Celeste Afonso
diretora cultural executiva
Este fim de semana, de 22 a 24 de setembro, o Património está em festa em mais de 50 países signatários da Convenção Cultural Europeia . As Jornadas Europeias do Património 2023 celebram o Património Vivo.
Coorganizadas pela União Europeia e pelo Conselho da Europa, acontecem anualmente desde 1985 e é um dos eventos culturais mais participado em toda a Europa. Num movimento pan-europeu, mais de 20 milhões de pessoas visitam milhares de sítios raramente acessíveis e participam em eventos únicos.
As JEP são referência na divulgação, valorização e salvaguarda do património europeu. Funcionam como celebração da solidariedade internacional, do diálogo e da diversidade culturais, constituindo momentos de reapropriação dos vestígios culturais do passado. São também uma forma de sensibilizar os decisores europeus para os desafios sociais, políticos e económicos com que o sector cultural se depara.
Se consultarmos o programa das JEP 2023, mais de 70 000 actividades convidam à descoberta de uma herança cultural comum cuja riqueza reside, também, na diversidade. Com mais ou menos criatividade, as propostas reforçam os sentimentos de identidade cultural, de memória colectiva e de afirmação de um património comum.
A nossa região oferece um programa de excelência. Leiria, Alcobaça, Peniche e Caldas da Rainha mostram o seu património de forma disruptiva e/ou convidam à reflexão e à acção cidadã. Vale a pena consultar o site w3.patrimoniocultural.pt e escolher o que ver/fazer e onde.
Infelizmente, se esperou por estas jornadas para ir a Óbidos na esperança de poder visitar património que há muito está vedado ao público, ficará decepcionado. Não há nenhuma actividade nem evento em Óbidos no âmbito do Património Vivo, JEP 23! Sem fazer piada fácil, há muito que o Património está moribundo. As últimas notícias sobre a Quinta das Janelas e as águas termais ufanam um empreendimento turístico de excelência mas em nenhum momento se refere o que vai acontecer com Eburobrittium, a cidade romana.
Eburobrittium pode ser a âncora para uma nova estratégia turística, em Óbidos, que lhe descole os rótulos “massificação” e “turisficação”. O facto de estar em propriedade pertencente à Associação Nacional de Farmácias sempre dificultou um plano de intervenção na Cidade Romana. Agora que a Quinta das Janelas tem novos proprietários, espero que o actual executivo tenha sabido acautelar Eburobrittium, um património de valor excepcional que há muito reclama ser “Património Vivo”. ■