A semana do Zé Povinho

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passosO primeiro ministro Dr. Passos Coelho teve na última semana o seu momento de glória e de apoteose, especialmente entre os seus correlegionários, apesar das criticas veladas de alguns deles e de um silêncio comprometedor do CDS, para não falar de outras mais acesas da oposição e dos comentadores nas televisões.
Tudo porque uma caldense de nascimento, jornalista e especialista em relações públicas, de nome Sofia Aureliano, lhe dedicou uma biografia autorizada, em que faz a história da sua trajectória desde pequenino e o panegírico da sua ascensão ao poder e da sua trajectória dos últimos quatro anos até ao momento actual.
Se o livro publicado há uma semana, e apresentado oportunamente nas Caldas na passada sexta-feira, esteve no centro dos programas de comentários de todos os canais, provavelmente não foi pelas melhores razões na sua grande maioria.
No entanto, a Zé Povinho interessa-lhe relevar que no centro destas atenções esteve uma caldense. A Dra. Sofia Aureliano saiu das Caldas da Rainha aos 12 anos, mas considera-a a “sua cidade”. Por isso merece este elogio público pois conseguiu do nada construir um livro que se transformou num caso nacional.
Ter construído a partir de histórias menores uma narrativa heróica e histriónica de um actor político que desempenha neste momento um papel central na vida política e social portuguesa, é uma proeza bastante.
Não há dúvida que a sua autora aproveitou bem a experiência da Contra-Informação e da passagem por outras bancadas, para narrar e dramatizar a história do seu líder, quase conseguindo criar a destempo um conflito que punha em causa a aliança formada pelos actuais líderes da maioria assinada uma semana antes.
Podia a caldense ter ficado na História do país por este facto, mas tanto os Drs. Passos como Portas, assobiaram para o lado e esqueceram conflitos recentes que iam deixando o país sem governo. Mas, pelo menos, fica na história do PSD por ter realizado um trabalho que vai ficar nos anais do actual primeiro-ministro.

tintaferreira2Os municípios do Oeste e da Grande Lisboa estão contra a privatização da Valorsul, a empresa na qual foi integrada a antiga Resioeste, e que trata dos lixos produzidos na região, valorizando-os e vendendo-os. Sim, o tratamento de resíduos é hoje uma actividade lucrativa, posto que os restos orgânicos, o plástico, o metal, o papel e outros “lixos” constituem matéria-prima valiosa para várias indústrias e actividades agrícolas.
Esta empresa, que serve 1,6 milhões de pessoas, é cem por cento pública desde a sua criação pois é detida pelo Estado e pelos municípios. E dá lucro. Mais de 12 milhões de euros só nos últimos três anos.
Ora é esta empresa que o governo quer privatizar por razões que só cabem dentro do delírio ideológico neoliberal que lhe é característico.
Mais pragmáticos, os autarcas que estão no terreno não vêem com bons olhos que se entregue um activo que é público a uma empresa privada que, obviamente, irá querer recuperar rapidamente o seu investimento e funcionar numa lógica (legítima!) de maximização do lucro.
Os municípios não querem que os seus munícipes fiquem nas mãos de um monopólio privado, uma vez que não há um mercado aberto neste sector, não havendo escolha possível a não ser aceitar os preços das tarifas que o futuro accionista quiser impor.
Por isso protestam. E vão escrever aos seus munícipes a explicar por que estão contra a privatização.
Todos?
Não.
Há alguns que também estão contra, mas não subscrevem o documento dirigido aos cidadãos. É o caso de Óbidos. O Eng. Humberto Marques só não concorda com os termos do documento. Mas insurge-se contra este processo.
E nas Caldas da Rainha?
O Dr. Tinta Ferreira diz que não é a favor nem contra. Parece não comungar das razões óbvias que levam os seus colegas autarcas oestinos e da zona de Lisboa a protestar contra a perda de um bem público. Ou, se está contra, prefere calá-lo porque os interesses partidários falam mais alto que os dos munícipes. É caso para dizer que, neste particular, é mesmo uma questão de meias …tintas.