ANNUS MIRABILIS – Notas de viagem

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Faz bem viajar. Quando o fazemos a diferentes locais ou, de tempos a tempos, ao mesmo local, podemos observar as diferenças e reflectir sobre a diversidade e as tendências  deste mundo caleidoscópico. Estive recentemente em três capitais europeias – Roma, Londres e Paris – tendo percorrido diferentes zonas urbanas, das mais ricas e cuidadas às mais pobres e degradadas. Retirei destas visitas algumas notas breves, que partilho com os leitores:

– Esta Europa é cada vez mais diversa e composta por micro-sociedades, determinadas principalmente pela origem nacional e étnico-religiosa, as quais tendem a incorporar as características das sociedades de acolhimento, designadamente em matéria de organização comunitária e civismo, percebendo-se bem onde a cultura é mais consistente e existem políticas sérias de integração e valorização dos imigrantes;
– As populações imigrantes de origem africana, oriental e latino-americana que habitam sobretudo os bairros periféricos e os subúrbios daquelas grandes capitais, vêm preencher o vazio demográfico e laboral originado pela decisão dos nativos europeus de não se reproduzirem suficientemente e de não aceitarem trabalhos difíceis ou mal remunerados (vão-se queixando, mas não abdicam das vantagens que essas escolhas lhes proporcionam);
– Outra fractura clara verifica-se entre aqueles que demonstram uma atitude  dinâmica, inovadora, educada e gentil, e outros (demasiados) que vivem à custa dos que trabalham e criam riqueza, por vias legais ou criminosas, gerando um sentimento crescente de insegurança e hostilidade, com inevitáveis consequências políticas nos planos interno e externo;
– Ao nível da qualidade dos serviços e do atendimento, a realidade é muito semelhante à portuguesa, em alguns casos até com vantagens para a nossa oferta, sobretudo em matéria de hospitalidade, havendo no entanto muito a fazer em termos de eficiência e eficácia para aumentar os índices de satisfação dos clientes, em especial de turistas e visitantes, tanto nacionais como estrangeiros;
-A centralidade dos países que visitei, bem como a sua importância histórica e geopolítica, facilitam claramente o intercâmbio de pessoas e mercadorias, tanto das regiões limítrofes como das mais distantes, o que não significa que, por cá, não possamos fazer muito melhor em termos de internacionalização da economia e captação de turismo estrangeiro, adoptando políticas adequadas, mais eficazes e ambiciosas, baseadas nas nossas tradições e nas nossas naturais, ou construídas, vantagens competitivas;
-O investimento público e privado na cultura (incluindo a gastronomia) é extremamente importante, sendo esta uma indústria poderosíssima em termos do posicionamento internacional dos países e de incremento dos fluxos turísticos e financeiros, sendo indispensável a existência de um programa nacional integrado de grandes eventos com forte poder de atracção, abrangendo as principais cidades do país e muito bem comunicado;
-Finalmente, percebe-se que as diferenças entre Portugal e os outros países europeus (mesmo a nível das cidades periféricas) em termos de qualidade de vida  e realização pessoal e familiar, não são hoje significativas, sendo até comum uma parte da paisagem urbana, com as mesmas insígnias comerciais e de serviços, já para não falar do papel da internet no esbatimento dessas diferenças. Obviamente que continua a ser muito atractiva a ideia de trabalhar em países onde podem ser auferidos maiores salários, desde que os gastos sejam contidos e se sacrifique temporariamente a qualidade de vida à poupança.
Destas breves notas, decorrem várias lições que podemos e devemos aproveitar para desenvolver o nosso país e a nossa cidade. O potencial é enorme, bastando em muitos casos pôr-se mãos à obra, com muito mais criatividade do que dinheiro, compreendendo bem as preferências dos consumidores, agarrando com firmeza as oportunidades, partilhando solidariamente os recursos e cooperando com vantagens mútuas. Nesse processo, devem ser plenamente envolvidos os actuais e futuros imigrantes, integrando e valorizando a crescente diversidade social.

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