O CACHECOL DO ARTISTA | Plurais, como o Universo

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notícias das Caldas

Nas duas últimas crónicas trouxemos a esta coluna o tema dos sem-abrigo na cidade, nomeadamente, nos prédios devolutos em frente à EDP, numa zona que se chamava  antigamente a Quinta do Padre.

Trouxemos este assunto à colação com algum sentimento de isolamento, senão mesmo solidão, perante um ruidoso silêncio à nossa volta, e eis senão quando é o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ele próprio, a visitar os sem-abrigo nas ruas e em centros de acolhimento, terminando uns dias depois a tomar uma refeição em casa de um casal que há pouco tempo se encontrava nessa condição e hoje, aparentemente, tem uma vida mais normalizada. Quando escolhemos o que tratar nestas crónicas nunca fazemos bem ideia com quem vamos acompanhar. E de repente senti-me bem acompanhado por Marcelo Rebelo de Sousa, que neste primeiro mandato tem revelado que a vocação natural para estar com o povo não se esgotou na exploração da sua popularidade televisiva, em campanha eleitoral. Bem disse o PR nessa altura que este é um tema que atingiu proporções exageradas e é preciso inverter caminho, em direcção a uma sociedade mais justa e com menos desigualdades. Venham lá essas políticas que acompanhem este discurso socialista do PR. Que venham do estado central, sim, mas que as autarquias não fiquem apenas numa expectativa passiva, mas pelo contrário, tomem iniciativa e desenhem respostas de inclusão e projectos de habitação social. Casas vazias, nas Caldas da Rainha e por esse país fora, é o que não falta. Havendo os recursos e a necessidade, faltam as políticas.
São assuntos como estes que devem merecer a atenção dos munícipes num ano de eleições autárquicas. Tentarmos perceber porque é que há pessoas sem-abrigo? Serão vítimas da fatalidade, ou terão sido algumas opções políticas, do estado ou das autarquias, ao longo de décadas, que as terão levado à pobreza? E porquê tantas casas vazias? Onde é andou o planeamento urbano? Porque é que se autoriza tanta construção? O que fazer, p.ex., dos prédios inacabados da Quinta do Padre? Tal como os prédios em frente à estação dos comboios, que estiveram ao abandono anos e anos, estes que são o cartão de visita da cidade para quem entra a Sul, devem ter uma solução. Ou serem demolidos. A CMCR deve ser pró-activa na procura da solução, ou assumir o erro urbanístico e assumir a sua demolição.
Umas eleições autárquicas são um momento alto da nossa democracia e da nossa vida cívica. Neste acto eleitoral participam nas listas dos partidos, por todo o país, muitas centenas de milhares de cidadãos como candidatos aos diferentes órgãos, da Assembleia de Freguesia à Assembleia Municipal, passando pela Câmara Municipal, o mais disputado de todos e onde reside efectivamente o poder executivo e os meios para transformarem as vidas de todos nós. Este período pré-autárquico é assim uma fase interessante para a participação cívica e para a vivência democrática, em que os cidadãos estão mais atentos e mais disponíveis para o debate e o envolvimento directo na vida das suas comunidades.  No BE também já demos início a este processo, desencadeando um debate interno entre simpatizantes e aderentes que vai definir os contornos do programa a apresentar. Este é um processo aberto em que nem sempre estamos de acordo, mas em que a preocupação central é que o debate nos conduza às melhores propostas para a vida das populações em cada lugar que concorremos. É um processo que revela muito do que é a pluralidade de perspectivas que se podem encontrar num partido, tantas vezes enroupadas em algumas idiossincrasias que revelam fortes personalidades e algum “pelo na venta”. São diferenças que não nos diminuem, pelo contrário acrescentam-nos.