“No Oeste a água é cara e tem falta de qualidade, os furos são cada vez mais fundos, mais caros e com menos caudal”. Jorge Froes, engenheiro especialista em planeamento hidráulico, não está optimista sobre o abastecimento de água na região e no país e desenvolveu o Projecto Tejo, que pretende criar 260 mil hectares de regadio no Ribatejo e 40 mil no Oeste, bem como tornar o rio navegável até Abrantes. A adaptação das estruturas de regadio existentes para terem água do rio está prevista – caso exista essa vontade -, porque existem falhas de água nos anos mais secos e o caminho é “deixar de usar as águas subterrâneas e passar a usar as superficiais”.
“As barragens do Oeste têm todas problemas”, notou Jorge Froes. A precipitação e, consequentemente, a infiltração de água nos terrenos, tem vindo a reduzir-se, levando a falhas de água nos anos mais secos. E como esta região tem poucas águas subterrâneas (o que torna mais cara a sua captação), e não tem condições para grandes barragens, decidiu-se integrar o Oeste no Projecto Tejo, criando um regadio de 40 mil hectares.
Na óptica de Jorge Froes, o caminho em termos de regadio é “deixar de usar as águas subterrâneas e passar a usar as superficiais”.
Actualmente “estamos perto do limite” de água que podemos retirar dos aquíferos, o que leva este especiaista a defender que as águas subterrâneas “deverão, assim, constituir-se como reserva estratégica nacional, a usar só em casos de seca extrema”.
A Europa, através do próximo quadro comunitário de apoios – que não financia os novos regadios – tem fundos para a questão das águas subterrâneas. O Projecto Tejo quer aproveitar essa oportunidade, tal como as candidaturas nas áreas do turismo, do ambiente, entre outros.
Agricultura, turismo e ambiente
Mas a utilização das águas superficiais é apenas um dos trunfos deste projecto. A redução da factura da electricidade que os agricultores pagam, que chega aos 700 euros por hectare no Oeste, é outro. Na visão agrícola da apresentação refere-se como vantagens do projecto “o custo da água igual ou inferior ao actual, a garantia de abastecimento mesmo em anos de seca, a qualidade da água e a distribuição em qualquer altura, em qualquer quantidade”.
Na análise SWOT são apontados como pontos fortes o facto de ser um projecto com fins múltiplos – que vão desde o regadio à navegabilidade, passando pelo controlo da qualidade da água – e de não necessitar de um grande investimento para começar a ser feito pois pode-se construir gradualmente.
As fraquezas passam pelo elevado custo e por uma possível não adesão ao regadio. E como além de aproveitar as oito barragens existentes, “o projecto prevê a construção de novas barragens nos rios Ocreza (Alvito), Ponsul e outros, e de açudes no rio Tejo” as maiores ameaças são os ambientalistas – que não querem novas barragens – e uma hipotética falta de acordo com a EDP, que gere as barragens que existem. “Estamos à espera de uma reunião com a administração da EDP para propor a gestão integrada dos recursos hídricos e passar a vender a electricidade produzida”, revelou Jorge Froes.
Está também em aberto o cenário de não construir novas barragens, utilizando apenas as existentes.
Um projecto sustentável
Na apresentação realça-se que tanto as barragens como os açudes serão “equipados com turbinas para a produção de electricidade renovável, de modo a cobrir, caso seja possível, as necessidades energéticas das estações elevatórias previstas”.
É que, segundo os promotores, o Projecto Tejo necessitará de 710 GWh/ano e produzirá entre 600 e 800 GWh/ano de energia limpa. Na apresentação é referido que este novo Alqueva beneficiará 30 mil agricultores e criará 18 mil novos postos de trabalho.
Na estratégia traçada o arranque da obra prevê-se dentro de três a quatro anos. Nos próximos tempos serão feitos os estudos preliminares em termos técnicos, económicos e ambientais e será feita a divulgação do projecto.
Jorge Froes diz que “o projecto no Oeste só funciona se o do Ribatejo avançar”. A apresentação do Projecto Tejo teve lugar na Casa do Povo de Alfeizerão numa sessão dinamizada pela Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA), que decorreu na manhã de 27 de Março. Estiveram presentes mais de 60 curiosos.
Jorge Soares, presidente da APMA, notou que “se cada hectare dos 300 mil que serão criados gerar uma receita bruta de 15 mil euros, que é pouquíssimo, o valor da produção agrícola anual equiavaleria o custo do projecto: 4,5 mil milhões de euros, que foi também a verba que foi usada na recapitalização da Caixa Geral de Depósitos”.