A Promol, mais conhecida dos caldenses pela fábrica das velas, teve em 2010 prejuízos de 800 mil euros, sobretudo devido ao aumento da parafina (principal matéria-prima das velas) e porque, com a crise, os seus principais clientes que são as grandes superfícies, lhe esmagaram as margens nos preços de venda. Mas o seu administrador, Hans Bopp, diz que a fábrica é para manter e que vai apostar no mercado ibérico e em matérias-primas alternativas.
Com uma facturação actual de 13 milhões de euros, a Promol exporta 98% da sua produção, representando a Alemanha uma quota de 70% e a Escandinávia 20%. A fábrica caldense emprega 150 pessoas, um número que sobe para 250 a 300 trabalhadores nos picos de produção, que costumam ocorrer entre Julho e Outubro, quando se preparam para as encomendas para o Natal.
A época natalícia justifica, aliás, um enorme esforço de produção durante o Outono, mas o que é curioso é que, com todas as velas de Natal já escoada para os supermercados da Europa, no mês de Dezembro a Promol já está a produzir velas em forma de coelhinhos e de ovos de Páscoa.
O Inverno é, na verdade a maior época de consumo de velas. “Nos países do Norte o consumo de velas está ligado à sazonalidade. Os dias no Inverno são curtos e muito frios e as pessoas gostam de ter uma vela acesa para dar ambiente porque a chama irradia luz e sensação de calor”. O administrador da Promol, Hans Bopp, sabe do que fala porque ele próprio é alemão e conhece os costumes europeus. “Olhe, nesta altura do ano, numa janela como esta, na Dinamarca estariam pelo menos quatro velas acesas”, diz.
A empresa abastece basicamente grandes superfícies no estrangeiro sendo para lá encaminhada 80% da produção. Os restantes 20% representam os nichos de mercado das boutiques, onde se vendem velas mais caras e perfumadas (algumas com serigrafias e banhos de ouro e prata).
Quando Gazeta das Caldas visitou esta fábrica, em Dezembro, as últimas encomendas natalícias já tinham partido e assegurava-se uma produção rotineira que visa abastecer já os armazéns para a Páscoa. A empresa labora agora com as 150 pessoas do quadro, recorrendo-se a mão-de-obra contratada quando é necessário aumentar a produção.
Hans Bopp reconhece que a mão de obra barata portuguesa é uma vantagem comparativa da Promol. Um operário da empresa ganha entre 500 a 600 euros por mês, que é um terço do que se ganha na Alemanha.
Mas em relação à Polónia – que é um país concorrente na indústria das velas – os salários são idênticos. Só que este último tem mais baixos custos de transportes pois está mesmo ao lado da Alemanha. Por outro lado nem tudo é mau: como os camiões para a Península Ibérica costumam vir cheios de mercadorias importadas e regressar vazios ao lado de lá dos Pirinéus, o transporte das velas para o centro e norte da Europa custa metade do que se o frete fossem em sentido inverso.
O administrador Hans Bopp beneficia do privilégio de não ter que se preocupar com as vendas, dado que a função comercial está atribuída aos centros de decisão da holding. O mercado português, por outro lado, é residual pois só representa 800 mil euros de facturação por ano, 200 mil dos quais na própria loja da fábrica.
A Promol vende também produtos semi-acabados para pequenas empresas familiares portugueses que produzem velas. Trata-se de um segmento de mercado específico – cemitérios e igrejas – no qual a empresa caldense só indirectamente participa.
A recessão mundial não afectou muito as vendas, mas afectou as margens de lucro. “Se as pessoas não têm dinheiro, comem em casa e sempre acendem mais umas velas à refeição”, diz Hans Bopp, naturalmente conhecedor dos hábitos das pessoas do norte da Europa. “O problema é que as lojas querem baixar os preços e isso esmaga-nos as margens, ao mesmo tempo que a parafina aumentou 20 por cento nos últimos meses. Deveríamos ter aumentado os preços mais do que aquilo que conseguimos, mas as grandes superfícies têm muita força”, conclui. É isto que explica os pesados prejuízos deste ano.
