«A escrita a postos» de Júlio Conrado

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Júlio Conrado (n.1936) além de crítico literário é romancista, poeta e dramaturgo. Publica desde 1963 e neste livro da colecção «Ponte Velha» juntou a novela «Era a Revolução» (1977) e a peça de teatro «O corno de oiro» (2009) além de uma selecção de ensaios dos livros «Ao sabor da escrita» (2001) e «Nos enredos da crítica» (2006).
Começando por falar de si («Fiz crítica por puro prazer, sem nunca ter deixado de produzir ficção e até alguma poesia e teatro. Sempre me sussurraram que isso era contra-natura») Júlio Conrado acaba por criticar o trabalho dos lobbys que «criam uma relação espúria entre edição, televisão, jornais, prémios literários, saltando por cima da opinião crítica responsável, suplementos nos jornais onde a literatura é subalternizada pelo cinema, pelas exposições de artes plásticas, pela dança, etc, pouco cuidado e muitos equívocos na promoção de autores nacionais emergentes, racismo de idades, best sellers de nulidades que trabalham na televisão, coisas assim».
A novela «Era a Revolução» parte de uma discordância pessoal («Nós não acreditamos em indivíduos, acreditamos na História») e desenvolve-se no social: «manifestações em cadeia, petardos, tiros, greves, desavenças entre irmãos, ajustes de contas, velhos ódios de súbito acesos». Há por ali (1974-1975) muito oportunismo («O A. Perneta jamais pôs os pés numa assembleia sindical durante os fascismo») mas alguma esperança: «Odeio todos os déspotas. Por isso, os campónios, revejo-os de carabinas melancólicas nas mãos espiando a materialização da esperança – quem se recorda?»
«O corno de oiro» é uma comédia em 3 actos sobre o tema do marido enganado que junta sete figuras saídas de livros: Ana Karenina, Dom Casmurro, Madame Bovary, O amante de Lady Chatterley, Resposta a Matilde, O primo Basílio e Dona Flor e os seus dois maridos. Depois de recolher ensaios sobre John le Carré, Hélder Macedo, Jorge de Sena e Fiama Hasse Pais Brandão, esta miscelânea conclui: «Língua e literatura não são, todavia, batatas. A personalidade europeia conquista-se a partir da sábia gestão das diferenças e não de harmonizações mais ou menos congeminadas por burocratas nos gabinetes de Bruxelas».
(Edição: Escrituras Editora, Organização e prólogo: Florinao Martins, Capa: Carola Trimano, Direcção: Raimundo Gadelha)

José do Carmo Francisco

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