Com o verão finalmente a entrar em força no calendário e nos termómetros, o país da geringonça lá vai avançando rumo à normalidade, contra as piores expectativas e previsões dos profetas da desgraça. O governo socialista tem-se esforçado, há que dizê-lo com sinceridade, para devolver substância ao substantivo, perdoe-se o pleonasmo. Os indicadores económicos e sociais vão no bom sentido, há alguma confiança na população que sente um ânimo diferente. O país respira tranquilidade e olha para a europa para ver o que vai acontecer a seguir. Todo o país? Não. Algures no Oeste há um enclave que resiste a este sentimento colectivo.
Desta vez não escrevemos sobre as tristes misérias caldenses a que não deixaremos de voltar. Escrevemos sobre um território próximo, vizinho, que numa escala regional também sentimos como nosso. Um território donde parece que as instituições nacionais, aquelas que nos dão sentido e coesão como país parecem ter desaparecido para parte incerta. Não escrevemos sequer sobre Peniche ou a Marinha Grande, dois municípios que nos recordam a cada eleição que mesmo no distrito de Leiria há ainda territórios onde a esquerda respira saúde. Por razões históricas fundas, a que as novas realidades sociológicas e sobretudo a consciência acrescida nas populações das malfeitorias da direita portuguesa vieram trazer novo sentido nos anos mais recentes. Não. Hoje escrevemos, com mágoa, sobre um município de maioria e Câmara Municipal socialista – onde esta maioria, conquistada à direita, tem servido para tentar despedir funcionários, além dos habituais números de marketing político. Num território litoral e piscatório onde tradicionalmente a esquerda tem uma implantação significativa, elege-se uma Câmara Municipal “socialista” depois de anos e anos de regabofe económico-financeiro da direita, e assim que chega ao poder desata a despedir funcionários. Para vergonha de todos os seus camaradas e de todos o que conhecem o significado da palavra socialismo. Longe vão os tempos em que nenhum secretário-geral do PS ganhava uma eleição nacional sem passar pela Nazaré para dar um animado pé-de-dança com as peixeiras. A Nazaré actual está entregue a pseudo-socialistas com o desejo lascivo de governar como a direita. Um filme já visto, e com muito maus resultados. Quem não se lembra do PS socrático, não do PS filosófico mas daquele das engenharias manhosas. É este PS que ainda existe por aÍ, pelos vistos, em algumas autarquias. Composto por autocratas invés de autarcas, gente que julga estar acima da lei. Pessoas que pensam que podem ignorar uma ordem de um tribunal que ordenou a reintegração dos trabalhadores nos seus postos de trabalho.
O caso é mais bicudo do que parece à partida: estamos perante uma autarquia que entende ignorar – mais, entende desrespeitar, uma ordem judicial. Estamos perante uma nova espécie de neo-feudalismo onde cada presidente de câmara passa a ignorar as instituições nacionais, nomeadamente o poder judicial e passa a governar impunemente a seu bel-prazer, fazendo o que quer e bem lhe apetece. Seja por que via for, este caso só pode ter um desfecho exemplar. O Estado enquanto entidade que representa todos os cidadãos não pode ser posto em causa desta maneira. É preciso recordar a estes socialistas de contrafacção que as decisões dos tribunais são para cumprir. E que o incumprimento, para um autarca, implica perda de mandato. É preciso recordar-lhes também que o original é sempre preferível à cópia e que para governarem como a direita talvez fosse preferível lá estar a direita. A Nazaré é um bom exemplo de uma autarquia onde é preciso acabar com a alternância ou o arco da governação.