Diogo Barros fez Erasmus em Lubeck na Alemanha e um semestre transformou-se num ano letivo inteiro. Fagotista caldense destacou-se em concertos
Diogo Barros, de 19 anos, estuda fagote na Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART), que pertence ao Politécnico de Castelo Branco. O caldense resolveu viver a experiência de mobilidade Erasmus e supostamente deveria ter feito apenas o primeiro semestre do seu segundo ano da licenciatura em Música Variante de Instrumento.
O estudante escolheu a escola de música de Lübeck, no Norte da Alemanha e teve a oportunidade de ficar todo o ano letivo.
“Aprendi bastante, desenvolvi muito o estudo de instrumento”, disse o caldense acrescentando que quer ser concertista no futuro.
Esta experiência por terras germânicas não poderia ter corrido melhor não só a nível académico pois o fagotista caldense teve ainda a oportunidade de fazer parte de vários agrupamentos musicais, fora da escola. Chegou inclusivamente a fazer parte de uma orquestra de jovens, composta por vários alunos de licenciatura e de mestrado, tendo por isso um estatuto semi-profissional.
“Trabalhamos com vários maestros e com repertório também variado”, referiu, acrescentando que, na execução de várias peças, teve a oportunidade de ser o primeiro fagote em vários temas como, por exemplo, na “Sagração da Primavera” de Stravinsky.
“Foram ótimas oportunidades não só para o meu CV como para me integrar nalgumas orquestras, exteriores à escola”, referiu o músico. Na sua escola em Lübeck conta que há 12 alunos a estudar fagote ao passo que em Castelo Branco são, ao todo, oito estudantes que se encontram nos vários anos de ensino daquele instrumento.
Diogo Barros antevê que vá continuar o seu percurso académico e profissional no estrangeiro até porque há poucas orquestras em Portugal e a lista de suplentes “é extensa”. O seu desejo é tornar-se um concertista e pertencer a uma orquestra.
“Foi possível para mim experienciar na Alemanha como há muitas orquestras estão regularmente a abrir algumas vagas para músicos por mês”, disse o caldense. Em Lübeck por exemplo há duas orquestras: a sinfónica e a de ópera e é uma cidade comparável a Leiria, segundo o músico.
A cidade de Hamburgo, por exemplo, “tem pelo menos três orquestras profissionais, sem contar com as orquestras das universidades”. E ao contrário do que se constata em Portugal , as plateias nos concertos estiveram sempre cheias. “E vai gente de todas as idades! Muitos acompanham vários concertos, tendo gosto em acompanhar a temporada”, complementou o músico.
A adaptação a terras germânicas correu bem, se bem que,numa primeira fase, na cantina da escola, com tudo apenas descrito em alemão…Não foi fácil. E também foi necessário adaptar-se ao facto do horário das refeições ser mais cedo do que em Portugal.
“A cultura base alemã é muito diferente da nossa, mas a integração de quem vem de fora acaba por ser fácil”, referiu o músico.
Para Diogo Barros o sistema de ensino alemão inclui bolsas de estudo e também apoia a aquisição de instrumentos musicais e investimento que permite que os alunos possam prosseguir estudos na área da música, lamentando que o sistema de ensino português ainda esteja a anos-luz desses programas globais de incentivo.
Protocolo entre as duas escolas
Diogo Barros vai começar o terceiro ano na sua escola em Castelo Branco e ainda está por decidir se fará o quarto ano em Portugal ou no estrangeiro.
Existe a possibilidade de regressar à Alemanha como também poderá prosseguir estudos na Holanda ou em Itália. Em terras germânicas “já deixei algumas portas abertas”, disse o caldense.
Pelo seu professor de fagote na Alemanha “eu regressaria a Lübeck já no segundo semestre do terceiro ano”. Mas por agora e de regresso à ESART de Castelo Branco ficou, pelo menos, estabelecido que se realizará cá uma masterclasse com o docente de fagote de Lübeck. “Foi também muito bom pois por causa do meu Erasmus estabeleceu-se um protocolo entre as duas escolas”.
Diogo Barros tem ideia que a prática é essencial para quem quer dedicar-se à música a nível profissional. As férias do estudo são de uma semana, motivadas pelo facto de o instrumento ter ido à revisão.
O jovem estuda sempre no mínimo entre uma a três horas por dia de fagote . Durante o resto do ano “posso diminuir um pouco nas horas de estudo, mas não deixo de o fazer…”.
Entre os compositores favoritos estão Vivaldi, Mozart, Hummel, por terem repertório solístico para fagote. Mas aprecia também a nível orquestral Beethoven, Mahler, Wagner e “mais fora da caixa”, Stravinsky.
Diogo Barros prefere os clássicos mas gosta de algumas composições contemporâneas da autoria de Francisco António Santos Pinto pois o compositor tem vários temas onde o fagote se destaca. “É um instrumento muito versátil pois apesar de se ouvir mais nos estilos clássicos, facilmente se adapta aos estilos jazz e até rock”, disse o caldense que gosta de explorar e de conhecer novos caminhos musicais do seu instrumento de eleição.
O caldense dedica-se também à produção de palhetas, peças feitas de cana que são necessárias para tocar fagote.
Diogo Barros já vende para Portugal, Alemanha e até para a Holanda. “Em Portugal há um ou dois produtores, mas eu mando vir a cana para as construir do sul de França e de Itália”, contou o músico-empresário que constrói as suas próprias palhetas e, neste momento , já as comercializa também para fagotistas de outras latitudes . ■