O Serviço de Psicologia e Orientação (SPO) do Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos é composto por quatro psicólogas e também dá resposta às questões da saúde mental potenciadas pela pandemia
Dar aos alunos competências socioemocionais e inteligência emocional como ferramentas para promover a saúde mental é o objetivo das psicólogas Ana Inês Borges e Raquel Luís Silva. As profissionais integram a equipa do Gabinete de Psicologia e Orientação (SPO), do Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos, composta, ainda, pelas psicólogas Nádia Valente e Mara Correia, com formações e experiências profissionais diferentes e complementares.
Estão colocadas ao abrigo de um programa do Governo, de resposta à pandemia, e dinamizam o projeto “Crescer como Ser”, que abrange alunos desde o pré-escolar ao ensino secundário. Começou no ano letivo passado com turmas do 5º ano e 7º ano (anos de transição) e continuam a trabalhar, de forma mais sistemática, com o primeiro, segundo e terceiro ciclos. “O primeiro ciclo tem um impacto imediato no sucesso escolar e estas medidas têm como meta o sucesso escolar e pessoal”, esclarece Raquel Silva, que trabalha essencialmente com estes alunos.
Estes projetos acabaram também por mudar o paradigma do SPO, que não se quer focar nas intervenções individuais, mas de grupo para abranger mais alunos e ser mais preventivo. “A escola tem 1350 alunos no total, com as atividades que já fizemos conseguimos abranger todos”, salienta Ana Inês Borges.
As consequências da pandemia
A pandemia veio potenciar conflitos, ansiedade, muita necessidade de afeto e de toque. “Temos alunos a pedir-nos abraços e nós abraçamos, não podíamos criar esta barreira entre nós e eles”, conta Ana Inês Borges, acrescentando que a procura do serviço aumentou durante este período, tanto por parte dos alunos como dos professores. Outro impacto registado por Raquel Silva é a dificuldade que os alunos têm atualmente em identificar emoções no outro, potenciada pelo uso da máscara.
“Eles precisam de todo este reconhecimento, a linguagem não verbal diz-nos muito”, esclarece a psicóloga, que também tem notado que as crianças estão muito auto centradas. Já os adolescentes falam mais nas dificuldades das relações, pois estiveram muito tempo “escondidos” atrás do ecrã e agora questionam-se como agir.
Também a ansiedade é maior. Há alunos que não conseguem tirar a máscara pois têm medo de levar o vírus para casa e adolescentes, com alguma insegurança em relação à auto imagem, que se refugiaram atrás das máscaras. “Escondem as borbulhas, os sorrisos, as imperfeições que encontramos sempre”, especifica Ana Inês Borges, acrescentando que em algumas situações a máscara passou a ser entendida como uma proteção, tal como a roupa. E são esses medos e preocupações que têm de ser trabalhadas, aliados às consequências de dois anos de aulas à distância e de turmas sempre incompletas.
Raquel Silva recorda que o primeiro desconfinamento levou a um crescendo de violência física na escola, na maioria das vezes pelos alunos não terem noção que cresceram, começarem discussões e não se colocarem no lugar do outro. “Tínhamos turmas que eram unidas e onde passou a haver regularmente conflitos, estavam com as emoções à flor da pele e muito menos tolerantes”, referiu, salientando que o foco do GPO passa por dar-lhes competências para que consigam tomar decisões nos vários domínios sociais. Também se registaram casos mais graves, de alunos que desenvolveram quadros de doença mental potenciados pela pandemia e que precisaram de ter um acompanhamento clínico.
O resultado do trabalho que estão a desenvolver começa a ser visível, com os professores e alunos a pedir mais apoio e a continuidade das sessões, mas este é um projeto a médio prazo. “Há uma ansiedade muito grande e uma certa pressão até para ver resultados imediatos, mas a educação, incluindo a do coração, é um trabalho de agricultura, temos de semear para mais tarde colher”, sintetiza Ana Inês Borges.
O facto de os projetos serem financiados permitiu-lhes começar a criar uma biblioteca, denominada Adolescer, com temáticas ligadas ao desenvolvimento dos adolescentes. O SPO desenvolve, também, um programa de Orientação Vocacional com turmas de 9º e 12º ano, com a psicóloga Mara Correia, iniciativas para famílias, nomeadamente de parentalidade consciente, e comunidade.