“A caminho da capital”

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Jorge Sobral
jurista

Na hora da partida, S. Pedro, lembrou-se de nos testar, fazendo cair uma chuva diluviana, que tudo inundou.
Perto da zona de embarque, no terreno da feira semanal, dificilmente saí para apanhar o autocarro nº18. A chuva persistia e não tive outra hipótese que meter os pés a caminho e chegar ao transporte que me estava destinado.
Tenho que confessar que fui assolado pelo pensamento de que estava comprometida a nossa viagem a Lisboa onde íamos chamar a atenção do Governo que não abdicaremos de defender o nosso Hospital.
Molhados, com queixas de inundações em casa, nas garagens, mas prontos para deixar tudo para trás, ficando para o regresso a reparação dos danos causados pelo temporal.
Ao perceber que estavam perfilados mais de trinta autocarros, faltava agora saber se todos marcaram com a sua presença.
Dada a partida, já ninguém se queixava se estavam molhados ou se os sapatos, as meias e tudo o mais se tornaram desconfortáveis.
As conversas passaram a versar a determinação na defesa daquilo que nos levava a capital.
Os decisores têm que entender que o nosso concelho só existe pela relação direta com o bem-estar das populações, pela dádiva que a natureza depositou neste belo local através das águas sulfurosas e curadoras de tantos males. Que por essa razão aqui foi construído o primeiro hospital do mundo.
Como é possível alguém poder querer desconstruir a identidade de uma população?
Tão grave como se este nosso território nos fosse retirado. Ou pudesse ser apagado com os seus.
Senti, um profundo orgulho por mostrarmos que não estamos dispostos a fraquejar, a acomodarmo-nos, e empurrados para soluções de patéticas de contrapartidas.
Nada foi ainda conquistado. Esta determinação não pode aligeirar. Há franjas na fronteira do nosso concelho que sempre foram servidos pelo nosso hospital. Só a Freguesia da Benedita que tem cerca de 9.000 habitantes, sempre foi servida pelos serviços de saúde do nosso concelho e mostram não estar dispostos a deslocarem-se para Leiria que fica a mais do dobro da distância de Caldas. Esta luta tem sido travada com a participação das câmaras de Óbidos e Rio Maior.
Devemos continuar a persistir nesta união, pois as zonas que iriam ser afetadas são destes dois concelhos, assim como do concelho de Alcobaça.
S. Martinho do Porto não deseja passar para Leiria, assim como Alfeizerão, Casal Pardo, Vale de Maceira e Valado de St. Quitéria.
Talvez nos fosse exigido chegar perto destas populações que se sentem confusas, ganhando-as para também elas pressionarem o poder autárquico e central. ■