Os Enfermeiros marcaram uma greve para os dias 24 e 25 de Setembro com o objectivo não apenas de protestar, mas sobretudo de sensibilizar governantes e população em geral para a realidade com que se vêem confrontados e que manifestamente se torna impossível de manter.
Deste modo, os Enfermeiros alertam sobretudo para as seguintes situações, gravíssimas, e que carecem de resolução imediata, a saber:
-Imposição de trabalharem 15 a 20 dias seguidos, sem folgas, sendo que de permeio têm dias em que fazem turnos de 24 horas seguidas, chegando a totalizar um número de horas de trabalho semanal entre as 48 e as 56 (os dias em dívida para compensar essas horas são aos milhares!); -Necessidade de reposição da remuneração integral das horas extraordinárias realizadas em horário nocturno e aos fins-de-semana, uma vez que actualmente essas horas são remuneradas a 50%; -Necessidade de urgente reforço do número de profissionais de Enfermagem, cuja carência é gritante nas mais diversas instituições do Serviço Nacional de Saúde, como sejam:
-Hospitais; -Centros de Saúde;
-Rede Nacional de Cuidados Continuados;
-Rede Nacional de Cuidados Paliativos;
– Rede Nacional de Saúde Mental;
– Centros de Desabituação de Comportamentos Aditivos;
Note-se que a carência de Enfermeiros é de tal forma grave que não ficará, de forma alguma, solucionada com a admissão de 700 novos Enfermeiros em 2015, complementando os 1000 cuja integração foi anunciada em 18 de Setembro.
Os Enfermeiros são o pilar de sustentação do nosso Serviço Nacional de Saúde. O seu mérito, esforço, dedicação e grau de responsabilidade não lhes são reconhecidos.
O Enfermeiro é o profissional que cuida da “vida” dos doentes. O Médico trata, o Enfermeiro cuida. Uns não substituem os outros: as funções e responsabilidades acometidas a ambas as classes profissionais são muito distintas.
Com cargas horárias como as acima expostas, o cansaço e a exaustão são inevitáveis. Os Enfermeiros são seres humanos. Têm família. Têm direito ao descanso. Tem direito à dignidade na forma como são tratados. A instabilidade emocional e financeira com que se vêem constantemente
confrontados, acrescida da já referida exaustão por falta de descanso, aumentam a probabilidade de ocorrência de erros.
Mas quem cuida de vidas humanas não pode, não deve errar. A condição humana dos Enfermeiros, por si mesma, já acarreta a possibilidade de errarem. Porque todos os humanos erram.
Contudo, é inadmissível que os exponhamos a uma probabilidade
exponencialmente maior de ocorrência de erros, com consequências imprevisíveis. Os Enfermeiros lidam com as nossas vidas, cuidam da nossa saúde. A minimização da ocorrência de erros impõe-se e é exigível por todos, profissionais e utentes.
O Enfermeiro é o amigo com quem contamos nos nossos momentos de fragilidade no que respeita à nossa Saúde; é ele quem nos estende a mão, nos conforta, nos oferece o seu sorrisoŠ é nele que confiamos para cuidar de nós, o nosso porto de abrigo.
Perguntamos-nos: Como podemos exigir aos Enfermeiros que correspondam a tudo isto, muitas vezes sem os meios necessários, sem descansarem, sem terem tempo para se recomporem após dias e dias de trabalho permanente? Se fossem situações pontuais, os nossos Enfermeiros conseguiriam dedicar-se por inteiro aos seus doentes, porque mesmo que não descansassem num determinado momento, rapidamente conseguiriam recompor-se e retemperar as suas forças.
Mas não são pontuais. São a regra à qual quase inexistente excepção, o que é incomportável. E os nossos Enfermeiros estão esgotados: física, psicológica e financeiramente.
Não há direito. Não é justo.
A Comissão de Utentes Juntos pelo Nosso Hospital vem, desta forma, expressar a sua compreensão pela posição adoptada pelos Enfermeiros, mas também solidarizar-se com ela.
Aos Enfermeiros deixamos uma palavra de apreço, mas também de coragem.
Estamos e estaremos ao vosso lado.
A porta voz da Comissão de Utentes
Ana Voigt