14.Esperar

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Erri de Luca, ao escrever sobre o tempo do advento, refere que só as mães sabem o que significa, na realidade, o verbo esperar. Sentir com o corpo o tempo da gestação e o seu fim, o nascimento, como a concretização de um tempo de uma ordem infinita. A espera presume o fim, é uma duração. Numa ordem assim, esperar é aproximar do infinito – prolongar a duração.
A duração, nestas condições, já não pode ser nem a consumação do futuro – um pretérito – nem a perseguição de um horizonte, que teima em afastar-se – como o infinito.
Não há limites, não há muros.
Nestas condições, agora, olhamos para um mapa: aí não há horizonte. Um mapa não é infinito e tem limites. Num mapa desenham-se os limites das medidas dos homens e das mulheres. E tem uma escala. Agora, assistimos a uma guerra sem escala e esperamos. Mas não sabemos como se faz para esperar.
Nota de despedida: ao longo de um ano escrevi mensalmente para a Gazeta das Caldas, aceitando um desafio que com gentileza me foi colocado, acompanhado de muita paciência, que agradeço.
Não é um tempo bom para acabar quase nada além da guerra. Precisamos de outros começos.
Um abraço. ■