A tapioca

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Pela Europa, ao que sei, a uns lembra não só sopa, aos brasileiros lembra um ingrediente muito utilizado na confecção de bolos, tipo os pães de ló das avós; aos mais novos, a quem ensinámos o mundo novo do consumo desenfreado, lembrará uma cadeia de lojas de venda de produtos, cuja relevância nunca percebi, a cadeia do coronel Tapioca, embora a figura da história do Tintim seja de outra patente, general do exército da fictícia Républica de San Theodurus. ”Lembrei-me” da tapioca pelas minhas incursões pela página gastronómica do Diário Vasco. Se há clássico que praticamente desapareceu das cozinhas é a tapioca, embora se possa antever que regresse dada a importância do milho, do cuscús e outras féculas. A sopa de tapioca já foi um clássico em muitas casas. E permanece em algumas. Extrai-se da mandioca, uma raiz, um tubérculo, de enorme importância na alimentação de muitos países da América do Sul, África e Ásia, onde se cultiva. Assegura muitas das necessidades nutricionais de cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo. Utiliza-se em sopa, também em sobremesas e outros pratos salgados. Hoje é corrente ver mandioca em muitos estabelecimentos, mas a tapioca chegou primeiro! Tem um aspecto simples: pequenas pérolas brancas (de diferentes tamanhos) e que ao cozer em água se hidratam e ficam transparentes. Não é cara. A sopa, feita com caldo de galinha (se caseira bem melhor), é do mais nutritivo. Uma das suas características é ser espessa. Por isso, se se vai utilizar numa sopa, há que ter cuidado com a medida pois pode deixá-la demasiado espessa. Absorve os sabores do meio em que se encontra. É muito energética, por isso se utilizava tanto: tem cerca de 85% de hidratos de carbono. Não tem muitos mais elementos, nem proteínas e praticamente nenhuma gordura. Mas é rica em potássio, magnésio, cálcio, ferro, e vitamina B. Sete minutos a cozer é mais que suficiente para estar no ponto. As sopas de tapioca utilizavam-se e utilizam-se para o tratamento de todas os que sofrem de doenças estomacais.
Como curiosidade aqui lhes deixo uma dica: com a tapioca podem confeccionar-se saborosas e crocantes “chips”. Finalmente, e como pequena nota pessoal, um salto ao outro lado do Atlântico, a Terras de Vera Cruz, para, socorrendo-me dos poucos tempos em que vi televisão com a minha filha, ainda pirralha, lembrar uma série “O sítio do Pica-Pau Amarelo” em que uma avozinha daquelas que a todos apetecer ter tido, fazia bolos de tapioca para a merenda da miudagem…

NR – Esta foi a última crónica deste nosso colaborador, que nos foi enviada na passada segunda-feira, poucas horas antes de ter subitamente falecido (23h00).
Desde 22 de Junho de 2012, durante quase quatro anos, foi nosso colaborador regular com a sua coluna  “Zé das Papas”, tendo-nos brindado com mais de 80 crónicas sobre gastronomia.
O funeral estava marcado para a passada quarta-feira, já após o fecho desta edição, em Lisboa onde terá sido cremado.
Gazeta das Caldas lamenta a perda deste nosso colaborador e endereça à sua família os seus sentidos pêsames.