumo diário para chamar clientes aos seus estabelecimentos”, denuncia.
Carlos Santos afirma que o sector da panificação em Portugal é muito rico e vasto, mas que até agora o país “não o soube aproveitar, antes pelo contrário, tenta destruir”, dando como exemplo as complexas normas exigidas pelo HACCP (higiene e segurança alimentar).
Os portugueses, a par dos marroquinos, são quem consome mais pão. De acordo com o presidente da ACIP, cada português consome em média 100 quilos de pão por anos, um número que tem vindo a diminuir, já quem na década de 60 as estatísticas apontavam para 180 quilos per capita.
Carlos Santos diz ainda que o pão é muitas vezes utilizado para fins publicitários. “O pão é utilizado para campanhas e depois acaba ser um pouco “assassinado” por andar na frente”, refere o responsável, lembrando que enquanto o padeiro ou pasteleiro têm uma medida certa de sal que pode colocar, o cozinheiro não tem. “Os cereais de pequeno almoço das grandes multinacionais, por exemplo, tem cinco vezes mais sal do que o pão”, adiantou.
Na sua opinião, este alimento continua a ser o mais económico e é uma boa forma de consumir bons hidratos de carbono. A associação está sempre atenta a tudo o que se faça relacionado com o pão e faz questão de colaborar como forma de divulgar o sector.
Também a marca Panidor esteve presente no evento, com uma grande diversidade de pão para provar. A empresa, denominada PaniCongelados e que está sediada perto de Monte Redondo, levou os fornos para o Bombarral e ali cozeu vários tipos de pão de mistura, de modo a poder ser servido quente durante as provas.
“A Panidor tem mais de 60 referências de pão diferentes, mais as que estão em desenvolvimento”, contou à Gazeta das Caldas Irene Carpinteiro, adiantando que estes eventos são importantes para divulgar a cultura do pão e a própria empresa.
APRENDER SOBRE O AZEITE
As qualidades do azeite e a forma como deve ser consumido foram apresentadas por Susana Sassetti, da Associação de Agricultores do Ribatejo, o agrupamento gestor do azeite daquela região.
A engenheira realizou uma prova com três azeites produzidos em Portugal. “Não são diferentes pela acidez, mas sim pelo sabor”, explicou, adiantando que é importante as pessoas terem em atenção que o azeite deve ser escolhido, tal como o vinho, pelas regiões e pelas variedades. Por exemplo, enquanto que os azeites de Trás-os-Montes são os “mais fortes, azedos e amargos”, o do Ribatejo é mais suave.
Para controlar o sabor, os produtores também têm em atenção a apanha da azeitona. “Se preferir um azeite mais forte, picante, com mais verdes, tem que colher o fruto muito cedo, se preferir mais maduro e suave tem que deixar a azeitona amadurecer”, explicou.
Em Portugal consome-se muito azeite, o que leva a que até ao ano passado não se produzisse em quantidade suficiente para o consumo interno. Mas este ano, e em resultado das novas plantações, a produção deverá chegar às 70 mil toneladas de azeite.
O consumidor, na escolha, deverá ter em atenção que o azeite é classificado virgem extra, que tem uma acidez inferior a 0,8 graus e que não tem defeitos.
O azeite com a referência de mistura de azeite refinado com azeite virgem é um produto que já foi refinado e ao qual se juntou azeite virgem para ter sabor. Não é de tão boa qualidade, mas pode ser utilizado para frituras.
O evento terminou com uma harmonização desta trilogia com um show-cooking proporcionado pelo chef de cozinha Igor Martinho.
Mercado russo atraído pelo enoturismo
A Quinta do Sanguinhal começou em 2000 a recuperar alguns dos seus espaços, aos quais organiza visitas e provas dos vários tipos de vinhos que ali são produzidos.
“A ideia é as pessoas visitarem-nos e ficarem a conhecer mais a história desta casa através dos espaços que visitam”, nomeadamente a cave que possui 36 tonéis a envelhecer vinho licoroso e aguardente vínica, a destilaria e uma sala única em Portugal que tem cinco prensas de fuso e vara datadas de 1871, resume Ana Pereira da Fonseca, responsável pelo enoturismo na Quinta do Sanguinhal. Os visitantes (cerca de 3000 no ano passado) são também convidados a visitar as vinhas e a fazer provas de vinho.
A nível externo o mercado escandinavo é um dos principais, assim como o alemão, o inglês e o holandês. No entanto, este ano foram suplantados pelo mercado russo. Com um elevado poder de compra, estes visitantes têm um fascínio pelos países mediterrânicos e, “apesar de não terem uma cultura vinícola, estão interessados em adquirir outros produtos”, explica a responsável.
De acordo com Ana Pereira da Fonseca, faz todo o sentido manter o enoturismo na Quinta do Sanguinhal pois cada vez há um maior mercado de pessoas interessadas em conhecer mais sobre quem produz e o que anda a consumir. Também têm trabalhado com inúmeros parceiros da zona, nomeadamente hotéis de referência como os hotéis Marriot, Campo Real ou Bom Sucesso e operadores turísticos.
“Somos uma região que em termos turísticos tem crescido imenso, mas temos que ter noção que é passo a passo”, adiantou.
Todos os anos também costumam trabalhar em parceria com as escolas, que participam nas suas actividades. “Normalmente a época da vindima é a época mais stressante e mais trabalhosa, mas quem tiver vontade pode participar nas nossas vindimas”, disse a responsável.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt