Edgar Ximenes
professor reformado
Apesar de aposentado, não deixei de me interessar pelas “coisas” da educação e continuo a seguir com muito interesse a qualidade do serviço educativo prestado pelas escolas de Caldas da Rainha e da sua vizinhança próxima.
Precisamente na semana em que foram divulgados os “rankings” das escolas, um artigo de opinião do professor José Santos, publicado na Gazeta das Caldas, chamou-me a atenção e, confesso, gerou-me também alguma perplexidade. Ou não fosse José Santos, nada mais, nada menos que o Diretor do Agrupamento de Escola Josefa de Óbidos, o qual, logo na segunda frase do seu texto, afirma que «As escolas deixaram de funcionar como transmissores de conhecimento».
É uma afirmação programática ou é uma triste constatação?
Se é uma afirmação programática é bastante preocupante. Será que ter «como principal preocupação a realização plena do ser humano» (vide Projeto Educativo 2016-2020 apresentado no site do agrupamento) implica a desvalorização da transmissão de conhecimento?
Será que o caminho mais rápido para realização plena do ser humano é a ignorância embebida em afetos? Talvez, há quem defenda isso, sobretudo os que sempre se sentiram desconfortáveis com o conhecimento. Se não à escola, a quem compete então a transmissão de conhecimento? Ao whatsapp, ao Facebook ou, quiçá, ao TikTok?
Mas se a afirmação do professor José Santos é a constatação de uma realidade ou, talvez, uma espécie de lamento, o caso é ainda mais grave. Mais do que preocupante, é alarmante.
No texto do Projeto Educativo do Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos, bem escrito, recheado de projetos interessantes, com Análise Swot e tudo, mas onde é rara a presença da palavra “conhecimento”, acabei por descobrir a seguinte frase: «Este projeto [Escola Promotora da Saúde] tem em linha de conta o facto de a escola não ser somente um local privilegiado para a transmissão de conhecimentos…» (sublinhado meu). Afinal, o Projeto Educativo até reconhece que, embora não sirva só para isso, a escola tem um papel privilegiado na transmissão de conhecimentos. Sendo assim, alguma coisa está a falhar na prestação do serviço educativo.
Uma coisa é a dificuldade em atrair os jovens para o conhecimento, nomeadamente pelos métodos de ensino tradicionais. A forte concorrência das novas plataformas de disseminação de informação não validada (diferente de conhecimento sistematizado), tornam fundamental a revolução das metodologias pedagógico-didáticas. Mas descartar logo à partida o papel da escola como transmissora de conhecimento, é o caminho mais rápido, não para «a realização plena do ser humano», mas para a ignorância.
Vale a pena relacionar esta problemática com o que nos dizem os “rankings” das escolas. Eles mostram que o fosso entre o ensino público e o ensino privado é cada vez maior, embora nenhum destes setores seja homogéneo. Apesar de tudo, continuam a existir excelentes escolas públicas e péssimos estabelecimentos de ensino privado.
Aposto que nenhum diretor das melhores escolas, sejam públicas ou privadas, se atreveria a declarar que «As escolas deixaram de funcionar como transmissores de conhecimento».
O melhor antídoto contra a falta de equidade é o conhecimento e não a ignorância e o facilitismo que tendem a perpetuar as desigualdades sociais. ■