A mulher grávida e a sua sexualidade

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Gazeta das Caldas

pregnancy-391992_1920Nas culturas ocidentais, durante muito tempo considerou-se que a mulher grávida não deveria ter relações sexuais. No entanto, sendo a sexualidade uma componente básica na vida das pessoas, é claro que esta não pode ser ignorada durante o período da gravidez. Na nossa cultura, e de uma maneira geral, a atividade sexual pode sofrer a influência de uma forte visão cristã. Nesse sentido, para algumas pessoas o sexo ainda é visto como sendo algo imoral ou pecaminoso, enquanto a maternidade assume um carácter divino. Assim, o sexo tem como função básica a reprodução, e o prazer permitido é apenas o de gerar um filho.
Fundamentando-se em algumas crenças e mitos religiosos, algumas ideias pouco científicas surgiram, tais como: a penetração pode magoar o bebé; a ejaculação dentro da vagina pode afogar o bebé; ser mãe é algo sagrado, logo, ter sexo durante a gravidez não é aceitável uma vez que toda a atenção tem que ser dedicada ao bebé.
Deste modo, e até muito recentemente, devido ao desconhecimento do processo da gravidez e alguns preconceitos e tradições, a mulher receava que a atividade sexual prejudicasse o feto. Contudo, o desenvolvimento de alguns estudos sobre a sexualidade feminina durante a gestação tem permitido um melhor esclarecimento destas questões.
A tendência atual dos ginecologistas/obstetras é de recomendar a relação sexual até ao final da gravidez. As relações sexuais só são contraindicadas pelo médico quando a grávida apresenta alguma complicação que ponha em risco o normal decurso da gravidez: sangramento vaginal, placenta prévia, contrações precoces, traumatismo abdominal ou patologias gravídicas específicas.
A fisiologia assegura que biologicamente não existem motivos para recear que o bebé sofra algum dano: o feto encontra-se muito bem protegido no útero, cercado pelo líquido amniótico. O colo cervical, entre a vagina e o útero é outro fator de proteção e, por outro lado, a vagina torna-se mais ácida de forma a destruir impurezas. O orgasmo pode inclusivamente ser benéfico pois as leves contrações que gera estimulam a irrigação sanguínea dos órgãos sexuais auxiliando na preparação para o parto.
Se cientificamente esta questão é muito clara, a verdade é que para a mulher o desejo sexual, durante a gravidez, varia muito e divide espaço com outros fatores.
A forma como a mulher vive a maternidade e o seu relacionamento conjugal, as suas expectativas, a forma como a sexualidade era vivida antes da gravidez, as complicações médicas e as preocupações que poderão surgir durante este período, são fatores que influenciarão esta nova vivência da sexualidade.
Na gravidez a relação a dois passa de facto a ser uma relação a três, uma vez que o casal passa subitamente a ver a sua intimidade ser partilhada por um terceiro membro.
Esta alteração pode ser sentida como um fator de enriquecimento ou, pelo contrário, como uma invasão da sua intimidade. O futuro pai começa a ver a sua companheira como mãe, e uma vez que é proibido ter relações sexuais com a mãe, urge uma tarefa de reorganização psicológica.

Notas Finais
– O apetite sexual por vezes é alterado durante a gravidez, não só por parte da mulher como por parte do homem;
– Cada casal deve proceder segundo o acordado entre si, mas a posição mais indicada é com o par de lado, o que evita peso sobre o ventre da mulher e a introdução será menos profunda;
– Durante uma gravidez normal são permitidas relações sexuais;
– Em caso de abortos espontâneos anteriores assim como perdas sanguíneas atuais são situações que exigem cuidado. Aconselhe-se com um profissional de saúde;
– A sexualidade é essencial ao bem-estar e à felicidade do casal.

Referências bibliográficas
Direcção Geral da Saúde (1993), Orientações Técnicas. Vigilância pré-natal e revisão do puerpério, Lisboa: Direcção Geral da Saúde.
Martins, M.F. (2007), Mitos e crenças na gravidez. Sabedoria e segredos tradicionais das mulheres de seis concelhos do distrito de Braga, Lisboa: Edições Colibri.
Portelinha, C. (2003), Sexualidade durante a gravidez, Coimbra: Quarteto Editora.

 

Maria Helena Junqueira,
Pedro Quintas
Enfermeiros