A parafina é um derivado do petróleo que a Promol adquire à refinaria da Petrogal de Matosinhos e representa 65% do custo de uma vela (a mão-de-obra significa 12% e o restante são custos de embalagem, transporte e outros). Hans Bopp nota que as refinarias mais modernas têm processos produtivos que já não fabricam esse subproduto, pelo que o futuro passará cada vez mais pelas velas de óleos vegetais, como os de palma e de soja, e que já representam quase 10% da produção actual.
Daí que a Promol registe em 2010 um défice operacional de 800 mil euros. Hans Bopp explica que os preços chegam a ser negociados com um ano de antecedência, não se sabendo na altura como evoluirá o preço da parafina. Ora, neste ano, o preço desta matéria prima evoluiu de forma surpreendentemente negativa.
A estratégia para dar volta a este mau resultado passa por explorar o “grande potencial” do mercado ibérico e por uma redução dos custos através da reutilização de matéria-prima que antes era considerada desperdício e pela maior incorporação de produtos naturais substitutos da parafina no fabrico das velas.
Vários donos ao longo de 34 anos
A Promol foi fundada em 1976 por empresários caldenses, mas duraria pouco tempo em mãos portugueses. Dois anos depois era comprada por dois investidores alemães que mudariam a pequena unidade de produção de velas para a Zona Industrial das Caldas, onde construíram uma fábrica de 10 mil metros quadrados.
A década de oitenta foi de permanente crescimento, com o grupo alemão Aldi (praticamente o único cliente da empresa) a assegurar o escoamento de toda a produção. Em 1989 o grupo sueco Midway compra a Promol e integra-a na Candle Light Holding, que detém também fábricas de velas na Suécia, Alemanha, Suíça e Dinamarca.
Nas Caldas da Rainha pouco muda, nem mesmo quando em 1998 o grupo americano Blyth adquire todas as acções da Candle Light Holding (que desde o ano anterior estava cotada na bolsa de Estocolmo) tornando-se o gigante mundial do sector. Os novos patrões apostam forte nas velas perfumadas e passam a usar a rede de distribuição europeia para incrementar essas vendas, mas a estratégia não funciona com esperavam e em 2006 a Blyth aliena os seus activos na Europa, voltando a Candle Light Holding para as mãos dos antigos donos da Midway.
Entretanto, de seis fábricas de velas, a Candle passara a três: Liljeholmens, na Suécia, que produz 14 mil toneladas por ano e Caldas da Rainha e Gies (Alemanha), que produzem 10 mil toneladas cada.
Cada uma destas três fábricas produz para segmentos diferentes: a fábrica sueca escoa metade da sua produção para o Ikea e a outra metade para os países nórdicos, e a da Alemanha só fabrica “tea lights” (pequenas velas decorativas).
O alemão que gosta de Portugal
Hans Bopp, 58 anos, já viveu na Alemanha, na Holanda e nos Estados Unidos como quadro de multinacionais ligadas ao sector químico. Mas desde 1996 veio parar à fábrica de velas da zona industrial das Caldas da Rainha. Desde então já aprendeu a falar português, habita na Foz do Arelho e diz que não vive nada mal em Portugal.
Como quadro empresarial tem uma visão própria das qualidades dos portugueses. Louva-lhes a flexibilidade e a adaptação à mudança, “sobretudo das mulheres que muito boas trabalhadoras e têm uma excelente adaptação ao trabalho, podendo facilmente mudar de máquina e de serviço”.
Da região diz que a temperatura fresca e húmida é boa para a manutenção das velas em armazém (quando faz muito calor podem derreter e no Verão é normal viajarem em camiões frigoríficos). E acrescenta que Caldas da Rainha tem também a vantagem de estar muito bem localizada, perto do mar e de Lisboa.
Já quanto aos pontos fracos do rectângulo português, ataca a burocracia e a falta de aptidão dos trabalhadores para a formação profissional. E critica as obras megalómanas do Estado que não servem para nada.
Também não é meigo com a Câmara das Caldas: “a Câmara não tem tido muito interesse na indústria, mas sim na construção. As indústrias daqui não têm muito apoio. Acho que eles estão mais interessados é no comércio e na construção. Aliás, o presidente da Câmara só cá veio uma vez, em 2006”.
Carlos Cipriano
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