«Quem escreve crónica de jornal aspira sempre a lugar na estante» – sendo um lugar-comum do jornalismo, esta frase aplica-se também às crónicas deste autor, antes publicadas nos jornais «Gazeta do Sul», «Região de Pegões» e «Nova Gazeta». O jornal é frágil e efémero; o livro fica e permanece. Em ambos, o mais importante são as palavras: «A palavra é o veículo mais importante nas relações humanas. Elas exprimem tudo. Elas desmascaram o homem. Elas fazem história».
Seja para um olhar genérico («Sem indústria, sem agricultura, sem aproveitamento do mar, não se augura uma rápida recuperação do país») seja para uma memória pessoal: «Logo após o 25 de Abril fui presidente da Câmara Municipal do Montijo. Não tinha assessores nem secretárias, redigia os meus próprios discursos». Essa memória pessoal permite-lhe criticar o que se passou no Congresso da Comunicações em 28-11-2010: «O ministro das Obras Públicas e o secretário desse ministério leram, cada um a seu tempo, o mesmo discurso, um na abertura e o outro no fecho do evento».
Afinal o passado e o futuro estão mais ligados do que parece: «É necessário ter presente que os velhos são os grandes órfãos. Com o abandono a que muitos estão votados, não só pela família como pela sociedade em geral, não têm pais nem filhos, nem netos nem interesse social. Salvo raras excepções, os velhos não têm ninguém. E isto também explica, em parte, o mundo em que vivemos.»
(Edição: Chiado Editora, Capa: Vítor Duarte, Coordenação: Joana Segura)
José do Carmo Francisco