Jorge Mangorrinha
ex-vereador da Câmara das Caldas da Rainha
Imaginemos que Caldas da Rainha tem um desígnio até 2027 – ano do centenário de elevação a cidade – para voltar a ser uma cidade verdadeiramente turística e termal.
Neste contexto, é necessária uma convergência para encontrar a matriz fundamental para estruturar uma atuação estratégica de desenvolvimento, estejamos a falar da escala setorial, como o turismo e mais particular o termalismo, ou no contexto mais abrangente da região e de outros setores de atividade. Este caminho é feito de desafios, potenciando as qualidades dos recursos imateriais e materiais e as condições de exceção que o território oferece. Para que um desafio destes se torne num projeto de sucesso, necessita de uma motivação coletiva por parte dos seus atores (políticos, gestores, comunidade educativa e científica e população) e um governo da cidade forte.
Reconheço que o conhecimento, a imaginação, a criatividade e a inovação poderão dar a volta aos tempos difíceis que, ciclicamente, sempre afetaram as termas portuguesas, bem como às dificuldades atuais relacionadas com o seguinte:
A pouca adesão e prescrição da classe médica;
O poderio dos laboratórios farmacêuticos;
A escassa comparticipação do Estado na estada termal dos portugueses.
Em termos locais, creio ser ainda possível que Caldas da Rainha reforce, decidida e criativamente, a sua condição de “Património das Águas” e de “Cidade Aberta ao Mundo”, tal como defendi no exercício autárquico, já lá vão duas dezenas de anos do seu início, mas os sinais desta nova governação local, em exercício até 2025, não vaticinam os passos necessários. Oxalá que me engane!
No contexto político atual das Caldas da Rainha, até 2027, deveríamos ter 5 anos para salvaguardarmos patrimónios, com intervenções e usos certos, ou seja, que fossem convergentes com o pulsar dos especialistas e dos cidadãos esclarecidos. Deveríamos ter 5 anos para construirmos e consolidarmos um novo balneário de raiz de referência internacional, já que o corredor a abrir no Hospital Termal é escasso para as expetativas. Deveríamos ter 5 anos para se ganhar a confiança, também e essencialmente, da parte dos caldenses e de quem visita a cidade e passa a palavra.
A memória e a capacidade de abertura, inovação e de gestão do futuro são o caminho. Mas se uma cidade não tiver objetivos estratégicos a médio e a longo prazo, para os quais se mobilizem vontades políticas e cidadãs e meios financeiros planificados, esgotará todos os seus recursos como uma manta de retalhos e reduzirá o próprio sentido de pertença da sua comunidade. Note-se que na passada campanha eleitoral o candidato vencedor foi absolutamente vago e nunca se referiu ao Plano Estratégico em vigor, o que denota uma ausência de foco naquilo que há de mais essencial. Para que serve, então, o planeamento estratégico?
Como setor estratégico, as termas não devem ser vistas, apenas, a uma escala de um balneário, mas, sim, de um território, que tem marcas dos tempos, que tem espaços diversos de terapia, que tem pessoas que nos procuram e que tem os seus próprios cidadãos a quem se devem incutir as possibilidades terapêuticas, económicas e culturais do termalismo e do turismo de saúde e bem-estar.
Na minha opinião, urge a constituição de uma comissão para as comemorações, tendo como objetivo não só o de comemorar e honrar o passado da cidade como também dar um contributo para se devolver às Caldas da Rainha o estatuto de “Cidade Termal”. Isto seria importante mesmo com uma governação esclarecida e ambiciosa, pelo que ainda mais se justifica com uma governação frágil e responsável por erros e desmandos em áreas sensíveis da cidade, porque pior do que errar é não reconhecer o erro. ■